Com casos fora de controle, Brasil não passa para a próxima etapa no combate ao coronavírus
Após organizar os dados diários de coronavírus em semanas epidemiológicas, funcionários do Ministério da Saúde tentam decifrar o comportamento da pandemia no Brasil. Em meados de junho, alguns deles presumiram que a curva da doença estaria finalmente se achatando. A semana epidemiológica entre 14 e 20 de junho derrubou essa expectativa. “Parecia que a curva...
Após organizar os dados diários de coronavírus em semanas epidemiológicas, funcionários do Ministério da Saúde tentam decifrar o comportamento da pandemia no Brasil. Em meados de junho, alguns deles presumiram que a curva da doença estaria finalmente se achatando. A semana epidemiológica entre 14 e 20 de junho derrubou essa expectativa. “Parecia que a curva estava chegando a um certo platô, mas entre a 24ª semana e a 25ª tivemos um aumento de 22% dos casos”, disse o secretário de vigilância do Ministério da Saúde Arnaldo Correia.
A reversão de ânimos foi generalizada e frustrou diversas iniciativas regionais para retomar as atividades. Uma das mais aguardadas é a volta às aulas, condição fundamental para que muitos brasileiros possam voltar ao trabalho. A prefeitura do Rio de Janeiro, que pretendia autorizar algumas aulas presenciais a partir do próximo dia 6, recuou da medida. O governo do estado de São Paulo anunciou que as escolas só poderão reabrir parcialmente em setembro, e isso apenas se uma lista de condições for satisfeita em agosto.
É prematuro, portanto, achar que a pandemia esteja em seus momentos finais. Além disso, em um país grande e heterogêneo como o Brasil, a situação tem variado enormemente. Na região Norte, após cenas trágicas de enterros em covas coletivas e de operações da Polícia Federal para investigar casos de corrupção no Pará, os casos começaram a cair. No Sul, que tem registrado números baixos, comparáveis ao de países vizinhos como Argentina e Uruguai, aumentos ligeiros dos casos levaram prefeituras a voltar a fechar o comércio. No estado de São Paulo, a pandemia tem arrefecido na capital e rumado para o interior. No Rio, a calamidade não para de aumentar com o péssimo sistema de saúde. Em várias partes do país, o quadro vem associado à corrupção política no manejo de verbas que deveriam ser usadas para o combate à pandemia.
Essas conhecidas enfermidades crônicas do Brasil — a ineficiência do sistema público e a corrupção disseminada — são as que mais têm travado a passagem do país para a próxima fase do controle da pandemia. No resto do planeta, países e cidades já retomaram as atividades. Uma das principais estratégias adotadas pelos seus governos tem sido a de identificar rapidamente pequenos surtos. Quando surgem vários casos em um escritório, fábrica, bairro ou cidade, as autoridades cercam a área de contágio, testam todo mundo e saem buscando os que entraram em contato com os infectados. Então, todos são obrigados a ficar de quarentena. O método está sendo empregado em países como Japão, Reino Unido e Coreia do Sul, e em cidades como Nova York e Pequim.
O caso mais notório dessa estratégia aconteceu na Alemanha, na região Renânia do Norte-Vestália. No frigorífico Toennies, com 7 mil empregados, 1.500 foram diagnosticados com coronavírus. Por serem locais fechados, frios e com alta concentração de pessoas, frigoríficos revelaram-se espaços propensos ao contágio. Cerca de 100 equipes de profissionais foram enviadas para testar a população e encontrar pessoas que estiveram com os infectados. Um centro com exames gratuitos foi montado. Três dias depois do fechamento do frigorífico, todos os 360 mil habitantes do distrito foram orientados a ficar em casa. Como muitos funcionários eram imigrantes da Romênia, Bulgária e Polônia, 150 tradutores foram contratados pelas autoridades de saúde para ajudar nas recomendações. “Países que estão abrindo a economia têm se esforçado para identificar os surtos e realizar testes em massa no menor tempo possível. O problema é que no Brasil ninguém fez um plano desse tipo”, diz Roberto Kraenkel, professor do Instituto de Física da Universidade Estadual Paulista, a Unesp, e membro do Observatório Covid BR.
Outro recurso tem sido o de limitar viagens de regiões que perderam o controle da doença. Vários governantes buscaram restringir viagens de áreas onde os casos estão em ascensão. Nos próximos dias, a União Europeia deve adotar medidas para reduzir a entrada de pessoas da Rússia, dos Estados Unidos e do Brasil. Na quinta-feira, 25, as cidades de Nova York, Nova Jersey e Connecticut solicitaram que pessoas vindas de oito estados americanos com aumento de casos fiquem em quarentena por 14 dias. Quem violar a regra terá de pagar uma multa de mil dólares.
Assim como o Brasil, os Estados Unidos têm registrado uma disparidade regional muito grande no combate ao coronavírus. Em uma audiência no Congresso, o imunologista Anthony Fauci, que integra a força-tarefa da Casa Branca, afirmou esta semana que há um "aumento perturbador das infecções" em muitos estados do sul e do oeste, como Flórida, Texas e Arizona. Nesses estados, o número de testes tem sido insuficiente. O país recrutou 28 mil pessoas para rastrear contatos de infectados, um número aquém dos 100 mil que seriam necessários. No Texas e na Carolina do Norte, as medidas para reabrir o comércio foram suspensas. “Este vírus não irá desaparecer”, disse Fauci.
Em junho, começaram a ser testadas em humanos as duas vacinas que estão em estágio mais avançado, a da Universidade Oxford e a empresa chinesa Sinovac, que fez uma parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo. Os resultados devem sair entre outubro deste ano e junho do ano que vem. A de Oxford já começou a ser fabricada antes mesmo de ter a segurança e a eficiência comprovadas, para tentar acelerar sua entrada no mercado.
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