Acordo entre EUA e China ajuda, mas não resolve
As medidas acertadas criam uma pausa pragmática, mas sem profundidade para delinear como vai ficar a relação comercial de China e EUA
Na cúpula da APEC em Busan, Donald Trump e Xi Jinping posaram para fotos, anunciaram entendimentos e buscaram dar uma pausa na disputa comercial que se estende desde o primeiro mandato do americano.
Desse encontro resultaram concessões específicas que reduzem tensões, mas não encerram o impasse entre as duas maiores economias do mundo.
Depois de longas negociações nos bastidores, Washington decidiu cortar pela metade a tarifa adicional aplicada a produtos chineses ligados à produção de fentanil, reduzindo a carga total média de 57 para 47%.
Pequim, em resposta, prometeu reforçar o controle sobre substâncias químicas usadas na fabricação da droga e retomar compras de grãos norte-americanos, especialmente soja e sorgo
Isso pode levar a uma diminuição das compras desses grãos do Brasil, mas esse é um cenário de normalização, certamente que já estava no radar do setor agro brasileiro.
Os gestos entre as duas potências tem um efeito direto. Ao transformar o combate ao tráfico de fentanil em elemento de negociação comercial, Trump vincula segurança pública e economia.
Como o Brasil bem sabe, a Casa Branca usa as tarifas econômicas como instrumento de pressão política, enquanto a China busca aliviar o custo de exportar os seus produtos.
Outro avanço envolveu o setor de minerais estratégicos, as tais terras raras. Xi aceitou adiar por um ano a aplicação de controles sobre a exportação desses elementos, um conjunto de metais essenciais para a fabricação de equipamentos eletrônicos, carros elétricos e sistemas de defesa.
Essa decisão evitou que os Estados Unidos elevassem tarifas sobre produtos chineses de alta tecnologia, medida que entraria em vigor já no início de novembro.
O congelamento temporário das restrições de ambos os lados tende a estabilizar preços e garantir previsibilidade às cadeias de produção que dependem desses materiais e a acalmar os mercados.
Apesar dos gestos, nenhum dos dois líderes alterou pontos sensíveis da disputa tecnológica. O acesso chinês a semicondutores avançados e o futuro do aplicativo TikTok continuam indefinidos, apenas sendo citados como pontos que serão trabalhados.
A retomada das compras agrícolas também depende de execução concreta, ainda sem prazos e volumes divulgados.
O saldo é que as medidas acertadas em Busan criam uma bem-vinda pausa pragmática, guiada por interesses econômicos imediatos, mas não tiveram profundidade para delinear como vai ficar a relação comercial entre os dois países, que seguirão negociando sem pressa e sem querer demonstrar fraqueza.
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