Encontro de hoje pode redefinir guerra da Ucrânia
Reunião hoje em Washington: Trump pressiona Zelensky sobre acordo de paz. Principais líderes europeus viajam em peso para o encontro.

O encontro entre Donald Trump e o ditador Vladimir Putin deixou a Europa em alerta. A expectativa de alguns poucos otimistas era de avanços reais para uma trégua na guerra da Ucrânia, mas o resultado foi o que a maioria temia, mas já adiantava: o presidente americano parece ter cedido aos encantos de Putin e suas demandas.
O russo aproveitou o momento. Ao recusar concessões diretas e insistir em manter e ampliar o controle das áreas parcialmente ocupadas em Donetsk e Luhansk, ele conseguiu reforçar sua posição e deve ter saído satisfeito.
Trump, louco para chegar a um acordo de paz para lhe dar essa vitória no currículo - mesmo que seja um acordo claramente ruim para uma das partes - sinalizou disposição em negociar o congelamento da guerra nas linhas atuais, o que consolidaria ganhos territoriais de Moscou.
Para os diplomatas europeus, isso soa como uma paz ilusória, um arranjo que deixaria a Ucrânia fragilizada e vulnerável a outros ataques sem resolver a disputa de fundo. Os russos querem a Ucrânia inteira.
As eventuais promessas de garantias de segurança feitas por Washington também levantam dúvidas. A ideia seria oferecer compromissos de defesa semelhantes ao artigo 5 da OTAN:
“As Partes concordam que um ataque armado contra uma ou mais delas na Europa ou na América do Norte será considerado um ataque contra todas elas e, consequentemente, concordam que, se tal ataque armado ocorrer, cada uma delas, no exercício do direito de legítima defesa individual ou coletiva reconhecido pelo Artigo 51 da Carta das Nações Unidas, auxiliará a Parte ou Partes atacadas, tomando imediatamente, individualmente e em conjunto com as outras Partes, as ações que julgar necessárias, incluindo o uso de força armada, para restaurar e manter a segurança da área do Atlântico Norte.
Qualquer ataque armado e todas as medidas tomadas em decorrência dele serão imediatamente reportados ao Conselho de Segurança. Tais medidas cessarão quando o Conselho de Segurança tiver tomado as medidas necessárias para restaurar e manter a paz e a segurança internacionais."
Só que, nas palavras do representante americano Steve Witkoff, isso fica vago, poderia se dar sem envolver formalmente a aliança, o que levanta o questionamento se essas garantias teriam peso real diante de uma eventual nova ofensiva russa.
Nesse cenário, a pressão volta toda para os ombros de Volodymyr Zelensky. O presidente ucraniano está a caminho de Washington para tentar reverter a percepção de isolamento.
Para isso ele contará com apoio explícito de líderes europeus, visto que também se deslocam para os EUA o presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, o chefe de governo alemão, Friedrich Merz, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o presidente finlandês, Alexander Stubb e o secretário-geral da Otan, Mark Rutte.
Esse grupo enxerga o grande risco de erosão da soberania ucraniana - e europeia - caso Trump avance em negociações bilaterais com Putin sem consultá-los.
A situação expõe um impasse estratégico: Trump busca se apresentar como o mediador capaz de encerrar a guerra, mas sua postura parece beneficiar Moscou. Putin, por outro lado, ganha tempo e legitimidade ao ser tratado como parte essencial da solução.
Já a Ucrânia enfrenta o dilema de negociar sob extrema pressão externa sem renunciar ao próprio território, especialmente sem garantias muito fortes de que não haveria novos ataques daqui a alguns anos - basta lembrar os 8 anos de intervalo entre as invasões da Crimeia em 2014 e de Kharkiv em 2022.
A situação parece com a de um prédio onde um vizinho forte e violento invadiu um apartamento ao lado e o síndico quer convencer o dono do apartamento invadido e seus vizinhos do mesmo andar a cederem a sala de estar para ele, que já tinha invadido uma vaga na garagem, como sendo algo razoável.
Outro problema é que o síndico mora longe, parece simpatizar com o invasor, e os dois juntos têm os maiores porretes de urânio e plutônio do prédio, o que dificulta as contra-argumentações.
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