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    Edição Semana 400

    Você é muito esperto para ser enganado?

    Quando informações mostram que tomamos uma decisão equivocada, nossa visão otimista sobre nós mesmos gera a dissonância cognitiva

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    Luiz Gaziri
    7 minutos de leitura 26.12.2025 03:30 comentários 0
    "Carlos", o médium José Alvarez. Reprodução/redes sociais
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    No final de fevereiro de 1988, o Opera Hall em Sydney, Austrália, estava lotado para o espetáculo de um novo fenômeno americano.

    Não se tratava de uma banda de rock ou algo do gênero, e sim, do médium José Alvarez.

    Ao subir no palco acompanhado por uma enfermeira, Alvarez se sentava em uma poltrona e, minutos depois, seu pulso começava a não mostrar mais sinais.

    À beira da morte, retorcendo seu corpo em agonia, de repente, uma força oculta o tomava e Alvarez retornava à vida. No entanto, ele não respondia mais como José Alvarez, e sim, como Carlos.

    “Eu sou Carlos” dizia o médium, afirmando ser um espírito de mais de 2 mil anos que usava o corpo de Alvarez para trazer ensinamentos que marcariam uma nova era para a humanidade.

    Carlos carregava consigo alguns cristais que, segundo ele, tinham poderes desconhecidos e curavam inúmeras doenças.

    Em aparições públicas, a equipe do médium comercializava produtos como pingentes de cristal, um livro de sua autoria e até mesmo frascos que continham as lágrimas de Carlos.

    Durante a apresentação no Opera Hall, centenas de perguntas em pedaços de papel eram enviadas a Carlos: a maioria, suplicando pela cura de doenças.

    Incrivelmente, ao responder as questões, Carlos dava a descrição completa da pessoa que havia feito à pergunta.

    “Essa pergunta foi feita por uma senhora que está usando um colar de pérolas, mas elas são feitas de vidro. Se esse colar fosse feito de cristais reais, ela não sofreria de enxaqueca.”

    A cada resposta, a plateia vibrava e ficava cada vez mais impressionada com os poderes do médium.

    Como você pode imaginar, Alvarez era um charlatão.

    No entanto, diferente dos charlatões que conhecemos, José Alvarez era um enganador fabricado com o intuito de mostrar à sociedade o quão facilmente as pessoas são levadas a crer em falsos “profetas”.

    O grande arquiteto desse projeto foi o mágico americano-canadense James Randi, famoso por desmascarar publicamente charlatões religiosos, médiuns e afins.

    Para o projeto “Carlos”, Randi fez um acordo com o programa de televisão australiano, Sixty Minutes, em que toda a patifaria seria exposta.

    José Alvarez, um ator de 19 anos, foi treinado exaustivamente por Randi para se passar por Carlos.

    Em suas apresentações, Alvarez usava um fone de ouvido escondido debaixo de sua vasta cabeleira, pelo qual recebia instruções de Randi sobre a descrição física de cada pessoa da plateia que havia mandado perguntas, bem como, sobre o que deveria falar em cada momento de seu espetáculo.

    O truque para fazer seu pulso parar e enganar até médicos e enfermeiras, era grudar uma pequena bola de borracha na região da axila e pressioná-la com um dos braços.

    Curiosamente, mesmo após a revelação da fraude pelo programa Sixty Minutes, muitas pessoas, continuavam afirmando acreditar em Carlos: “Não importa o que eles disseram, nós acreditamos em você”.

    Será que eu e você seríamos tão facilmente enganados em situações similares? Muitas pessoas insistem em dizer que são espertas demais para serem vítimas de charlatões, principalmente em cenários em que o gatuno foi repetidamente exposto pela mídia.

    No entanto, quase 40 anos depois do golpe de Carlos, muitos brasileiros estão em dúvida sobre a capacidade de seus compatriotas em se blindarem de enganadores.

    Apesar de a Polícia Federal, o Ministério Público, a Procuradoria-Geral da República e a mídia exporem frequentemente o envolvimento de políticos em escândalos de corrupção, grande parte da população brasileira continua defendendo sujeitos comprovadamente desonestos.

