Na PF, escolha de Ramagem gera temor por ‘efeito Segovia’
O clima é tenso dentro da Polícia Federal desde que o ex-juiz Sergio Moro pediu demissão e, em coletiva de imprensa, acusou o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir na corporação. A tensão aumentou ainda mais após a divulgação de mensagens trocadas entre Moro e a deputada Carla Zambelli, do PSL, revelarem a vontade de...
O clima é tenso dentro da Polícia Federal desde que o ex-juiz Sergio Moro pediu demissão e, em coletiva de imprensa, acusou o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir na corporação.
A tensão aumentou ainda mais após a divulgação de mensagens trocadas entre Moro e a deputada Carla Zambelli, do PSL, revelarem a vontade de Bolsonaro em indicar o atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência, o delegado federal Alexandre Ramagem, para o comado da PF. A nomeação deve ser publicada no Diário Oficial desta segunda-feira, 27.
Entre os policiais, o que se diz é que o problema não é Ramagem, mas sim a forma como ele chega para assumir o cargo. O delegado é respeitado entre seus colegas e é visto como policial capaz e "operacional" - predicado dos delegados acostumados com o dia a dia das investigações e grandes operações.
O problema, afirmam policiais ouvidos por Crusoé, é sua proximidade com a família Bolsonaro, especialmente com o vereador Carlos Bolsonaro, e a suspeita levantada por Moro ao sair atacando: Ramagem estaria disposto a fazer aquilo que, segundo o ex-ministro, Bolsonaro quer?
Nos últimos dias, uma imagem em que Ramagem e Carlos aparecem juntos em uma festa no Réveillon do ano passado tem circulado na internet (foto). Por causa da relação, Ramagem já se viu envolvido nas suspeitas sobre a existência de uma suposta "Abin Paralela" comandada pelo vereador.
Para exemplificar a situação a ser enfrentada pelo delegado, os policiais citam a história protagonizada recentemente por Fernando Segovia. O delegado foi indicado por Michel Temer quando o então presidente era investigado pela corporação no conhecido “inquérito dos portos”. O delegado durou apenas 99 dias no cargo
Assim como acontece com Ramagem, Segovia assumiu sob a suspeita de qual seria o real interesse do presidente em mudar o comando da corporação. O resultado foi uma desconfiança generalizada entre os investigadores.
Na PF, o diretor-geral e os diretores indicados por ele são o que "patrocinam" as investigações, quase sempre muito caras e com necessidade de emprego de vários policiais. A eles cabe escolher qual caso terá prioridade de verba, uso de policiais de outras áreas e equipamentos. Dessa forma, é necessária uma boa relação entre os cargos de chefia e os delegados para que isso ocorra de uma forma tranquila.
O que aconteceu com Segovia foi que os delegados não confiavam nele — em especial, os integrantes do Serviço de Inquéritos Especiais, o Sinq, que centraliza as investigações mais sensíveis e casos envolvendo pessoas com foro privilegiado. Com a desconfiança, era impossível qualquer tipo de diálogo e no primeiro sinal de tentativa de interferência as coisas desandaram, os delegados se rebelaram e Segovia caiu.
A gota d'água foi uma afirmação dele durante uma entrevista sobre o inquérito que investigava Temer. O então diretor-geral disse acreditar que o caso seria arquivado. A reação dos delegados, mesmo sem nenhum tipo de interferência concreta, foi enorme e Temer teve que demiti-lo.
Mais uma vez, como quando o nome de Segovia surgiu, os policiais afirmam que a corporação não aceita interferência. Caso isso ocorra, relatam, o caso será levado a público e à Justiça.
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