Celso Amorim também vai lamber as botas de Putin
A viagem do assessor para a Rússia era mais do que esperada, uma vez que ele já deu seguidos sinais de apoio ao país na invasão da Ucrânia

O assessor especial do presidente Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim (foto), também irá para Moscou para celebrar o Dia da Vitória com o ditador Vladimir Putin em 9 de maio.
Ele se juntará a Lula e à primeira-dama na parada militar que celebra o dia em que os soviéticos venceram os nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Mais do que isso, a presença de Lula, Janja e Amorim será um sinal de apoio ao ditador Putin, que iniciou e mantém a invasão da ucrânia.
A viagem de Amorim para a Rússia era mais do que esperada, uma vez que o assessor já deu seguidos sinais de apoio ao país na invasão da Ucrânia.
Moscou
No início de 2023, Amorim viajou para Moscou.
Ao retornar ao Brasil, o assessor foi questionado sobre não ter ido a Kiev, capital da Ucrânia. Ele respondeu que não havia voo pra a capital ucraniana e que não faria sentido visitar um país para ver a guerra.
"Você conhece as rotas de avião? Acha que é fácil ir de Moscou a Kiev?", respondeu Amorim, fazendo uma pergunta. "Cada vez que surge um convite, não é um convite para conversar, é um convite para ir lá, para ver a guerra. Nós sabemos que a guerra é uma coisa terrível. Nós vimos a Guerra do Vietnã, nós vimos a Guerra do Afeganistão, nós vimos a invasão do Iraque, vimos tudo isso", disse Amorim, citando apenas conflitos em que os Estados Unidos se envolveram.
"Eu não estou diminuindo a importância nem a tragédia do povo ucraniano. E os convites são sempre dessa forma. Não é isso. É preciso haver uma disposição de conversar. De ouvir e de ser ouvido. É isso o que nós estamos procurando. Eu não excluo que, se houver um convite desse tipo, e dependendo obviamente da decisão do presidente Lula, porque eu sou um assessor do presidente, não sou nem sequer ministro, eu certamente consideraria", disse o assessor.
Como ficou evidente que o governo Lula tinha um lado no conflito, Amorim marcou uma viagem para a Ucrânia.
Bucha
Em maio de 2023, Amorim foi a contragosto para Kiev e para Bucha, cidade a 30 quilômetros da capital. Ele conversou por 15 minutos com o pároco local e, dentro da igreja, viu uma exposição de fotos.
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, Amorim disse não ter acreditado no que viu. "Obviamente, nós somos contra as atrocidades e as mortes em qualquer lugar que ocorram. São imagens fortes, não vou entrar em detalhes. Mas não dá para tirar conclusões totalmente, são fotos".
Genocídio imaginário
Em junho daquele ano, Amorim justificou a invasão da Ucrânia com um genocídio imaginário.
Em entrevista ao site Headline, Amorim assumiu que a Ucrânia é uma "vítima" nesta guerra.
Entretanto, não culpou a Rússia pela tragédia, e sim o "espírito de Guerra Fria", em tentativa de responsabilizar a Organização do Tratado do Atlântico Norte, Otan, pelo conflito.
"A Ucrânia é vítima. Mas de quem ela é vítima, sobretudo? Ela é vítima de um espírito de Guerra Fria que continuou a prevalecer e que não devia ter prevalecido", afirmou Amorim.
"Você tem que entender as causas um pouco mais profundas da situação [...] E eu acho que, em grande parte, isso está ligado à expansão da Otan", acrescentou, ressalvando, pelo menos, que isso "não justifica" a invasão russa.
Mais grave, Amorim comparou relatos do Kremlin sobre supostos "maus tratos" a russos na Ucrânia a um genocídio — um aceno à narrativa de Moscou para justificar a guerra.
"Os países ocidentais, que hoje defendem a Ucrânia, foram responsáveis pelo bombardeio da Sérvia. Aí você diz assim: 'não, mas é porque lá havia um genocídio'", afirmou o ex-ministro, em referência ao massacre de Srebrenica.
"Bom, dizem os russos – eu não estou dizendo que é verdade –, que houve muitos maus tratos também aos russos da região de Donetsk. Eu não sei, porque eu não tenho como julgar isso", acrescentou. "Não há nenhuma comissão imparcial que tenha estado lá, mas você tem que procurar ver que há uma dificuldade objetiva."
No contexto da guerra da Bósnia, na década de 1990, separatistas sérvios mataram de maneira sistemática mais de 8 mil bósnios muçulmanos do sexo masculino nos arredores da cidade de Srebrenica.
Um inquérito internacional concluiu que o episódio foi um caso de genocídio, o que envolve comprovar a intenção de exterminar um povo, e um general foi condenado pelo crime. Após o massacre, a Otan bombardeou as posições sérvias.
No entanto, o genocídio de russos na Ucrânia, que foi usado por Putin para justificar a invasão, só existe na cabeça do presidente russo e de Celso Amorim. Não há qualquer evidência de que isso tenha ocorrido. Ao adotar tal fantasia, Amorim demonstrou total desconexão com a realidade e revelou o grau de apoio do Palácio do Planalto ao autocrata russo.
Contra as sanções do Ocidente
Em abril do ano passado, Amorim também viajou para Moscou para uma reunião do Conselho de Segurança Russo, que contou com uma participação por vídeo do ditador Putin. Apenas países aliados com a Rússia participaram.
"Nós estamos experimentando a emergência de fatos perigosos que estão interligados: terrorismo, violação do direito internacional, o uso de armas proibidas, sanções unilaterais e o uso crescente de novas tecnologias para propósitos ilícitos", disse Amorim.
Ora, quem violou o direito internacional foi a Rússia, ao invadir a Ucrânia.
Ao ir até São Petersburgo para participar de uma conferência de segurança, organizada pelo Kremlin, o sinal que Amorim envia é exatamente o oposto do discurso que ele prega, pois ele está apoiando o governante que cometeu essa violação.
Quando condena as "sanções unilaterais", Amorim também fica ao lado de Putin, pois essa foi a principal maneira de o Ocidente punir o ditador que iniciou a guerra. Além disso, as sanções buscam enfraquecer a máquina de guerra russa.
"Nós também estamos vendo o retorno de um sistema de segurança baseado em alianças militares que, no passado, levaram à guerra", afirmou.
Ao invadir a Rússia sem propósito algum em 2022, Putin não consultou ninguém. Dizer, portanto, que o problema do mundo são as alianças militares é ignorar o fato mais importante na área de segurança dos últimos dez anos.
Quando Amorim diz que o problema do mundo são as alianças militares, o brasileiro está fazendo coro com Putin ao condenar, sem citar, a Otan.
Putin culpa a Otan pela sua invasão da Ucrânia, mas a aliança não realizou nenhum ataque que pudesse provocar uma guerra. A iniciativa foi toda de Putin.
Aconteça o que acontecer, Celso Amorim não larga a mão de Putin.
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