Delação de Mauro Cid detalha o momento da tentativa de golpe
Ex-ajudante de ordens narrou as reuniões em que o ex-presidente conversou com os chefes das Forças Armadas

A delação do ex-assessor de ordens Mauro Cid, que teve o sigilo quebrado nesta quarta, 19, pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, descreve em detalhes o momento em que o então presidente Jair Bolsonaro apresenta uma minuta de golpe aos comandantes das Forças Armadas, em novembro de 2022.
De acordo com Cid, "pessoas se encontravam com o presidente, esporadicamente, com a intenção de exigir uma atuação mais contundente do então presidente".
Uma dessas pessoas seria Filipe Martins, ex-assessor internacional do ex-presidente e "ligado à área mais ideológica".
Martins vinha sempre acompanhado de um jurista, que Mauro Cid não conseguiu lembrar o nome.
Esse jurista teria escrito livros sobre "garantias constitucionais".
Em um dos encontros, o jurista foi acompanhado de um padre.
Foram mais de dois encontros.
Em um deles, "esses juristas apresentaram um documento ao presidente Jair Bolsonaro, no Palácio da Alvorada".
O tal documento tinha vários "considerandos", como também afirma a denúncia da Procuradoria-Geral da República.
O decreto determinava a prisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
Eles seriam, segundo Cid, autoridades que de "alguma forma se opunham ideologicamente ao ex-presidente".
O decreto também convocava novas eleições.
O documento "não dizia quem iria fazer, mas sim, o que fazer".
Ainda segundo Mauro Cid, o "ex-presidente recebeu o documento, leu e alterou as ordens, mantendo apenas a prisão do ministro Alexandre de Moraes e a realização de novas eleições devido a fraude no pleito".
Mauro Cid afirmou que ficou sabendo do documento quando Filipe Martins mostrou a ele o texto impresso e de forma digital para que fossem feitas as correções.
Filipe Martins tinha uma versão digital do documento em seu notebook, que levou para a reunião.
O ajudante de ordens afirmou que Filipe Martins, mais tarde, retomou com o jurista trazendo o documento alterado conforme solicitação do ex-presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Alvorada.
"O presidente concordou com os termos ajustados e em seguida mandou chamar, no mesmo dia, os generais, comandantes das Forças. Participaram o almirante Garnier (Santos), (o general) Freire Gomes e o brigadeiro Batista Júnior", diz a delação.
Na nova reunião, "o presidente apresentou apenas os 'considerandos' (fundamentos dos atos a serem implementados) sem mostrar as ordens a serem cumpridas (prisão do ministro Alexandre de Morase e a realização de novas eleições)".
Na reunião com os generais, em que Mauro Cid esteve presente e ajudou na apresentação do computador, Filipe Martins explicou cada um dos itens.
"O ex-presidente queria pressionar as Forças Armadas para saber o que estavam achando da conjuntura, queria mostrar a conjuntura do país", afirmou Cid.
Mauro Cid então saiu da sala e não participou do restante da reunião.
Mas diz que soube do conteúdo do restante por meio do general Freire Gomes.
"O ex-presidente apresentou o documento aos generais com o intuito de entender a reação dos comandantes das Forças em relação ao seu conteúdo. O almirante Garnier, comandante da Marinha, era favorável a uma intervenção militar. Afirmava que a Marinha estava pronta para agir. Aguardava apenas a ordem do ex-presidente Jair Bolsonaro. No entanto, o almirante Garnier condicionava a ação de intervenção militar à adesão do Exército, pois não tinha capacidade sozinho. O brigadeiro Batista Júnior, comandante da Aeronáutica, era terminantemente contra qualquer tentativa de golpe de Estado. Afirmava de forma categórica que não ocorreu qualquer fraude nas eleições presidenciais. O general Freire Gomes era um meio-termo dos outros dois generais. Ele não concordava como as coisas estava sendo conduzidas. No entanto, entendia que não caberia um golpe de Estado, pois entendia que as instituições estavam funcionando. Não foi comprovada fraude nenhuma. Não cabia às Forças Armadas realizar o controle constitucional. (Freire Gomes) dizia que estavam 'romantizando' o art. 142 da Constituição Federal. Dizia que tudo que acontecesse seria um regime autoritário pelos próximos 30 anos, decorrente de um golpe militar", declarou Mauro Cid.
Foram várias as reuniões entre Bolsonaro e os generais, de acordo com o delator.
O ex-presidente Bolsonaro, segundo Cid, não queria que o pessoal saísse das ruas e tinha certeza que encontraria uma fraude nas umas eletrônicas. Por isso, "precisava de um clamor popular para reverter a narrativa".
Duas hipóteses
O ex-presidente estava trabalhando com duas hipóteses: a primeira seria encontrar uma fraude nas eleições.
A outra, por meio do grupo radical, encontrar uma forma de convencer as Forças Armadas a aderir a um golpe de Estado.
"Como não teve apoio dos comandantes do Exército e da Aeronáutica, a proposta de Filipe Martins não foi executada", afirmou Mauro Cid.
Ele também disse que acreditava que o ex-presidente não assinaria o documento com os "considerandos".
Mauro Cid também fala de um grupo mais amplo, que conversava frequentemente com o ex-presidente, "instigando-o a dar um golpe de Estado".
Esse grupo incluía Onix Lorenzoni, o senador Jorge Seif, o ex-ministro Gilson Machado, o senador Magno Malta, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, o general Mario Fernandes e a primeira-dama Michele Bolsonaro.
Eles "afirmavam que o ex-presidente tinha o apoio do povo e dos CACs para dar o golpe", afirmou Cid na delação.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (1)
Amaury G Feitosa
2025-02-20 18:52:10Vendo os depoimentos do covarde CID (o grande El Cid treme no túmulo) fica claro falou sob ameacas inclusive a sua familia talvez o real motivo que transformou um homem de caráter num triste rebotalho humano indigno de si e da instituição que por omissão ou servilismo desonrou verdade ou narrativa fabricada obrigado a digerir o mais provavel ... Cid você sabe bem que um homem de caráter morre mas não se dobra tão covardemente, você não é mais nada e apenas digno de pena ... Stálin o Zeus dos seus algozes mais piedoso teria te dado uma arma para morrerei com alguma dignidade, mas morto você está