60% dos pardos não se consideram negros, aponta Datafolha
No Brasil, críticos apontam que o recorte simplistas entre brancos, pardos e pretos pode ocultar diferenças culturais e históricas significativas dentro dos próprios grupos
Uma pesquisa do Datafolha revelou que seis em cada dez pessoas que se declaram pardas no Brasil não se identificam como negros. Enquanto 40% dos pardos se enxergam como parte da população negra, 60% discordam. Entre os pretos, 96% se identificam como negros, com 4% divergindo.
O levantamento, realizado entre 5 e 7 de novembro, ouviu 2.004 brasileiros em 113 municípios, abrangendo todas as regiões do país. A margem de erro varia de 2 a 5 pontos percentuais, dependendo do grupo analisado.
Essa categorização, que une pretos e pardos como "população negra", tem raízes no movimento negro brasileiro e foi oficializada pelo Estatuto da Igualdade Racial em 2010. A definição busca refletir a proximidade socioeconômica desses grupos, mas críticos apontam que ela pode desconsiderar diferenças significativas, como ancestralidades indígenas e percepções individuais sobre pertencimento racial.
Debates sobre cultura, identidade e desigualdades raciais
A reflexão sobre as diferenças culturais dentro da população negra é aprofundada por Thomas Sowell, economista e sociólogo americano, e uma das vozes mais influentes no debate racial. Ele, que é negro criado no Harlem, defende que a cultura desempenha papel central nas desigualdades, muitas vezes mais importante do que o chamado "racismo estrutural".
Em seu livro Negros Caipiras e Esquerdistas Brancos (2005), Sowell traça a origem de elementos da chamada “cultura de gueto” nos Estados Unidos, associando-a à cultura rural de imigrantes pobres da Escócia e Irlanda que se estabeleceram no sul do país.
Ele argumenta que padrões culturais herdados, como impulsividade e aversão à educação formal, ajudaram a perpetuar dificuldades socioeconômicas entre a população negra, independentemente das barreiras raciais. Para Sowell, enfrentar desigualdades exige mudanças culturais profundas, além de políticas públicas eficazes.
No Brasil, o professor Paulo Cruz, negro e crítico de políticas afirmativas, compartilha uma visão semelhante. Em entrevista de 2022, Cruz afirmou que as cotas raciais não atacam as raízes da desigualdade. “Comemorar o sucesso das cotas é ignorar o abandono do ensino público fundamental. A realidade é que pouquíssimos alunos vislumbram chegar à universidade, cotista ou não.” Para ele, é essencial priorizar a qualidade da educação básica e investir no ensino técnico.
Jukka Savolainen, sociólogo, traz outro ângulo ao questionar a ênfase em divisões binárias de raça, como preto e branco, nos debates sobre desigualdade. Segundo ele, análises que ignoram grupos como asiáticos, indígenas e hispânicos distorcem a realidade, dificultando soluções mais abrangentes.
No Brasil, críticos apontam que o recorte simplistas entre brancos, pardos e pretos pode ocultar diferenças culturais e históricas significativas dentro dos próprios grupos.
As soluções para os desequilíbrios sociais vão além de políticas afirmativas e exigem uma análise mais ampla, que leve em conta não só uma visão ideológica e panfletária das questões de raça, mas também fatores culturais, econômicos e educacionais, muitas vezes mais significativos e relevantes para a melhoria das condições de vida das populações envolvidas.
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Comentários (1)
ALDO FERREIRA DE MORAES ARAUJO
2024-11-26 07:54:48O que eu acho nesta questão de cotas baseadas em cor de pele no Brasil, imitando o que foi feito nos EUA (onde realmente a cor da pele, principalmente no sul, poderia determinar todo seu futuro), ao invés de serem adotadas (com uma boa calibração) baseando-se na situação econômica dos possíveis beneficiados, torna o branco pobre num desamparado total.