Havaianas mete o pé na jaca da política
Fernanda Torres não é uma unanimidade nacional, nem tampouco uma referência de brasilidade, como quer fazer entender a marca de chinelos
Os departamentos de marketing das grandes marcas costumam ser cautelosos até demais antes de entrar em qualquer coisa relacionada a política.
Em um país polarizado como o Brasil, há sempre o risco de desagradar uma parte dos seus consumidores após qualquer manifestação.
Quem acaba de errar a mão — ou melhor, o pé — foi a Havaianas.
Um comercial da marca estrelado pela atriz Fernanda Torres gerou uma reação de diversos políticos de direita, como o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, Eduardo Bolsonaro e o deputado Nikolas Ferreira.
Fernanda começa o vídeo dizendo: "Desculpa, mas eu não quero que você comece 2026 com o pé direito. Não, não é nada contra a sorte. Mas vamos combinar, sorte não depende de você, né? Depende de sorte. O que eu desejo é que você comece o ano novo com os dois pés. Os dois pés na porta. Os dois pés na estrada. Os dois pés na jaca. Os dois pés onde você quiser".
A frase, a princípio, pode ser interpretada sem ter qualquer conotação política.
A atriz, que provavelmente nem escreveu o roteiro do comercial, poderia estar falando apenas que não é para contar só com a sorte na vida, mas buscar ativamente aquilo que se deseja.
O problema não está no texto, mas na figura de Fernanda Torres.
A atriz que estrelou Ainda estou aqui, vencedor do Oscar de filme estrangeiro em 2025, tem tido uma atuação política muito intensa ao longo do ano.
Ela deu seguidas declarações favoráveis ao presidente Lula e ainda tem participado em atos públicos contra o Congresso nacional.
Em um telefonema gravado para Lula, comemorando o Oscar, ela disse: "É tão bonito vir esse prêmio agora, em uma hora dessa, durante a sua presidência".
Fernanda ainda é tida como um exemplo da elite de artistas bem relacionada que sempre consegue boquinhas do Estado ou de famílias de banqueiros, como a dos Moreira Salles.
Em um país em que Lula tem uma aprovação capenga de 30% e quer emplacar um quarto mandato, apesar de a maioria dos brasileiros não achar isso uma boa ideia, a escolha de Fernanda Torres só podia ser arriscada.
Fernanda Torres não é uma unanimidade nacional, nem tampouco uma referência de brasilidade, como quer fazer entender a Havaianas.
Artistas têm todo direito de se manifestar politicamente.
Mas cabe às marcas saber com quais artistas elas devem ter uma relação mais próxima.
O consolo para a Havaianas é que, apesar de muitas ameaças de boicotes, esse tipo de coisa nunca prospera, nem no Brasil, nem no resto do mundo.
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