A troca de acusações que levou ao mandado de prisão de cotado para a PGR
Cotado para assumir a Procuradoria-Geral da República, o subprocurador Antônio Carlos Simões Martins Soares foi alvo de um mandado de prisão depois de pedir a abertura de um inquérito na Polícia Federal em 1990 para investigar uma vizinha que o acusava, entre outras coisas, de ameaçar estuprar a sua filha de nove anos de idade. O...
Cotado para assumir a Procuradoria-Geral da República, o subprocurador Antônio Carlos Simões Martins Soares foi alvo de um mandado de prisão depois de pedir a abertura de um inquérito na Polícia Federal em 1990 para investigar uma vizinha que o acusava, entre outras coisas, de ameaçar estuprar a sua filha de nove anos de idade. O imbróglio também deu origem a uma denúncia contra o procurador.
A partir do inquérito, a PF indiciou a vizinha do procurador por calúnia, o que o levou a apresentar uma queixa-crime contra ela na Justiça Federal em Juiz de Fora, ainda em 1990. Mas a queixa foi rejeitada pelo juiz, que entendeu haver suspeitas de que Martins teria falsificado a assinatura de seu advogado na peça em que a acusava.
O juiz ordenou a prisão de Martins e a abertura de uma investigação na Polícia Federal contra ele. O mandado de prisão foi revogado no mesmo dia, por uma liminar do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. A investigação gerou uma denúncia contra o procurador, apresentada pelo Ministério Público Federal em 1995 e prescrita em 1997.
A confusão começou com um depoimento da bancária Maria do Carmo Ferreira Alves à Polícia Civil de Minas Gerais em agosto de 1989. Maria do Carmo era síndica do edifício onde Martins morava em Juiz de Fora desde 1988. Ambos eram vizinhos de porta.
Maria do Carmo relatou aos policiais civis que Martins era uma pessoa “imprevisível”, que agia “de uma forma anormal”. Ela denunciou que seus filhos vinham recebendo ameaças por parte do procurador: “Sua filha de nove anos foi ameaçada de ser estuprada”, registraram os policiais civis que a ouviram no depoimento.
A bancária narrou que, depois disso, proibiu os filhos de saírem de casa quando estivesse no trabalho. E acrescentou que, por várias vezes, o procurador teria tirado uma arma da cintura e colocado sobre o parapeito da escada para ameaçar uma criança de um prédio vizinho.
Segundo a bancária também contou à Polícia Civil, após a mudança de Martins para o prédio, ela foi intimada a comparecer à Polícia Federal duas vezes, em ocasiões que coincidiram com reuniões de condomínio convocadas por ela.
Maria do Carmo relatou que na primeira ida à PF foi "ameaçada, coagida, e proibida de conversar com qualquer vizinho, além de ter que tratar bem a sra. Tereza Regina (mulher de Martins)". Na segunda vez, teria sofrido uma "pressão psicológica muito grande" e sido ameaçada até de perder a guarda dos filhos.
Após o segundo comparecimento à PF, Maria do Carmo decidiu passar o cargo de síndica para outra pessoa, de acordo com o relato feito à Polícia Civil. No depoimento, a bancária, no entanto, não informou os dias em que foi à PF, e nem citou o nome de quem a teria ameaçado. Disse apenas que foi levada para a presença de uma “autoridade” que seria frequentadora da residência do procurador.
Quase um ano depois, em junho de 1990, Martins tomou conhecimento das acusações feitas contra ele, e enviou à Polícia Federal o pedido para que a vizinha fosse investigada por calúnia. Em julho daquele ano, a bancária foi ouvida pela PF, mas não informou quem a teria ameaçado nas vezes anteriores em que disse ter ido à delegacia.
No novo depoimento, ela disse que procurou a Polícia Federal apenas “com a finalidade de obter um esclarecimento pelo fato de ser síndica do prédio onde morava e ser difícil a vivência da interrogada com alguns moradores daquele prédio, em especial o dr. Antônio Carlos”.
Maria do Carmo manteve, no entanto, a acusação de que sua filha tinha sido ameaçada de estupro, e afirmou que por isso pediu transferência no Banco do Brasil, onde trabalhava, para o município de Pouso Alegre. À Polícia Federal, a bancária alegou que foi depor na Polícia Civil a pedido de uma pessoa, que não soube identificar, mas que havia deixado um bilhete em sua mesa no banco com essa orientação.
