Acordo europeu com EUA pode ser ruim para Mercosul
Ao priorizar o aprofundamento das relações com os Estados Unidos sob Trump, a União Europeia pode deixar o Mercosul em segundo plano

O novo impulso dado ao acordo comercial entre Estados Unidos e União Europeia está gerando preocupação nas capitais do Mercosul. O movimento, embora ainda incerto em termos de volume, tem alto valor estratégico e acende um sinal de alerta: os produtos sul-americanos podem perder espaço e atratividade no mercado europeu.
Segundo o que se sabe até o momento, o pacto entre Washington e Bruxelas deve eliminar, para os americanos, tarifas em setores como aeronaves e peças, alguns produtos agrícolas, químicos, medicamentos genéricos, justamente áreas onde países do Mercosul vêm tentando avançar.
A UE também concordou com investimentos de 600 bilhões de dólares nos EUA e compras de outros 750 bilhões em energia
Na prática, isso significa que produtores americanos de vários setores passarão a concorrer em igualdade ou vantagem com brasileiros, argentinos e outros sul-americanos no mercado europeu.
Mais preocupante do que isso, no entanto, é o que esse gesto sinaliza. Ao priorizar o aprofundamento das relações com os Estados Unidos sob a mão pesada de Trump, a União Europeia pode deixar o Mercosul em segundo plano.
Bruxelas parece mais disposta a ceder aos americanos, em nome de um alinhamento estratégico mais amplo, seja para agradar seu mais importante parceiro militar na Otan, seja para conter o avanço econômico e geopolítico da China.
Como efeito colateral, as negociações com o Mercosul, que já se arrastam há mais de 25 anos, podem sofrer novo atraso. Para proteger seus interesses internos - sobretudo franceses - a Comissão Europeia pode endurecer as exigências ao bloco sul-americano justamente para compensar as concessões feitas aos EUA, como mais compromissos ambientais, controle sobre exportações agropecuárias e regras mais rígidas de origem.
Vários líderes nacionais e de setores produtivos europeus se mostraram contrariados com os termos do acordo anunciado por Trump. O primeiro-ministro francês, François Bayrou, declarou, por exemplo, que seu continente foi submisso.
De olho nessa reação, autoridades da UE dificilmente teriam margem para afrouxar em demandas como as que o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai pedem. Em outras palavras, o avanço com os americanos pode custar caro para os sul-americanos.
Assim, o risco para o Mercosul é duplo: além de perder competitividade por causa da entrada facilitada de produtos americanos no mesmo mercado, pode ser obrigado a aceitar termos mais duros se quiser manter viva esperança de um tratado com a UE. Se não aceitar, arrisca ver a negociação congelada mais uma vez.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)