A nova estratégia chinesa na América Latina
A China muda sua estratégia no hemisfério sul focando em inovação e parcerias estratégicas de longo prazo para fazer frente aos EUA

A China ajusta silenciosamente sua presença econômica na América Latina, reduzindo o peso dos megaprojetos de infraestrutura e priorizando investimentos em tecnologia, energia limpa e setores estratégicos.
A guinada indica o fim de uma fase marcada por crédito farto e obras monumentais, substituída por uma atuação mais seletiva e pragmática.
A mudança foi analisada pela especialista Margaret Myers na revista Americas Quarterly, que identifica um novo manual de Pequim voltado para cadeias de valor mais complexas.
Dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento e do banco de dados CLLAC confirmam a tendência: os empréstimos soberanos chineses na região caíram de cerca de 10,2 bilhões de dólares em 2015 para 1,3 bilhão em 2023, com projeções abaixo de 500 milhões em 2024, enquanto o comércio bilateral continua em alta, alcançando 518,47 bilhões de dólares em 2024.
Relatórios da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) mostram que a China responde por cerca de 18% das exportações totais da região em 2023-2024, sobretudo de commodities como soja, cobre e lítio. Mas o padrão de dependência está mudando, com diversificação para minerais críticos.
As exportações chinesas de veículos elétricos para países latino-americanos cresceram 55% em 2023, atingindo 4,2 bilhões de dólares, segundo dados da Reuters. Essa virada mostra o avanço chinês em setores de alta tecnologia e maior valor agregado.
O Financial Times aponta que a estratégia faz parte de um esforço maior de Pequim para reduzir vulnerabilidades externas e consolidar parceiros comerciais em áreas sensíveis, como semicondutores, energia e minerais críticos.
Em paralelo, o governo dos Estados Unidos tenta reagir reforçado sua presença no hemisfério, com programas de crédito e segurança cibernética voltados a contrabalançar a influência chinesa.
A recente ajuda bilionária à Argentina e até o início de um diálogo diplomático e comercial com o Brasil são sinais dessa reação, ainda que com outros países vizinhos, como a Colômbia, os entendimentos não pareçam tão próximos.
Esse novo padrão chinês não significa um recuo, mas sim maturidade, com o país deixando de ser apenas uma financiadora de infraestrutura para se tornar investidora em cadeias produtivas estratégicas, como energia solar, veículos elétricos e telecomunicações.
Para a América Latina, o desafio é formular políticas industriais capazes de absorver essa mudança. Essa competição entre China e Estados Unidos devolve importância geopolítica à região, mas também aumenta a pressão sobre governos locais para escolher parceiros, equilibrar interesses e evitar nova dependência, agora tecnológica.
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