Deputado era tratado como ‘amigo’ por advogado-lobista
Alvo de buscas da Polícia Federal nesta segunda-feira, 21, por suspeita de receber propina para blindar ex-dirigentes dos fundos de pensão da Petrobras e dos Correios em uma CPI na Câmara, o deputado federal Sergio Souza (foto), do MDB, era tratado como “amigo” por um advogado e lobista investigado por interferir nos trabalhos da comissão....
Alvo de buscas da Polícia Federal nesta segunda-feira, 21, por suspeita de receber propina para blindar ex-dirigentes dos fundos de pensão da Petrobras e dos Correios em uma CPI na Câmara, o deputado federal Sergio Souza (foto), do MDB, era tratado como “amigo” por um advogado e lobista investigado por interferir nos trabalhos da comissão. Souza era o relator da CPI.
Na representação da Polícia Federal que deu origem à Operação Grand Bazaar, os investigadores incluem entre as 88 páginas trechos de diálogos de Whatsapp entre o lobista Milton Lyra, investigado por suspeita de operar para o MDB nas fraudes de fundos de pensão de estatais, e o advogado Marcos Joaquim, aliado do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e apontado como o principal intermediador entre os suspeitos de irregularidades nos fundos e o deputado Sergio Souza. O parlamentar poupou Lyra no relatório final da CPI dos Fundos de Pensão, instaurada em 2015 e que poupou Lyra.
Na noite de 23 de setembro de 2015, Lyra procura Marcos Joaquim para relatar que recebeu uma mensagem indicando que a CPI poderia votar no dia seguinte um requerimento para convocá-lo. “Não deveria, vou atrás”, respondeu Marcos Joaquim. No dia seguinte, os dois retomam o diálogo, e Joaquim faz referência ao “amigo” que, segundo a PF, era o deputado emedebista.
“Bom dia”, diz Lyra. “Olá”, responde Joaquim. “Tudo sob controle?”, indaga o lobista. “Sim, o meu amigo está na linha de frente. Muita pressão, se votar não convoca”, afirma Joaquim que en seguida recebe um “ok” de Lyra.
Ao se debruçarem sobre os autos da CPI, encerrada em 2016, os investigadores constataram que não só Lyra não foi convocado para depor como nem ele nem os ex-dirigentes do Petros e da Postalis, Wagner Pinheiro e Antonio Carlos Conquista, também alvos da Operação desta segunda, foram responsabilizados no relatório final da comissão.
Em outra conversa de WhatsApp, no dia 2 de setembro, Milton Lyra conversa com Marcos Joaquim sobre uma reunião na qual os dois teriam tratado da CPI. “Ele gostou muito de vc, e da reunião, ficou muito confortável e seguro. Abraço”, afirmou Lyra, fazendo referência, segundo a PF, ao seu sócio e também investigado Arthur Machado. “Vamos trabalhar. Salvo por enquanto, mas Adilson (Florêncio da Costa, diretor financeiro do Postalis de 2005 a 2017)....já era”, respondeu o advogado indicando que não conseguiria ajudar todos os envolvidos.
A conversa segue, e Lyra pergunta: “O Alexandre te ligou?”. “Sim. Ele vem aqui”, responde Marcos Joaquim. O lobista então comenta: “Só não entendi o por enquanto”. “Nunca sabemos o dia de amanhã, enquanto a CPI não acabar, tudo será guerra”, segue Joaquim. Para a PF, os diálogos reforçam as suspeitas levantadas em outras investigações e também na delação premiada de Lúcio Funaro, que atuava como operador financeiro no esquema de fraudes em fundos de pensão e relatou às autoridades um acerto envolvendo Marcos Joaquim, Milton Lyra, Sergio Souza e Arthur Machado.
Na versão de Funaro, teria sido acertado o pagamento de 9 milhões de reais ao parlamentar para blindar os empresários e os ex-dirigentes dos fundos de pensão. A PF conseguiu rastrear pagamentos de 3,2 milhões de reais a Marcos Joaquim e a um ex-assessor de Sergio Souza.
Além dos diálogos, a PF compilou no pedido informações de outras investigações sobre fundos de pensão realizadas em quatro estados, além de depoimentos de operadores e doleiros que atuaram no episódio e firmaram acordo de colaboração com os investigadores. Essas testemunhas confirmaram as entregas de dinheiro para Marcos Joaquim — segundo a PF, os valores teriam sido destinados depois a Sergio Souza — e para o ex-assessor do deputado.
Em nota divulgada nesta segunda, Sergio Souza afirmou estar "tranquilo" em relação à operação e que "trabalhou com afinco para produzir resultados efetivos" na CPI dos Fundos de Pensão. Já o advogado Marcos Joaquim disse que "sempre esteve à disposição das autoridades com total lisura e transparência". A defesa de Arthur Machado, por sua vez, afirmou que ele não cometeu crime nenhum e que é "vítima de mais uma investida das autoridades persecutórias, que não se cansam de molestá-lo".
