E se a tarifa de 50% vier mesmo?
Lula tem que ser bem mais claro em sua intenção de negociar a tarifa com o Hulk americano se quiser o melhor para o Brasil

E se Trump de fato implementar a tarifa de 50% contra produtos brasileiros, dia 1º de agosto? Conversando com alguns agentes do mercado financeiro, a impressão que eles tem é que, apesar do aparente otimismo refletido nos números da nossa taxa de câmbio, com o dólar negociado na casa dos 5,53, o desfecho não deverá ser bom para o Brasil.
Um cenário traçado cada vez mais realista é que os 50% virão e Trump deverá observar com lupa a reação do governo brasileiro. Se houver um movimento por entendimento, as negociações, hoje praticamente inexistentes no alto escalão, poderão de fato ganhar impulso.
Lula, entretanto, tem limitadas oportunidades de atender algumas demandas de cunho político citadas por Trump, sobretudo as relacionadas ao julgamento de Bolsonaro no STF. Mas se o debate for realmente sobre questões comerciais, como protecionismo, reserva de mercado e até legislação brasileira restritiva que hoje afetaria negativamente empresas americanas como as Big Techs, pode haver mais espaço para um acordo.
Por outro lado, que se o Brasil retaliar recorrendo à lei de reciprocidade e aplicar tarifas ou quebrar patentes, propriedade intelectual, direitos autorais, o economista Jason Vieira teme que levaria fatalmente a uma escalada imediata dos EUA: "eles podem dobrar a tarifa para 100% e, quem sabe, aplicar outras sanções mais abrangentes, impactando acordos comerciais com empresas e outros países."
Para o Brasil, na prática, parece que resta não escalar a tensão diante da tal tarifa que, ao que tudo indica, virá. As possibilidades de negociação passam, necessariamente, pelo presidente ser mais ativo nessa sinalização positiva. Não é ele que se vende como um grande negociador internacional?
Não adianta nossos congressistas, empresários, embaixadores, diplomatas, ministros e até o vice-presidente procurarem um entendimento se o líder maior, Lula, manda sinais contrários e antagoniza Trump em discursos e entrevistas.
Diferente das negociações com outras dezenas de países, aqui há fortes componentes políticos: a vocalidade de Lula contra os EUA e Trump, seus ataques ao dólar em prol da tal moeda comum dos Brics (que escrevi aqui), a questão do protagonismo de Moraes no debate de liberdade de expressão nas redes sociais e até o julgamento de Bolsonaro, que me parece incluída para aproveitar o embalo.
Negociar com os EUA de Trump, nesse cenário, é como dançar com o Hulk: ele escolhe a música e dita o ritmo. E se quiser sair inteiro da pista, o Brasil precisa saber quando ceder e quando resistir. Isso não é submissão, é estratégia.
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