A propaganda de guerra russa e a celebração do Dia da Vitória
Putin declara em propaganda de guerra que a atual "operação militar especial" na Ucrânia - na verdade, a invasão de um país democrático e soberano - é uma continuação da luta vitoriosa contra o nazismo

Os habitantes de Moscou devem se preparar para uma série de interrupções em sua rotina ao longo desta semana.
De acordo com informações das autoridades locais, é possível que haja restrições no acesso à internet entre segunda e sexta-feira, em razão das festividades que marcam o 80º aniversário da vitória soviética sobre a Alemanha nazista.
O clímax dessas comemorações ocorrerá no dia 9 de maio, com a tradicional parada militar na Praça Vermelha, que contará com a presença de convidados internacionais.
No início da manhã de segunda-feira, 5, durante os ensaios da força aérea sobre o centro da cidade, e novamente na manhã de quarta-feira, 7, durante o ensaio geral da parada, houve colapsos no serviço de internet móvel.
Isso resultou na paralisação dos serviços de entrega de alimentos, na falha dos aplicativos de táxi e navegação, além da indisponibilidade dos pagamentos eletrônicos via QR Code ou telefone. Até mesmo os caixas eletrônicos deixaram de fornecer dinheiro em espécie.
A situação gerou descontentamento entre os moscovitas, que dependem cada vez mais desses serviços digitais.
Ataques com drones ucranianos
Simultaneamente, os ataques com drones ucranianos estão se intensificando em áreas do território russo distantes da fronteira, à medida que se aproxima o "Dia da Vitória".
Na quarta-feira, 7, pelo menos dez aeroportos em regiões do sul e centro da Rússia foram temporariamente fechados para pousos e decolagens. Como resultado, dezenas de voos foram cancelados ou redirecionados para aeroportos mais distantes, deixando passageiros presos a bordo por horas sem comida ou água.
Em Saransk, capital da República de Mordóvia, as aulas foram suspensas após ataques noturnos a fábricas locais.
Dia da Vitória
As comemorações anuais do Dia da Vitória têm ganhado proporções cada vez maiores. Estudantes se vestem como soldados e ensaiam canções patrióticas há semanas.
Placas comemorativas decoram lojas por toda a cidade, muitas vezes retratando a icônica imagem da "Mãe Pátria" de Volgogrado erguendo sua espada contra o inimigo. As cores laranja e preta do laço de São Jorge, símbolo do patriotismo russo, são onipresentes nas vitrines.
Vladimir Putin, na sua propaganda de guerra, declara que a atual "operação militar especial" na Ucrânia - que nada mais é que a invasão de um país democrático e soberano - é uma continuação da luta vitoriosa contra o nazismo.
Essa retórica gera descontentamento e muitos dentre os próprios russos consideram essa abordagem uma ofensa à memória dos caídos.
Entretanto, tal narrativa fornece ao regime uma poderosa mensagem ideológica, sugerindo que a sociedade está unida em apoio à política bélica do Kremlin. O contraste, porém, entre a celebração do triunfo de 1945 e a divisão causada pela guerra de invasão da Ucrânia é evidente.
A trégua de Putin
Na busca por evitar perturbações durante as celebrações, Putin anunciou uma trégua de três dias entre 8 e 10 de maio e esperava que Kiev aderisse ao chamado.
No entanto, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky frustrou essa expectativa ao alertar sobre possíveis atentados em Moscou que poderiam ser atribuídos à Ucrânia.
Questões de segurança também impactam a recepção dos convidados internacionais, que podem enfrentar dificuldades para aterrissar conforme planejado devido aos ataques com drones e problemas no tráfego aéreo.
O Kremlin exibe orgulho ao receber representantes de 29 países na tribuna da Praça Vermelha junto a Putin.
Entre eles estão líderes da maioria das nações pós-soviéticas na Ásia Central e no Cáucaso, assim como o líder chinês Xi Jinping e chefes de Estado da América Latina, África e Ásia. A presença do presidente Lula está confirmado nesse evento.
A presença deles visa demonstrar que a Rússia não está isolada apesar das pressões ocidentais.
Na propaganda do Kremlin, Europa e o chamado "eurofascismo" são apresentados como o inimigo comum em um panfleto elaborado pelo serviço secreto russo SWR, alegando que esse extremismo se manifesta no apoio ao suposto "regime nazista" em Kiev.
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