Bolsonaro, do PSL ao PL, e o contraste no discurso
À época um deputado do baixo clero, Jair Bolsonaro (foto) participou do ato de filiação ao PSL em março de 2018 com um discurso antiestablishment. Ao microfone, numa das salas da Câmara, prometeu um governo avesso ao “toma lá, dá cá” e disse que, desde 2014, quando iniciou o planejamento para se candidatar ao Planalto,...
À época um deputado do baixo clero, Jair Bolsonaro (foto) participou do ato de filiação ao PSL em março de 2018 com um discurso antiestablishment. Ao microfone, numa das salas da Câmara, prometeu um governo avesso ao “toma lá, dá cá” e disse que, desde 2014, quando iniciou o planejamento para se candidatar ao Planalto, buscava meios para chegar ao posto sem dinheiro, conchavos e um grande partido.
Agora, de olho em mais quatro anos à frente da Presidência, Bolsonaro apresenta um perfil antagônico ao que o elegeu. Às 10 horas desta terça-feira, 30, ele se filia ao PL, sigla que ostenta a terceira maior bancada da Câmara. Com expressão nacional, o partido presidido por Valdemar Costa Neto tem os cofres abarrotados.
O PL está na lista das 10 legendas que mais recebem recursos do fundo partidário, usado para o custeio de despesas fixas -- no ano passado, por exemplo, o partido teve à disposição 45,6 milhões de reais para pagar contas de água, luz, aluguel e passagens aéreas, entre outros. A sigla conta também com um dos mais robustos caixas abastecidos pelo Fundo Especial de Financiamento de Campanha -- foram irrigados em suas contas 117,6 milhões de reais nas eleições de 2020.
A mudança para um dos principais partidos do Centrão não é a única incongruência no discurso do presidente. Ele também está longe de abolir o “toma lá, dá cá”. Nos últimos dois anos, as negociatas com o Congresso tornaram-se tão explícitas que o Supremo Tribunal Federal chegou a suspender, no início deste mês, a execução das emendas de relator, que integram o chamado “orçamento secreto”. Depois da determinação, o vice-presidente Hamilton Mourão admitiu que as despesas serviram para agradar a base aliada ao Planalto às vésperas de votações importantes.
Na área econômica, o Bolsonaro de 2018 prometeu priorizar a agenda liberal, com desestatizações e a redução de impostos. O governo, porém, tem enfrentado percalços para avançar nos temas. Em quase três anos, não houve nenhuma privatização. Por ora, o cronograma divulgado pela Eletrobras prevê que a operação de "follow-on" -- oferta de mais ações no mercado -- ocorra até maio do próximo ano. Já o projeto que trata da privatização dos Correios está pendente de votação na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
Quanto aos impostos, houve elevação. Para bancar o novo Bolsa Família, o presidente Jair Bolsonaro aumentou a alíquota de IOF sobre operações de crédito para empresas e pessoas físicas, o que na prática encarece os empréstimos, entre 20 de setembro a 31 de dezembro de 2021. A promessa de emplacar a reforma tributária e aliviar o bolso do contribuinte também não vingou.
Apesar da virada, ainda existem traços da personalidade de Bolsonaro que permanecem intactos. O presidente preserva o discurso que embala a militância conservadora. Nesta terça-feira, Dia do Evangélico no Distrito Federal, ele tende a reaproveitar o tom religioso. Em 2018, pregou “a adoração a Deus”, que, segundo disse, permitiria sua candidatura para “modificar o destino desse país”. Agora, ao seguir a mesma linha, Bolsonaro lembrará que designou ao Supremo Tribunal Federal André Mendonça, um nome “terrivelmente evangélico” -- a sabatina do ex-ministro na CCJ do Senado está prevista para quarta-feira, cinco meses após a indicação.
Assim como em 2018, no discurso desta terça-feira, Bolsonaro também deve atacar a esquerda, com o lema “nossa bandeira nunca será vermelha”, e se valer do discurso ideológico, com a defesa da “tradicional família brasileira”. Ao lado dele, estarão o filho 01, Flávio, e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho -- os dois se filiarão ao partido. É o presidente tentando fazer do PL o novo PSL, com um enredo diferente.
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Comentários (7)
PAULO
2021-11-30 20:42:21Bolsonaro se apropriou do antipetismo com mentiras. Apresentou uma agenda liberal na economia, pois isso gerava votos, diante da corrupção do PT nas estatais, sobretudo na Petrobras. Mas a verdade, mais dias, menos dias, se sobrepõe. Hoje o governo apresenta soluções populistas na economia, se aliou ao Centrão e também a banda podre do STF, que vai blindar seus cupinchas e familiares. A corrupção voltou com força. O futuro do Brasil não é auspicioso. Moro Presidente 🇧🇷
Marco
2021-11-30 14:26:04A maior de todas as incongruências é a promessa de campanha de acabar com a reeleição! Fora todas as demais promessas não cumpridas. Um pândego!
MARCOS
2021-11-30 13:41:50A GRANDE "JOGADA" HOJE É SER DONO DE PARTIDO POLÍTICO. FICA MILIONÁRIO. COME DO MELHOR, HOTÉIS E VIAGENS DE PRIMEIRA CLASSE, TUDO AS CUSTAS DO BURRHO POVO BRASILEIRO.
José
2021-11-30 11:56:03Êta! o choro 😢 começou muito cedo. Pela primeira vez na história um presidente vai conseguir a tão imaginada maioria na Câmara dos Deputados com os partidos coligados só o PP e PL vão entrar com mais de 200 deputados. A oposição raivosa esfarelar. Vai ser bom para o Brasil e o progresso virá com as aprovações necessárias. Assim será e vida que segue. Na continuidade em 2026 o Tarcísio, o trator, vem aí pronto prá arrematar e defenestrar o resquício esquerdalha que sobreviver.
Edmilson
2021-11-30 11:15:20LORPA, FARSANTE, CÍNICO. BRASIL NÃO MERECIA ESSA COISA.
Claudio
2021-11-30 09:52:52Presidente 171 !! O maior de todos ;;;Uma farsa.... 22 te aguarda Bozolino....FORAAAAAAAAAAAAAAAA
Paulo Santos
2021-11-30 09:42:24POBRE POVO BRASILEIRO!!!