Meirelles alerta governo Lula sobre gastos: "Insustentável"
"Em algum momento, o governo terá de interromper a atual trajetória do gasto", diz presidente do Banco Central dos primeiros governos de Lula
Presidente do Banco Central nos dois primeiros mandatos presidenciais de Lula, Henrique Meirelles (foto) fez uma alerta ao governo do petista sobre o "excesso de gastos fora da meta fiscal", que "deve manter os juros altos por mais tempo".
"Na semana passada, o Senado aprovou a retirada de mais R$ 5 bilhões da meta fiscal deste ano para ampliar gastos com Defesa. A regra valerá para os próximos seis anos e resultará em R$ 30 bilhões fora da meta. Já estão fora da meta fiscal deste ano a ajuda a setores afetados pelo tarifaço, despesas com precatórios e o ressarcimento de aposentados e pensionistas que foram vítimas de descontos indevidos em seus benefícios. São exceções demais", diz Meirelles em sua coluna no Estadão.
Ex-ministro da Fazenda de Michel Temer, Meirelles lembra ainda que o governo ainda "discute um socorro de R$ 20 bilhões aos Correios", destacando que "não há espaço aparente no orçamento para isso" e que "a alternativa, um empréstimo via bancos públicos, é controversa e remonta às piores práticas do passado recente".
"Não há sinal de mudança"
"Devido a esta rotina de anúncios de novos gastos, é consenso que a taxa Selic deve permanecer no atual patamar de 15% ao ano por algum tempo", contata o ex-presidente do BC.
Incomodados, os governistas voltaram a pressionar Gabriel Galípolo pela redução dos juros, mas Meirelles ressalta que há uma condição muito clara para que a taxa Selic volte a recuar:
"Não há sinal de mudança na política monetária porque não há sinal de mudança na política fiscal. Enquanto o governo seguir gastando além da conta, não haverá espaço para uma taxa de juros menor."
Meirelles chama a atenção ainda para o projeto da reforma administrativa, que ainda não reuniu as 171 assinaturas necessárias para ser protocolado.
"Governo terá de interromper a atual trajetória do gasto"
"Reformar a máquina pública é essencial para reduzir gastos e estabelecer práticas mais justas de remuneração, evitar que algumas categorias consigam receber uma parcela maior dos recursos públicos do que outras. Mas será uma tarefa difícil , como foi a negociação pela reforma da Previdência, que comecei no governo Temer em 2017 e só saiu em 2019. O governo deveria se empenhar pela reforma administrativa, enfrentar os grupos de interesse", escreve, para concluir:
"Em algum momento, o governo terá de interromper a atual trajetória do gasto, que é insustentável. Quanto mais cedo fizer isso, menor será o esforço para colocar as contas no lugar e menor será o sacrifício imposto à população. Não precisamos chegar ao limite que atingimos na crise de 2014-2016, quando o PIB recuou mais de 5,2% entre junho de 2015 e maio de 2016. Temos conhecimento suficiente para não repetir erros do passado e experiência acumulada para saber dos benefícios de uma política fiscal saudável para o crescimento e o emprego."
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