Trump vai frustrar trem da alegria de Lula em Nova York?
Departamento de Estado tem atrasado concessão de vistos, incluindo o do ministro da Saúde Alexandre Padilha, um dos criadores do Mais Médicos

A concessão de vistos para chefes de governo e de Estado é uma condição fundamental para a realização da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
Para um país que tem na Primeira Emenda da sua Constituição a defesa intransigente da liberdade de expressão, seria contraditório que a Casa Branca definisse quem pode ou não falar no plenário da Assembleia-Geral.
Os ditadores mais sanguinários sempre tiveram total liberdade para usar o púlpito da ONU para falar suas barbaridades.
"O diabo veio aqui ontem. Ainda cheira a enxofre hoje", disse o ditador venezuelano Hugo Chávez, referindo-se a George W. Bush.
"Se [o presidente John] Kennedy não fosse milionário, analfabeto e ignorante, ele entenderia que não é possível se revoltar contra os camponeses", afirmou o cubano Fidel Castro, em 1960.
Vale lembrar ainda que foram os Estados Unidos que impulsionaram a criação da ONU, principalmente pela atuação do presidente Franklin Roosevelt.
E Nova York foi escolhida como cidade para a sede da ONU porque os Estados Unidos eram considerados como um país neutro e estável.
O presidente Lula, que tem mantido um forte discurso antiamericano, já teve o seu visto garantido para participar da Assembleia-Geral na próxima semana.
Não há problema em relação a isso.
O embate entre o Itamaraty e o Departamento de Estado americano nos últimos dias, portanto, não tem a ver com a participação de Lula, mas com a concessão de vistos para a comitiva brasileira.
Três questões emergem daí.
A primeira é que Lula tem usado a Assembleia-Geral da ONU como para promover seus ministros e propagandear suas políticas governamentais.
Em 2023, o petista levou treze ministros para Nova York. Foi um trem da alegria. Uma festa de selfies.
Além de assistir ao discurso do presidente, os ministros participaram de eventos na cidade.
Um pedido excessivo de vistos pode ter piorado o mau humor do governo de Donald Trump, que aparentemente tem atrasado a concessão dos documentos de viagem.
Leia em Crusoé: O trem da alegria de Lula em Nova York
A segunda questão é em relação ao ministro da Saúde Alexandre Padilha (na foto, com Lula).
Padilha foi um dos articuladores do programa Mais Médicos, em Cuba.
Foi ele quem chefiou a delegação brasileira que foi para Havana em 2012 discutir o esquema.
O ministro teve um papel central nas tratativas com a ditadura comunista, determinando quanto os cubanos receberiam da ditadura comunista.
Foi dele a ideia de colocar a Organização Panamericanan de Saúde (Opas) como intermediária na operação, de acordo com mensagens trocadas pelos diplomatas.
Na viagem para Havana, Padilha foi acompanhado por dois funcionários do governo brasileiro, que tiveram seus vistos americanos cancelados esta semana: Mozart Salles e Alberto Kleiman.
Em agosto, o Departamento de Estado americano divulgou a seguinte nota: "O programa Mais Médicos do Brasil foi um golpe diplomático que explorou médicos cubanos, enriqueceu o regime corrupto cubano e foi acobertado por brasileiros e ex-funcionários da Opas. Que não haja dúvidas: os Estados Unidos continuarão a responsabilizar todos os indivíduos vinculados a esse esquema coercitivo de exportação de mão de obra".
No mesmo mês, Padilha confirmou que o visto de sua esposa e de sua filha foram cancelados.
Na ânsia de enfrentar o governo Trump e colher dividendos eleitorais, o governo Lula pediu autorização para a viagem de Padilha.
A resposta, por enquanto, tem sido negativa.
A terceira questão é que o governo Lula tem feito uma campanha informal para que a sede da ONU seja transferida para Genebra, na Suíça.
Ao estressar as relações com os americanos na véspera da Assembleia-Geral, os petistas buscam argumentos para reforçar sua própria campanha.
Lula está intencionalmente buscando impulsionar uma narrativa antiamericana, com o lema "Brasil Soberano", pensando na eleição do ano que vem.
Leia em Crusoé: Alexandre Padilha começa a pagar pelo Mais Médicos
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