A morte da rainha e a política degenerada
Nesta última quinta-feira, dia 8, às 18:30, o palácio de Buckingham anunciou que a rainha Elizabeth II havia falecido pacificamente no castelo de Belmoral, na Escócia, aos 96 anos de idade. Nas redes sociais, o burburinho foi imediato. Uns brincaram que o príncipe Charles teria de começar a trabalhar aos 73 anos, outros que a...

Nesta última quinta-feira, dia 8, às 18:30, o palácio de Buckingham anunciou que a rainha Elizabeth II havia falecido pacificamente no castelo de Belmoral, na Escócia, aos 96 anos de idade. Nas redes sociais, o burburinho foi imediato. Uns brincaram que o príncipe Charles teria de começar a trabalhar aos 73 anos, outros que a rainha tinha visto de tudo nessa vida, menos o Palmeiras ganhar um mundial.
Eu mesmo, pouco antes do falecimento, divulguei em meus perfis uma vitória judicial na qual o ministro Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), havia derrubado censura imposta a uma reportagem do site “O Antagonista”, acolhendo o pedido que, como advogado do veículo, eu havia feito de cassação da decisão de primeiro grau e determinando, de forma inédita em casos envolvendo liberdade de imprensa no Brasil, que o juiz fosse obrigado a proferir nova sentença. Com a notícia da morte, brinquei no Twitter que a decisão de Toffoli me surpreendia mais do que o falecimento da rainha.
Entre brincar e comemorar a morte de alguém, no entanto, vai uma longa distância. E nesse mesmo dia diversos militantes políticos festejaram a morte de Elizabeth. Um candidato -que não nomearei para não lhe dar palanque- chegou a dizer que abriria uma cerveja para comemorar a morte de Elizabeth, lamentando apenas que seu falecimento não tivesse se dado pelas mãos da classe trabalhadora. Não sou favorável à monarquia, desconheço quem o seja, mas me faz descrer do mundo notar que se festeja a morte de alguém, colocando-se ideologias políticas acima de qualquer sentimento mínimo de humanidade.
Não importa de quem seja a morte: da rainha Elizabeth, de Olavo de Carvalho, da esposa de Lula, tanto faz. As ideologias devem servir ao ser humano, são um instrumento e um veículo de nossa visão política em busca de uma convivência harmônica. Pensar o oposto, que os seres humanos devem servir às ideologias e à política, é degenerar a política e tornar o homem perverso. Algo que não calha a ninguém, seja de esquerda ou de direita, tenha fetiche por coroa e cetro, faixa presidencial ou martelo e foice.
Mesmo passados duzentos anos de nossa independência, seguimos imersos em visões políticas muito pobres de espírito. Só não brocha quem não pensa. O Brasil, sobretudo no período eleitoral, tem exposto o nosso pior e ainda nos piorará muito. Acreditem.
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Comentários (10)
TerezaRegina
2022-09-11 21:38:38Parece-me que com esse artigo - sabe que sempre os aprecio - descobriu dois monarquistas, eu e o Amauri. Sou de toda uma família monarquista, inclusive no plebiscito fomos muito procurados por quem, por nossa causa, votaria no Sim. Tio meu, médico respeitado, não político, foi preso na ditadura por ser monarquista. Não o somos por ideologia, mas herança e por observação de exemplos positivos, como de D.Pedro II como refere o Amauri. Muito prazer, Marsiglia, conhece agora dois monarquistas.
Nefelibata Atávico
2022-09-11 12:30:21c. Na verdade, o ser humano está bem mais próximo da visão de Hobbes do que das de Rousseau, especialmente os brasileiros. O Homem, essencialmente, é um lobo canibal. O Brasil agrava essa condição por sua selvageria e subdesenvolvimento.
Eduardo
2022-09-11 10:25:49Marsiglia, passei a sabê-lo articulista com os Antagonistas. Aderi Sua admiração pelos textos plenamente corretos em opiniões e forma. Com elegância, desculpou-se de misturar o advogado luloptista que, apenas por isto, tornou-se supremacista (jamais soberano!) com a rainha de todos q a admiram (e ponham muitos nisto!), filha de George VI q, de uma venturosa ilha salvou, suportando por muito tempo, solitariamente (como Rei da uma nação) o mal da humanidade- o nazifascismo.
Míriam
2022-09-11 09:19:30Estamos vivendo tempos estranhos em que não há a mínima vontade de convivência harmônica e o resultado já é visível nos jornais e portais: violência de toda ordem. Parece que o fundo do poço tem porão.
Amaury G Feitosa
2022-09-11 08:58:50Na Inglaterra o rei pertence ao povo e há 700anos agrega uma nação indestrutível ... aqui se o povo soubesse que a república seria tomada por quadrilhas de "reis" ladrões jamais teria permitido a saída de seu imperador um homem digno e honrado que em seus cinquenta anos de reinado levou o Brasil do nada para ser país de primeiro mundo e isto nunca é dito às tolas vítimas de elites insanas e ladras estes sim os reais déspotas imunes e impunes ditadores de uma nação rica e povo miserável.
Renan
2022-09-11 06:49:55Sempre 👏🏻👏🏻👏🏻
Gabriel Fonseca Werneck
2022-09-10 21:04:08Perfeito, irrevogável!!! Parabéns!
KEDMA
2022-09-10 17:57:16Ótimo artigo Marsiglia.
Wilde
2022-09-10 17:42:30Verdade que nos esmaga a todos.
Alberto de Araújo
2022-09-10 16:36:17Com certeza, a tendência a piorar é mais provável. Há tantas coisas erradas em nosso país que para dar certo, a chance é zero. A começar pela deturpação dos valores humanos. Precisamos de um choque de ética, respeito, amor ao país, sinceridade, seriedade etc. Somos uma sociedade moralmente doente. O deboche é uma prática da falta de consideração com as pessoas. Na política há um frenesi nos parlamentares para desconstruir reputação dos seus adversários, através de mentiras, injúria, canalhice.