    Se isso não bastasse, diversas ainda compram seus “cristais”, livros, bandeiras, camisetas, cursos e, inclusive, fazem doações generosas para suas contas bancárias, a fim de pagar por pastéis, caldos de cana, hospedagens na Flórida e advogados.

    Porém, hoje em dia apenas um charlatão atende por Carlos: os demais são conhecidos como Luiz, Jair, Pablo, Dirceu, Valdemar, Sérgio, Flavio, Antonio e tantos outros nomes que ocupariam dezenas de páginas desta revista.

    Se James Randi ainda estivesse vivo, estou certo de que ele ficaria surpreso em descobrir que nem mesmo o seu alerta ajudou a prevenir o surgimento de uma nova classe de adoradores de charlatões em várias partes do mundo.

    Há décadas, cientistas comportamentais estudam um fenômeno conhecido como dissonância cognitiva, que é o desconforto que sentimos quando consumimos informações que demonstram que tomamos uma decisão equivocada.

    Muitos de nós já votamos em um político e, posteriormente, descobrimos pela mídia que ele estava envolvido em algum tipo de corrupção.

    Em momentos como esse, um sentimento desconfortável emerge: julgamos que somos espertos demais para ter votado em um sujeito desonesto.

    Como um dos maiores motivadores para o ser humano é manter uma imagem positiva de si mesmo, quando a dissonância cognitiva nos captura, o caminho mais sedutor é sempre inventar uma justificativa para descartar a evidência de que o político no qual votamos é um crápula.

    “Isso é um golpe da mídia”, “nada foi provado contra ele”, “o sítio não era dele”, “essas rachadinhas são uma invenção”.

    Após inventarmos as desculpas mais bizarras para manter uma imagem positiva de nós mesmos, o desconforto é reduzido e temos um sentimento crescente de que somos inteligentes, racionais, honestos e imparciais.

    Perceba que foi exatamente isso o que aconteceu com as pessoas que diziam ainda acreditar no médium José Alvarez: depois de terem ido até a sua apresentação, comprado seus produtos, lido seu livro e terem comentado sobre o poder do médium com seus amigos, o caminho mais fácil para essas pessoas é continuar acreditando no charlatão mesmo depois de a mídia demonstrar que tudo não passava de uma armação.

    Se as pessoas se esforçam para manter uma crença viva mesmo que essa crença tenha sido formada há uma semana, imagine a resistência para mudar de opinião de um indivíduo que apoia um político há anos.

    É importante notarmos que as pessoas não fabricam justificativas por amarem políticos, e sim por amarem a si mesmas de forma demasiada.

    Se você já se comportou dessa maneira, isso significa que você é um ser humano: parabéns!

    Da mesma forma que errar é humano, admitir suas falhas e assumir um erro também é um comportamento nobre praticado por muitos de nós.

    Apesar de a sociedade valorizar as pessoas que mantêm suas crenças firmes, não mudar de opinião após descobrir estar errado não é um sinal de inteligência e sim, de arrogância – uma demonstração de que você não está aberto a aprender.

    Está mais do que na hora de o brasileiro deixar de ser presa fácil para a dissonância cognitiva e passar a enxergar a realidade.

    Nosso país não merece ficar nas mãos de charlatões e corruptos.

    Somente com a conscientização de que existem falhas em nossa cognição e que nossos julgamentos estão sujeitos a vieses que agem fora de nosso nível de consciência, é que verdadeiramente ficaremos livres para fazer as escolhas que irão tirar o Brasil da situação em que nós mesmos o colocamos.

    Como dizia o lendário cientista Carl Sagan, da Cornell University: “Melhor a verdade dolorida, do que a ilusão confortante. E, no final das contas, os fatos são mais reconfortantes do que a fantasia”.

    Espero que 2026 seja o primeiro ano em que o brasileiro deixe suas fantasias apenas para o Carnaval e as mantenha distante das urnas.

    Luiz Gaziri é professor de ciências comportamentais, palestrante e autor do livro A Arte de Enganar a Si Mesmo

    Instagram: @luizgaziri

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