Na avaliação da Polícia Federal, Maria do Carmo procurou os policiais civis “com outra finalidade, menos a de buscar providências ou pedir garantias". No relatório de indiciamento da bancária, o delegado da PF Pedro José Gama diz que Maria do Carmo "não diz coisa com coisa, não sabendo afirmar com precisão nada do que declarara na Delegacia de Polícia Civil Estadual em Juiz de Fora”.
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Comentários (10)
Uirá
2019-08-21 18:32:13Para se proceder com uma limpeza é necessário que se mostre onde está a sujeira. Para que a sociedade se junte de forma uníssona para exigir mais transparência é necessário mostrar toda a sujeira que os corruptos estão tentando esconder. Cinco anos de Lavajato cansam, mas se as pessoas tiverem a certeza de que o Petrolão foi só a ponta do iceberg, então a chama se reavivará de forma mais intensa e elas clamarão mais forte por menos corrupção.
Uirá
2019-08-21 18:29:42Se o PT não contaminou o Estado inteiro não foi por falta de tentativas. A sujeira em outros órgãos de investigação e combate da corrupção tb deveria começar a ser revelado. É preciso que se crie um ciclo virtuoso que se retroalimente, mais transparência desperta a sociedade que por sua vez exige mais transparência. O espírito anti-corrupção já está disseminado, é preciso reforçá-lo e estimulá-lo para que a pressão da sociedade sobre os corruptos seja insuportável.
Julieta
2019-08-21 18:27:26Normal, no Brasil alguns se acham 'deuses", donos da verdade e estão acima de todos e nós reles mortais ficamos aguardando alguém tomar providência, podemos saber quem??
Uirá
2019-08-21 18:26:06A principal condição para que a corrupção se instale e prolifere é a falta de transparência, pois se não há resistência, então não há nada que impeça a disseminação dela. A Lavajato mostrou que a imprensa é vital para se combater a corrupção, a nomeação e o trabalho do novo PGR certamente serão facilitados se a sujeira que reina no MPF for exposta para que as pessoas tenham ciência do que ocorre lá dentro.
Uirá
2019-08-21 18:22:50Se as relações impróprias, negócios duvidosos, tramoias contra a sociedade e o Estado forem revelados no âmbito do MPF, certamente os corruptos lá dentro terão muito mais dificuldade de se contrapor ao novo PGR e sabotá-lo. O nome terá que ser aprovado no Senado, mas e se a sociedade estiver ciente de toda a sujeira que impera não só no MPF, mas no judiciário, incluindo as relações promíscuas e as omissões que beneficiam exatamente quem nomeia os ministros do STF, STJ e o PGR?
Uirá
2019-08-21 18:16:01Toda esta gente que tem algum podre a esconder só terá uma opção quando for nomeado um PGR que não atenda aos interesses deles ou represente uma ameaça às falcatruas: sabotagem e traição. Eles farão de tudo para a sujeira debaixo do tapete não seja encontrada, mas e se ela já começar a ser revelada de antemão? Quem com ferro fere, com ferro será ferido. Jogar a sujeira no ventilador e expor as falcatruas, além de agir para prevenir sabotagens, serve para cimentar o caminho pro novo PGR.
Uirá
2019-08-21 18:10:51Por último, se tentaram atacar a honra de Sérgio Moro e dos procuradores visando não só constrangê-los, mas simplesmente dar um golpe fundamental em qq ação anti-corrupção, pq a mesma coisa não pode ser feita com eles? Sérgio Moro e os procuradores suportaram a porrada exatamente pq não tinham o que temer, se eles não devem, então não tem o que temer. Todo o processo até agora de escolha da PGR revelou uma coisa certa: sobretudo em Brasília, há muita gente no MPF que tem o que temer.
Uirá
2019-08-21 18:04:33Há um ditado que diz que "quem não deve não teme", outro que diz "me diga com quem tu andas que te direi quem tu és" e um terceiro que diz "quem com ferro fere, com ferro será ferido". Todos estes ditados podem ser aplicados ao caso das mensagens roubadas e aqueles por trás delas. O que estas pessoas e indivíduos tanto temem para se engajarem em tática tão aloprada e desesperada? Se elas se aliam para atacar os principais expoentes do combate à corrupção no país, o que isto significa?
GIANCARLO
2019-08-21 16:59:46Se indicar esse sujeito será o começo do fim da sustentação que ainda resta do governo junto a população. JB escute o Moro !!!!!
João
2019-08-21 13:43:37Não compreendo, e nem consigo entender, como é que um presidente da república que tem assessores para tudo, não sabe de coisas que qualquer bom jornalista sabe ou procura saber.Apareceu um candidato?De importância ao CV, mas baixe a capivara dele!, Incrivel!