Análise: O cálculo geopolítico do Irã
Com a demissão do conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, os Estados Unidos sinalizaram na semana passada que estariam menos propensos a entrar em conflitos militares e que a diplomacia ganharia importância. Falava-se até em um encontro entre o presidente americano, Donald Trump, e o iraniano Hassan Rouhani. No sábado, 14, duas refinarias da Arábia...
Com a demissão do conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, os Estados Unidos sinalizaram na semana passada que estariam menos propensos a entrar em conflitos militares e que a diplomacia ganharia importância. Falava-se até em um encontro entre o presidente americano, Donald Trump, e o iraniano Hassan Rouhani.
No sábado, 14, duas refinarias da Arábia Saudita foram atacadas por drones e mísseis de cruzeiro. O Irã, comandado pelo aiatolá Ali Khamenei (foto), negou o envolvimento no ataque, mas é o único suspeito.
Apesar de o ataque à Arábia Saudita não fazer sentido quando se leva em consideração a expectativa que havia sobre negociações, há razões geopolíticas para que o Irã tenha desferido o golpe.
"O Irã tem dois imperativos. O país precisa enfraquecer a coalizão de países anti-Irã e deve gerar pressão sobre os Estados Unidos para reduzir as sanções contra a economia iraniana", escreveu George Friedman, analista que estava na consultoria Stratfor e hoje comanda a Geopolitical Futures.
A coalizão anti-Irã citada por Friedman é aquela formada por Estados Unidos, Arábia Saudita, países sunitas do Golfo e por Israel. Nos últimos anos, os líderes desses países estreitaram laços. Israel e Arábia Saudita, ainda que sem contatos oficiais, começaram a se aproximar de maneira clandestina a ponto de se especular sobre um acordo de paz, similar ao que foi feito com Egito e Jordânia. Com essa movimentação em seu entorno, o Irã começou a se ver cada vez mais ameaçado.
O ataque às refinarias sauditas joga uma bomba no meio dessa coalizão. De repente, a Arábia Saudita se descobriu extremamente vulnerável, enquanto os Estados Unidos relutam em sair em sua defesa. Com Trump preocupado com as eleições presidenciais do ano que vem, a chance de um envolvimento militar americano é baixa. Com a exploração do petróleo e gás de xisto nos Estados Unidos, o interesse americano no Oriente Médio também diminuiu.
Se os americanos resolverem retaliar o Irã, a Arábia Saudita pagará o preço com novos ataques. Se os americanos preferirem a inação, então a coalizão anti-Irã perderá força.
Quanto às sanções econômicas contra o Irã, ficará mais difícil mantê-las em uma situação como a atual. Para os iranianos, os acontecimentos das últimas semanas só mostram que eles podem ir mais além para, lá na frente, conseguir mais concessões em uma mesa de negociação com as potências mundiais.
"Os iranianos viram a demissão de John Bolton como um sinal de fraqueza dos americanos. Eles também entenderam que os Estados Unidos e a Arábia Saudita têm poucas opções e muito pouco apetite para reagir fortemente", diz Umer Karim, especialista em Oriente Médio e pesquisador do Royal United Services Institute, em Londres. "Para o Irã, o que importa é fortalecer mais sua posição para quando, um dia, forem sentar-se com Trump."
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Comentários (10)
Ivan
2019-09-18 11:57:04É difícil acreditar que a Arábia Saudita não irá retaliar.
Rogério
2019-09-18 10:12:37Se a exploração de petróleo no pré sal do Brasil estivesse a todo vapor, a economia brasileira só teria a ganhar com a elevação dos preços do petróleo nesse momento. De quebra, a da Venezuela também, caso oa russos e os chineses tomem de vez o que sobrou daquele país.
Carlos
2019-09-18 08:53:13Não sei. Parece tudo armado pela arábia para manipular a aproximação americana com o irã e elevar o preço do petróleo, visto que vão fazer IPO de ações da estatal de petróleo saudita. T linguiça nessa farofa....
Joelson
2019-09-17 19:09:39Quem está comprando o petróleo iraniano e financiando essa teocracia terrorista? pode ser aumentada a pressão ?
WILSON
2019-09-17 16:44:39SEI NÃO... ACHO QUE VAI TER TROCO
Paulo Renato
2019-09-17 16:13:58Se consultarem o Google Maps, dá para perceber que a partir do Iêmen, é impossível lançar esse ataque visto que a distância até à refinaria de Abuqaiq é de mais de 800 Km e esses mísseis de cruzeiro tem alcance máximo de 300km. Em vista disto, esse ataque só pode ter partido de uma restrita região do Irã, basta traçar um círculo de 300km a partir da refinaria, que dá para localizar a região do Irã, onde provavelmente foi lançado este ataque.
João Carlos
2019-09-17 14:18:04Os EUA sob o comando Trump é um tigre de papel. O Trump late mas não morde.
Uirá
2019-09-17 14:17:20Do outro lado, o discurso de que uma intervenção ou retaliação poderiam acabar escalando as tensões e, por consequência, pressionando os preços do petróleo acima dos limites toleráveis em um momento de desaceleração econômica seria mais do que justificável, a economia global não precisa de mais um abalo. Vai ficar faltando encontrar uma solução que atenda a todos os lados.
Uirá
2019-09-17 14:03:55Agora, se eles realmente acreditassem que os americanos e sauditas têm poucas opções, aí estariam sendo ingênuos e praticamente pedindo para sofrerem retaliações. Por outro lado, ninguém quer um outro Iraque neste momento com mais vácuo de poder e uma avenida aberta para o extremismo terrorista, goste-se ou não, mas o Irã tem um mínimo de ordem interna. Os aiatolás podem não ser o ideal, mas não se comparam ao ISIS e à Al-Qaeda.
LuisR
2019-09-17 14:00:07Se ninguém atacou a Arábia Saudita talvez seja vingança de espiritos comandados pelo jornalista que "sumiu" na embaixada na Turquia