Qual é a chance de sucesso de uma reunião entre Lula e Trump?
Para o economista Igor Lucena, o petista pode sair enfraquecido do diálogo com o presidente americano

Em discurso na 80ª Assembleia-Geral da ONU na terça, 23, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que teve uma "excelente química" ao se encontrar com o presidente Lula.
Trump disse que os dois agendaram uma conversa para a próxima semana.
Poucas horas depois, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, esclareceu que o contato entre os líderes será feito por telefone ou videoconferência.
Crusoé entrevistou Igor Lucena, economista e Doutor em Relações Internacionais, para analisar o impacto do aceno de Trump a Lula em possíveis sanções a instituições financeiras, além dos ganhos ou perdas políticas para o petista.
Esse aceno de Trump a Lula diminui a chance de os bancos brasileiros sofrerem sanções?
Existe, sim, uma possibilidade de esse convite para negociar leve a uma diminuição de medidas contra instituições financeiras. Mas não acredito que isso se estenda às pessoas físicas, como os alvos da Lei Magnitsky. Considero que esse instrumento de pressão continuará ocorrendo.
O que impede Lula de fazer um acordo com Trump?
O presidente Lula, em nenhum momento, fala em reduzir tarifas de importação do Brasil, aumentar investimentos nos Estados Unidos ou abrir espaço para que empresas americanas explorem as chamadas terras raras, algo de total interesse de Trump.
Então, penso que, se não há nada de concreto que o Lula possa oferecer aos Estados Unidos, como fizeram Japão e União Europeia, a reunião acabaria sendo pior do que não ter acontecido.
Dá para resolver um imbróglio como esse por telefone ou vídeochamada?
É muito difícil obter algum resultado relevante por chamadas de vídeo ou telefone. Não acredito que isso seja possível. Entendo que seria mais uma tentativa de abrir um canal de diálogo.
O presidente americano é um homem de negócios, e homens de negócios preferem reuniões presenciais, olho no olho.
Por isso, considero inadequado tratar uma questão tão séria como as tarifas brasileiras por videoconferência.
Essa estratégia pode até tentar proteger Lula de uma eventual situação de constrangimento na Casa Branca, como outros líderes já enfrentaram, mas, no final, pode não trazer nenhum resultado efetivo.
O que Trump e Lula podem conseguir com isso?
Trump terá espaço para afirmar: “Olha, estou aberto à negociação, mas tragam algo em troca”.
Para Lula, o custo é que ele poderá dizer: “Fui lá, tentei negociar, mas não houve abertura”.
Ou seja, o encontro pode reforçar a narrativa lulista de que os Estados Unidos não estão dispostos a abrir as portas para resolver os problemas.
Se houvesse real interesse de Lula em resolver essa questão, o presidente brasileiro já teria ido pessoalmente à Casa Branca para apresentar um conjunto de informações, ideias ou projetos para persuadir o governo americano.
Mas não é isso que está acontecendo.
A Lei Magnitsky aplicada à esposa do ministro Alexandre de Moraes pode afetar os clientes do escritório dela?
Os clientes do escritório de Viviane Barci podem sim ficar receosos, porque o posicionamento de Scott Bessent em relação às instituições financeiras pode ser estendido a outras instituições privadas, até porque ele já sancionou a holding do ministro Alexandre de Moraes.
Imagine uma empresa privada que mantém negócios com os Estados Unidos, opera em dólar e, por algum motivo, contrata o escritório para causas no Brasil. Nesse cenário, essas empresas também podem ser alvo de sanções.
Não digo que será a totalidade dos clientes, mas certamente alguns poderão optar por não realizar pagamentos ou contratar os serviços do escritório da esposa do ministro, temendo sofrer sanções secundárias.
Leia em Crusoé: "O custo de aplicar a Magnitsky é muito baixo para Trump"
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