Com Adriano Pires, Arthur Lira e Centrão voltam a ter influência na Petrobras
Indicado por Jair Bolsonaro para a presidência da Petrobras, o economista Adriano Pires sempre teve bom trânsito no meio político, especialmente entre lideranças do PSDB e do DEM. Ele é crítico da política de preços adotada pela Petrobras nos governos do PT -- e que, agora, alguns aliados do presidente da República sonham em ressuscitar...
Indicado por Jair Bolsonaro para a presidência da Petrobras, o economista Adriano Pires sempre teve bom trânsito no meio político, especialmente entre lideranças do PSDB e do DEM. Ele é crítico da política de preços adotada pela Petrobras nos governos do PT -- e que, agora, alguns aliados do presidente da República sonham em ressuscitar para tentar conter os preços dos combustíveis em pleno ano eleitoral.
No ano passado, Pires se aproximou de importantes lideranças do Centrão, como o presidente da Câmara, Arthur Lira, e os deputados baianos Elmar Nascimento, da União Brasil, e João Carlos Bacelar, em torno de interesses em comum na privatização da Eletrobras. Logo depois da aprovação da venda da estatal, com jabutis defendidos pelo Centrão e pelo próprio Pires, Lira intensificou as articulações para a queda do general Joaquim Silva e Luna do comando da Petrobras. A destituição de Silva e Luna será formalizada pelo Conselho de Administração da estatal, no qual Bolsonaro tem maioria garantida, no dia 13 de abril.
Os interesses de Adriano Pires e de parlamentares do Centrão convergiram, em 2021, em torno da defesa de emendas apresentadas no âmbito da privatização da Eletrobras. Criticados pelos maiores especialistas em energia do país, os dispositivos inseridos na medida provisória e finalmente aprovados, com o empenho da base aliada do governo, beneficiaram termelétricas a gás e representaram um forte impacto na conta de luz dos brasileiros.
Os tais "jabutis" impuseram a obrigatoriedade de contratação dessas termelétricas, de custo altíssimo e viabilidade duvidosa. Parlamentares de oposição apontaram, à época, a atuação nos bastidores do megaempresário baiano Carlos Suarez, fundador da OAS e dono de um império no setor de distribuição e transporte de energia no país. Adriano Pires, cujos trabalhos de consultoria costumam ser bem alinhados aos interesses das empresas do setor de energia, foi um dos únicos especialistas de renome a defender publicamente as emendas durante o processo de privatização da estatal.
Nos últimos anos, Adriano Pires, que é sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura, passou a ser visto no setor elétrico como um forte defensor dos interesses do segmento de gás natural. Na imprensa e em sites especializados, o economista publicou dezenas de textos em defesa do setor, que também conta com o lobby dos caciques do Centrão. A Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado, por exemplo, mantém em seu site uma compilação de artigos de Pires favoráveis aos interesses do segmento.
Com o respaldo técnico de Adriano Pires e com a articulação do Centrão e de parlamentares bolsonaristas, o Congresso aprovou a obrigatoriedade de implantação de termelétricas inflexíveis, como são chamadas as usinas movidas a gás natural de funcionamento contínuo. Com atividade ininterrupta, elas geram demanda capaz de justificar a construção de gasodutos, estruturas de custo bilionário e um dos focos de interesse do megaempresário Carlos Suarez – o baiano tem licenças de distribuição em unidades da federação em que o gás encanado ainda não decolou, principalmente no Norte e no Centro-Oeste. Com as termelétricas, virão os gasodutos e, consequentemente, a possibilidade de alavancar essas empresas.
Não significa, obviamente, que os esquemas do passado recente irão se repetir. Mas é certo que, em razão da proximidade de Pires com Lira e companhia, pela primeira vez após sete anos da deflagração da primeira etapa da Lava Jato, os caciques do Centrão voltarão a ter bom trânsito na cúpula da Petrobras.
Nunca é demais lembrar que foi justamente sob o comando de apadrinhados do partido de Lira e Ciro Nogueira, que durante o governo do PT a Petrobras esteve no centro do bilionário petrolão, o maior escândalo de corrupção da história do país. As investigações tiveram início com suspeitas de corrupção envolvendo o então diretor Paulo Roberto Costa, que comandou a área de abastecimento da estatal entre 2003 e 2013. Costa era indicado do Progressistas.
A pressão de Lira
Nos últimos seis meses, coube a Arthur Lira fazer pressão pública pela saída do general Joaquim Silva e Luna do cargo de presidente da Petrobras. De olho na estatal, o presidente da Câmara e líder do Centrão fez críticas sistemáticas ao militar em eventos ou pelas redes sociais.
