'A China quer esconder a realidade', diz dissidente censurado no Zoom
O chinês Zhou Fengsuo (foto) foi um dos últimos estudantes a deixar a Praça da Paz Celestial em 1989, quando tropas e tanques enviados pelo Partido Comunista Chinês debelaram uma manifestação de jovens que pedia democracia, liberdade e o fim da corrupção. Zhou viu colegas sendo mortos nas ruas e nos hospitais. Depois do massacre,...
O chinês Zhou Fengsuo (foto) foi um dos últimos estudantes a deixar a Praça da Paz Celestial em 1989, quando tropas e tanques enviados pelo Partido Comunista Chinês debelaram uma manifestação de jovens que pedia democracia, liberdade e o fim da corrupção. Zhou viu colegas sendo mortos nas ruas e nos hospitais. Depois do massacre, ele apareceu em quinto lugar em uma lista das pessoas mais procuradas pela ditadura. Foi detido em sua casa e permaneceu um ano na prisão. Em 1995, exilou-se nos Estados Unidos. Hoje, aos 62 anos, Zhou preside a organização Humanitarian China. No final de maio, ele organizou uma reunião virtual pela plataforma Zoom com outros chineses para lembrar do massacre na Praça da Paz Celestial. No meio da conversa, o Zoom suspendeu a sua conta e a de outros convidados. Nesta conversa por telefone com Crusoé, Zhou comentou o ocorrido.
O que aconteceu durante a reunião virtual para lembrar do massacre da Praça da Paz Celestial?
Marcamos o encontro pelo Zoom para 31 de maio. Com a data se aproximando, três pessoas que iriam participar, de diferentes cidades da China, foram presas. Mesmo assim, seguimos adiante. No dia, o evento começou normalmente. De repente, fomos interrompidos. Nós tínhamos testado o Zoom antes e pegamos contas pagas. Mesmo assim, o sistema nos bloqueou.
O sr. imaginava que poderia ser vítima da censura chinesa mesmo estando tão longe de Pequim?
Isso já aconteceu antes. Nós temos tido problemas em várias plataformas digitais, como o Linkedin e o Youtube, que é do Google. Além da repressão no mundo virtual, também tenho sofrido no mundo real. Várias vezes, pessoas que vivem nos Estados Unidos e obedecem ao Partido Comunista me bateram. No ano passado, viajei para um evento em Santiago, no Chile. Em um restaurante de comida taiwanesa, cujo dono apoia os protestos de Hong Kong, um grupo ligado ao Partido Comunista chegou com bandeiras da China. Eles fecharam o restaurante, penduraram bandeiras na parede, bateram nos seus conterrâneos e urinaram na porta. Eu estava lá e recebi ameaças de morte.
Como estão os três chineses que foram detidos e não puderam participar do encontro virtual?
Eles não receberam nenhuma acusação formal e foram liberados alguns dias depois. Os policiais deixaram claro para eles que o objetivo era evitar que participassem da nossa reunião.
Por que o Partido Comunista quer evitar lembranças do massacre da Praça da Paz Celestial?
Porque eles cometeram um crime contra o próprio povo. Querem ficar livres da acusação de terem matado centenas de seus próprios cidadãos. Além disso, o Partido Comunista não quer que as pessoas saibam que milhões de pessoas, em várias cidades, estavam pedindo democracia. Isso poderia incentivar ainda mais os jovens chineses, que têm criticado o controle da informação durante a pandemia do coronavírus. Há hoje vários grupos de resistência dentro da China. Foram eles que, em primeiro lugar, divulgaram as informações sobre o surto em Wuhan. A China quer esconder a realidade.
Hong Kong foi a única região da China a fazer uma vigília pelo massacre da Praça da Paz Celestial, no dia 4 de junho. O que isso significa?
Hong Kong carrega o nosso espírito. São os seus moradores que mantêm vivos os ideais da Praça da Paz Celestial. Nós nunca aceitaremos o autoritarismo do Partido Comunista.
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