Boulos, o confabulador
Guilherme Boulos é um sujeito ambicioso. Depois de se tornar o deputado mais votado de São Paulo, decidiu organizar uma conspiração contra o PT, aliando-se com o apresentador Datena e o ex-jogador de futebol Neto. Para nossa sorte, vazou apenas um trecho da conversa dos três patetas, na qual Datena se oferece para ser vice...
Guilherme Boulos é um sujeito ambicioso. Depois de se tornar o deputado mais votado de São Paulo, decidiu organizar uma conspiração contra o PT, aliando-se com o apresentador Datena e o ex-jogador de futebol Neto. Para nossa sorte, vazou apenas um trecho da conversa dos três patetas, na qual Datena se oferece para ser vice na chapa de Boulos para a Prefeitura de São Paulo, e questiona se o jovem deputado psolista teria coragem para “peitar” Lula.
Boulos se apressou para justificar o encontro revolucionário. Quem se escusa, se acusa, dizem os franceses. Os petistas não ficaram muito satisfeitos. Nas redes sociais, a Secretária Nacional de Planejamento e Finanças do PT disse que a “emenda saiu pior do que o soneto”. Alguns mais radicais disseram que Boulos é somente um traidor e outros mais sofisticados lhe compararam ao cavalo de Tróia. Há ainda os crédulos de que tudo não passou de uma manobra da direita bolsonarista para dividir a esquerda.
Para Jilmar Tatto, secretário nacional do PT, Boulos foi ingênuo, e o apresentador Datena é um “quinta coluna”, termo obsoleto para designar conspirador. Por algum motivo escuso, Tatto se calou sobre o ex-jogador Neto, que parece ter sido o mentor intelectual do encontro conspiratório. Ainda bem, porque não temos o menor interesse na opinião do petista sobre a capacidade intelectual de um ex-jogador de futebol. Mas a ingenuidade de Boulos parece ter sido balançar a cabeça positivamente enquanto o “quinta-coluna” cometia um sincericídio ao dizer que “o PT é um partido corrupto”, além de fazer afirmações inócuas como “a política é como uma nuvem”, talvez porque tenha a convicção de que os acordos podem se dissipar como fumaça diante de ocasiões mais vantajosas.
Mas essa história apalermada pode ser mais interessante do que parece. O Psol, partido de Boulos, nasceu de uma dissidência do PT, que, em 2003, decidiu expulsar a senadora Heloísa Helena e os deputados João Batista “Babá”, Luciana Genro e João Fontes. Eles haviam se negado a apoiar a reforma da Previdência do governo Lula. O relator da Comissão de Ética que expulsou os parlamentares foi o sorumbático Delúbio Soares, que mais tarde seria preso no escândalo do mensalão – e logo depois, com a temporada de julgamentos que anularam julgamentos, seus crimes prescreveram, ele foi solto e o PT aprovou a sua refiliação. O bom filho à casa torna.
Como tudo muda para continuar igual, o Psol deixou de ser dissidência e seus filiados voltaram a apoiar o PT nas eleições de 2006, 2010, 2014, 2018 e 2022. Hoje fazem parte de uma Frente Ampla com o PCdoB e o Solidariedade para pedir ao STF a suspensão do pagamento das multas das empreiteiras corruptas condenadas na Operação Lava Jato. O Brasil é a evidência incontestável de que Darwin estava errado: nossa involução refuta completamente a ideia de que estamos progredindo desde a descoberta do homo sapiens.
A verdade é que o PT sempre fez o possível para impedir o surgimento de algum vestígio de uma nova representação política no campo da esquerda. Quase desapareceu com os escândalos de corrupção. Sobreviveu para liderar uma ordem antiga e degenerada de fazer política, que fora ressuscitada por conta de um instinto de sobrevivência de lideranças que já deveriam estar obsoletas, mas ainda disputam o poder e, não raro, outras coisas menos louváveis.
Artimanhas e confabulações à parte, os revolucionários de hoje já não pretendem mais chocar a burguesia. Muito menos abrir uma guerra contras as elites. No máximo, radicalizam nas redes sociais ou em rolês aleatórios organizados por ex-jogadores de futebol. Nosso progressismo, enfim, consiste em seguir progredindo, mas no caminho contrário.
Diogo Chiuso é escritor e autor do livro O que restou da Política, publicado pela editora Noétika em 2022
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Comentários (4)
RIVAS
2023-04-09 14:24:48Só faltou o Kajuru que é da mesma Laia do Datena. Juntos não valem nada
ANTONIO
2023-04-09 10:35:07Juntar Boulos, Datena e Neto só poderia dar mer..!
ANDRÉ MIGUEL FEGYVERES
2023-04-09 10:31:05Boulos, o líder do MTST, precisa dizer mais alguma coisa? Especializado em receber polpudas verbas públicas e construir barracas com sacos de lixo, destruiu com a ajuda dos seus vândalos, o andar térreo da FIESP na Av. Paulista e formou poluidoras barricadas nas vias públicas c/ peneus incendiados...
Alberto de Araújo
2023-04-08 17:12:07Muito bom.O país é vítima do populismo, há décadas. Lula e Bolsonaro foi o pior que poderia acontecer ao Brasil.Chega-se a conclusão, diante de tantos erros, que é para não dar certo. Somos uma sociedade éticamente doente. Uma sociedade que deturpa os verdadeiros valores humanos, onde a farsa predomina entre a classe política. Grudamos no passado. Não se olha para frente. Vota-se no antipetismo, Depois vota-se no petismo.Como entender isso?