“Me causou espanto a insensibilidade da Petrobras com os brasileiros, os verdadeiros donos da companhia. O aumento foi um tapa na cara de um país que luta para voltar a crescer”, afirmou Lira, após o reajuste anunciado no último dia 10.
Os ataques de Lira contra Silva e Luna e outros diretores da estatal se intensificaram a partir de setembro do ano passado. À época, o presidente da Câmara articulou a convocação do general. “A Petrobras deve ser lembrada: os brasileiros são seus acionistas”, disse à época.
Duas semanas depois, Lira voltou sua artilharia para Cláudio Mastella, diretor executivo de Comercialização e Logística da Petrobras. “Tenho certeza de que ele é bem pago para buscar outras soluções que não o simples repasse frequente”, criticou. Em outubro do ano passado, o presidente da Câmara defendeu até a venda da estatal.
“Há uma política que tem que ser revista, porque hoje nem é pública nem privada. Não seria o caso de privatizar a Petrobras? Não seria a hora de se discutir qual a função da Petrobras no Brasil?”, questionou.
Assim como Lira, Adriano Pires também defende a privatização da Petrobras. Até agora, o economista costumava se manifestar publicamente contra as intromissões políticas na Petrobras – uma prática comum no governo de Jair Bolsonaro. “O segmento é permeado de risco regulatório e político, o que afasta o investidor privado. Para mudar esse cenário, é preciso eliminar a permanente perspectiva de ingerência política sobre o preço dos combustíveis”, escreveu ele em um artigo de 2019, por exemplo.
Ao assumir a Petrobras, Pires terá pela frente não apenas o desafio de encarar a sanha intervencionista de Bolsonaro, mas também o de mostrar que sua proximidade com Lira e o Centrão não voltará a colocar a empresa em risco.
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Comentários (10)
Alberto de Araújo
2022-03-30 19:09:24A luta entre o interesse público e privado não pode ser um perde- ganha. Essencial que se chegue a um ganha-ganha. Para isso, as duas partes precisam se beijar e não se bicar. Assim, o país poderá sair do subdesenvolvimento, tatuagem que não sai da testa do Brasil. A política é um mal de um cérebro gangrenado.
Clayton De Souza PONTES
2022-03-29 14:45:27tempos sombrios para a Petrobras. A volta para as mãos do Centrão não inspira confiança. #nemlulanembolsonaro
Amyr GF
2022-03-29 10:51:25não há outro jeito a estúpida CF de 1988 de cunho fortemente parlamentarista empoderando demais a pior politicalha da história fez com que o presidente perder muito do poder e se não se aliar a estes pilantras só governa e mal a primeira dama e o ladrão nem isto pois foi governado pela Odebrecht pela Roze Noronha e pela Janja .. ou o aborto é consertado e LOGO ou iremos ao lixo do qual já sentimos o aziago fedor.
NeutronLento
2022-03-29 10:18:36Vai tentar desviar o que puder nesse final de (último) mandato e, quem sabe, preparar a cama para continuar desviando recursos da Petrobras em um eventual governo petista. O foco é se dar bem.
Ludovina
2022-03-29 09:32:08Helena, excelente esclarecimentos! Informações de qualidade que somente o Antagonista traz; obrigada por seu importante trabalho!
Hierania
2022-03-29 07:45:07Ainda bem que a energia fotovoltaica está em crescimento no Brasil!…. Nós somos ricos em fontes de energias limpas e renováveis.
Max
2022-03-29 06:35:41O desgoverno do Jair, há muito tempo, não se confunde mais com o Centrão de Lira e Nogueira. É só Centrão, pois o Jair só faz cumprir ordens. Tudo pela reeleição e blindagem contra os crimes cometidos. E os contribuintes continuam custeando a farsa bolsonarista controlada pelo grupo mais oligárquico e corrupto do Congresso Nacional.
Gilson Diniz Vieira
2022-03-29 00:02:35Acho que já tá passando da hora de uma intervenção militar
Paulo
2022-03-28 23:12:09A malícia dos profissionais tendenciosos é muito mais poderosa do que qualquer fake news produzida por amadores. É só ver a foto debochada casando com a manchete, a qual decreta como verdadeiro o que ainda é hipótese. Contra fake news, o Alexandre dimorais instaura inquérito ilegal mas nada se pode fazer contra os subterfúgios dos competentes jornalistas a saldo.
Stiglitz
2022-03-28 23:10:27"Mind the Gap" ❗❗❗🤭