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Comentários (10)
Uira
2019-10-28 20:50:35É possível se fazer um trabalho de base para que ele forneça a fundação para uma nova era mais tecnológica da Lavajato e do combate à corrupção, é colocar a inteligência a serviço da transparência e da justiça.
Uira
2019-10-28 20:48:50O sigilo advogado-cliente não se aplica para comunicações entre advogados e magistrados. Se há práticas criminosas envolvendo magistrados e advogados, então qq comunicação entre deveria ser objeto de análise, uma vez que há claro conflito de interesses. Será que o próximo passo dos CORRUPTOS é impedir que se tenha acesso aos dados das operadoras de telefonia e desenvolvedoras de aplicativos de msgs?
Uira
2019-10-28 20:46:40Em resumo, antes de se pedir a apreensão de celulares e quebra de sigilos telemáticos, é possível se obter dados, seja junto às operadoras telefônicas, seja junto aos aplicativos de msg, das trocas de msgs tendo-se como ponto de partida um CORRUPTO, a partir destas informações é possível se mapear a rede toda e determinar a intensidade do fluxo de comunicações, robustecendo as apreensões e quebras de sigilos telemáticos.
Uira
2019-10-28 20:43:47Será que não se descobrirá que em vésperas de decisões não há uma intensificação das comunicações (não só aplicativos de msgs) entre ministros e seus prepostos com representantes dos escritórios? Se uma msg sai de um celular, então ela tem que ser direcionada para vários destinos (no caso de grupos de msg) ou para um único destino. Não é só na quebra do sigilo telemático que se pode obter uma profusão de evidências e práticas criminosas.
Uira
2019-10-28 20:41:33Uma vez que os CORRUPTOS estão sendo deixados livres e instigados a chafurdarem na lama, é razoável supor que o que não vai faltar em aplicativos de msgs são conversas espúrias e práticas de crimes. Aliás, se for possível se cruzar dados de escritórios de advocacia com causas em tribunais superiores e a intensidade das trocas de msgs entre ministros destes tribunais com advogados destes escritórios, que tipos de padrão não surgirão.
Uira
2019-10-28 20:37:29Por exemplo, quantas msgs Gilmar trocou com Renan Calheiros só no mês de outubro. Tirando as relações de parentesco, com quem foi que Gilmar mais trocou msgs? Só a relação de trocas de msgs entre dois indivíduos já poderia ser suficiente para demonstrar que há um vínculo entre eles e que há um claro conflito de interesses, e isto sem nem ao menos se tocar no conteúdo das msgs trocadas. Aplicativos de msgs são uma verdadeira mina de ouro.
Uira
2019-10-28 20:35:31Não só isto, tb é possível se saber a intensidade dos fluxos de informação nestas verdadeiras REDES DE CORRUPÇÃO pela quantidade msgs, tudo isto sem se quebrar o sigilo telemático dos envolvidos. Com estas informações em mãos, é possível então se inferir onde estão as evidências e ir atrás delas, começando por aquelas que podem ser obtidas de forma indireta e sem recorrer à mandados judiciais. A partir daí passa então a ser possível de ser avançar munido para solicitar mandados judiciais.
Uira
2019-10-28 20:33:02Se é possível saber com quem Gilmar Mendes troca msgs, então é possível inferir disto onde há abundância de provas para colocá-lo de uma vez por todas por trás das grades. As msgs do Whatsapp e de outros aplicativos são criptografadas, mas cada contato representa um endereço destinatário de uma msg, mesmo que não se saiba o conteúdo das conversas, é possível se estabelecer a rede de cada CORRUPTOS somente com base nos receptores das msgs que eles enviaram.
Uira
2019-10-28 20:30:17Uma vez que o tempo está sendo utilizado a favor de se permitir que os CORRUPTOS chafurdem ainda mais na lama, não só é possível se fazer pressão nos pontos certos para obrigar os CORRUPTOS a se mexerem, mas tb seria possível monitorar as atividades deles para deduzir os rastros deles. Por exemplo, com quais advogados será que Gilmar Mendes troca msgs frequentemente? Qq um é capaz de inferir que tipos de conversa Gilmar Mendes teria com advogados de CORRUPTOS.
Uira
2019-10-28 20:27:56É importante que se tenha em mente que cada ação para expor os CORRUPTOS tb serve para que eles tenham que se movimentar e gerem provas contra si mesmos. Mesmo que não seja possível se saber o conteúdo das msgs trocadas, com base na rede de cada CORRUPTO e com dados de telefonia, certamente é possível saber com quem cada CORRUPTO troca msgs. Com isto, é possível se saber de antemão onde é possível se encontrar evidências que comprovem as atividades criminosas dos CORRUPTOS.