A "mediação" de Temer pelo Banco Master
"Foi assim que eu fui contratado. para fazer uma mediação", afirmou o ex-presidente em entrevista na qual se disse "amigo e fã do Ibaneis"
As investigações sobre o Banco Master assombram Brasília, porque o dono da instituição liquidada pelo Banco Central, Daniel Vorcaro, travou relacionamentos com políticos dos mais diversos espectros, e contava com a ajuda deles para conseguir negociar uma venda para o BRB.
Entre os auxílios buscados por Vorcaro esteve o do ex-presidente Michel Temer, que falou sobre o assunto abertamente em entrevista concedida ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em setembro.
"Você sabe que eu sou advogado, né? E, como advogado eu tenho que advogar, e eu advogo, nos dias atuais, ou dando pareceres ou fazendo palestras, até remuneradas, confesso a você, tamanho o número de palestras que eu faço, né? E, terceiro ponto, eu faço muita mediação. Você sabe que eu já fiz, pelo menos me recordo, três ou quatro mediações que eu fiz, muito oportunas e que deram certo", disse Temer ao responder a pergunta sobre sua atuação no setor privado, que mencionava o Master.
Mediação
"É uma atividade profissional. Hoje, você tem, ao lado das questões judiciárias, que são levadas ao judiciário, você tem de um lado o arbitramento. De outro lado, pego muito essa história da mediação", seguiu o ex-presidente, mencionando "aquela conversa do [ex-]presidente [Jair] Bolsonaro com Alexandre Moraes", ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
A conversa entre Bolsonaro e Moraes, que foi indicado por Temer ao STF, não deu em nada, mas o ex-presidente seguiu exaltando seu trabalho como mediador enquanto se preparava para falar do Master:
"Eu fui procurado por um cidadão que há 20 anos brigava com os irmãos, uma grande empresa aqui em São Paulo e no Brasil. E ele foi me procurar e disse: 'Olha, depois que o senhor fez essa conversa do Bolsonaro com o Alexandre, o senhor vai resolver meu caso, o senhor vai fazer um acordo para mim. E sabe o que eu achei estranho, mas um ano depois nós conseguimos uma composição."
"Amigo e fã do Ibaneis"
"Nesse caso que você tá dizendo [do Banco Master], eu sou muito amigo do Ibaneis [Rocha, governador do Distrito Federal], sou amigo e fã do Ibaneis. E até o presidente do banco, do BRB, [Paulo Henrique Costa, que foi afastado do cargo por 60 dias] eu havia nomeado para a Caixa Econômica, uma época, como vice-presidente. Eles me chamaram numa ocasião, há duas semanas atrás, mais ou menos, para Brasília, interessados que se achavam ainda na formalização da transação [de venda do Master para o BRB], até pensando numa num determinado setor do Banco Master", relatou Temer, seguindo:
"E eu fui para Brasília, estava lá uma reunião, estava o Daniel Vorcaro. E o Ibaneis me disse, o governador Ibaneis: 'Nós queríamos que você fizesse uma mediação, que nós ainda temos interesse em manter essa negociação, embora mais restrita, em face do que está acontecendo'. Então, foi assim que eu fui contratado. para fazer uma mediação. É o que eu estou fazendo."
Quando Temer deu essa entrevista, o Banco Central já tinha rejeitado a compra do Master pelo BRB. Questionado sobre essa mediação, considerando as suspeitas que existiam sobre os negócios do Master, Temer não disse exatamente com quem iria mediar a questão, e respondeu o seguinte:
"Eu acho que a mediação que me pedem é exata e precisamente para encontrar um caminho, não é? Encontrar um caminho significa, não fazer, não realizar a transação com BRB nos termos inaugurais, nos termos iniciais. Talvez vir a fazer, não sei se será possível, uma transação muito inferior, muito menor. É possível. Eu eu entrei nisso há uma semana, eu não tenho todos os dados, porque também os grupos têm advogados, os mais variados, que peticionam os tribunais, vão peticionar os tribunais. Eu não sei se será possível ou não. Eu disse que já fiz várias mediações bem sucedidas. É possível que esta não seja bem sucedida."
Colaboradores
Também é de conhecimento geral que o Banco Master contou com o auxílio do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e de Ricardo Lewandowski, hoje ministro da Justiça do governo Lula, entre outros políticos relevantes de Brasília.
Numa das maiores demonstrações de influência do Master, os líderes de seis partidos assinaram, em 2 de setembro, um requerimento de urgência para um projeto de lei complementar que daria ao Congresso Nacional o poder de demitir o presidente e os diretores do Banco Central.
Leia mais: A prisão de Vorcaro, o Centrão e o medo da “delação do fim do mundo”
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Comentários (1)
Um_velho_na_janela
2025-11-20 11:02:45Não canso de me repetir, se a Compliance Zero for fundo, a República cai, por isso, "TODA A FORÇA À POLÍCIA FEDERAL"