A princesa Isabel deveria ter um prêmio em seu nome?
Mais cedo, contamos como o Ministério dos Direitos Humanos do governo Lula renomeou o prêmio "Princesa Isabel", que passou a levar o nome de Luiz Gama, um ex-escravo que virou advogado e lutou pela abolição. Não há dúvida de que a homenagem à Luiz Gama é justa. Autodidata em direito, ele ajudou na libertação de...
Mais cedo, contamos como o Ministério dos Direitos Humanos do governo Lula renomeou o prêmio "Princesa Isabel", que passou a levar o nome de Luiz Gama, um ex-escravo que virou advogado e lutou pela abolição.
Não há dúvida de que a homenagem à Luiz Gama é justa. Autodidata em direito, ele ajudou na libertação de mais de 500 escravos. "A mudança no prêmio é, sem dúvida, o reconhecimento da importância de Luiz Gama como alguém que atuou nos tribunais, libertando centenas de escravos, mas como alguém que lutou ativamente pelo fim da escravidão no Brasil", diz Camilo Onoda Caldas, diretor do instituto que leva o nome do novo homenageado (o Instituto é presidido pelo próprio ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida).
O que ainda causa discórdia é sobre como deve ser lembrado o legado de Isabel do Brasil, a regente que assinou a Lei Áurea em maio de 1888. Durante muitas décadas, a data da assinatura da lei, 13 de maio, e a figura de Isabel foram usados como os principais símbolos da abolição. A princesa teve o mérito de, como regente do Império, passar a legislação no Congresso em tempo recorde, enquanto seu pai estava de viagem pela Europa.
Contudo, a monarca era uma mulher branca e que se valia dos escravos do Estado Imperial Brasileiro. Ao se destacar a sua figura ao longo de décadas, deu-se menor importância a homens negros que trabalharam pelo fim da escravidão, como Luiz Gama, o engenheiro André Rebouças e o jornalista José do Patrocínio. Eles fizeram parte de um amplo movimento da sociedade civil, que pressionou o governo brasileiro a tomar as medidas desejadas.
A ação de Isabel, portanto, ocorreu como uma resposta a uma insatisfação interna. Não cabe, portanto, considerar que ela foi uma redentora dos escravos, que livremente decidiu realizar um gesto de misericórdia. E também não se pode ignorar seu papel na abolição, apenas por ela ser uma mulher branca.
"A princesa Isabel é uma construção, que pode mudar de forma", diz Bruno de Cerqueira, fundador do Instituto Cultural D. Isabel I. "Ela foi vista como uma redentora por uma visão antiquada de bolsonaristas, que não têm conhecimento histórico suficiente — mas sua imagem também tem sido atacada pelo movimento negro por falta de conhecimento"
No ano passado, a fundação que leva o nome da "redentora" chegou a pedir que Geraldo Alckmin e Lula revisassem a decisão de nomeá-la como patrona do prêmio, criado na gestão Bolsonaro. Dessa maneira, o Instituto Cultural D. Isabel I queria ter a primazia de dar prêmios com o nome de sua homenageada. O objetivo foi alcançado.
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Comentários (10)
Fausto Costa
2023-04-05 13:18:35A União Soviética tinha o costume de re-escrever a história. Parece que o PT segue o exemplo. Vale lembrar que a família imperial como um todo não tinha um único escravo a seus serviços. Os empregados eram todos pagos e os de origem africana eram escravos alforriados. Ela e sua mãe a Imperatriz, venderam joias para pagar a alforria de escravos fugidos (quando pegos). Ela recebia em sua casa, escravos alforriados e abolicionistas. Seus filhos tinham um jornal abolicionista em Petrópolis.
Maria do Carmo Gomes Miranda
2023-04-05 10:47:46"Ela foi vista como uma redentora por uma visão antiquada bolsonarista"???? Puxa, a visão bolsonarista é anterior a Bolsonaro, pois ele aprendeu que a Princesa Isabel é a Redentora na escola, quando ainda era criança.
KEDMA
2023-04-04 19:07:13Cada um teve sua importância no movimento abolicionista. Um ser mais importante do que outro, essa discussão é uma perda de tempo.
Franco
2023-04-04 18:53:03Uma infâmia. Todo respeito a Dom Pedro II é sua família e justo. Família digna, honesta. Um marco na nossa história.
Carlos Renato Cardoso Da Costa
2023-04-04 18:30:00Não sei se merece o nome de um prêmio, nem sei se isso importa, mas é vital que compreendamos o papel fulcral que ela teve na abolição: ela assinou a lei Áurea sabendo que poderia muito bem lhe custar o trono. Isso faz da assinatura um ato de ainda maior magnitude. Todos os grandes abolicionistas citados no texto devem também ser homenageados, pois a abolição foi o resultado de ações de muitos, não foi um ato isolado. Não é necessário apagar a contribuição de uns para engrandecer outros.
Rosele Sarmento Costa
2023-04-04 15:58:19O pt age a seu bel prazer! Não respeita nada!
Eduardo
2023-04-04 15:34:31No Brasil, até o passado é incerto. Várias pessoas contribuíram de fato e merecem destaque e reconhecimento por isso, mas no final, de fato e de direito, quem tinha o poder da caneta e que efetivamente aboliu o regime escravista foi a Princesa Isabel. Diminuir ou contestar o papel dela só demonstra a pequenez intelectual.
Daniel
2023-04-04 14:52:38Ressentimento. Se não fosse a Princesa Isabel, que assinou a lei Áurea para sua própria destruição, talvez a escravidão tivesse durado mais alguns anos, junto com império Brasileiro. A elite escravista vingativa tornou-se republicana assim que a abolição foi confirmada, ajudando a sepultar o império e expulsando a família imperial.
Marcia E.
2023-04-04 13:57:33Por que não focam em assuntos mais importantes para o país? Quantas horas, dias, semanas para discutir essas inutilidades. E depois dessa "trabalheira" os parlamentares se mandam para casa para curtir os feriadões , como está acontecendo nesta Páscoa.
Carlos
2023-04-04 13:47:28Isto se chma presenteismo. Julhar fatos históricos com valores e ideias de hoje o passado. A petralhada ate na historia quer roubar. Com a história a gente aprende a gente nao muda.