É o fim de Evo Morales na Bolívia?
Foragido da Justiça, ex-presidente pregou o voto nulo, que alcançou 19% nas eleições, e é defendido por traficantes armados

O líder dos cocaleros Evo Morales (foto) continuará influenciando a política boliviana, mesmo sem um cargo no Executivo e tendo saído do Movimento ao Socialismo (MAS), partido que ele criou.
Morales não participou da eleição, porque o Tribunal Constitucional entendeu que a Constituição não o autoriza a tentar um quarto mandato nas urnas.
Ele também está foragido da Justiça, uma vez que enfrenta uma ordem da prisão por acusações de tráfico humano e estupro de menor (quando era presidente, em 2015, ele se relacionou com um adolescente de 15 anos).
Mas Morales ainda é querido por uma fatia importante dos eleitores e comanda milhares de cocaleros armados e violentos, que poderão atrapalhar o futuro do país.
O segundo turno está marcado para 19 de outubro, entre os opositores Rodrigo Paz Pereira, de centro, e Jorge Tuto Quiroga, de direita.
Voto nulo
A medida da força de Morales está na elevada quantidade de voto nulo este ano.
Revoltado com a decisão que o deixou de fora do pleito, o cocalero pregou o voto nulo e disse que a eleição não tinha legitimidade.
"Com firmeza e dignidade, nossos companheiros dos movimentos sociais levantaram suas vozes, exercendo seu direito democrático de rejeitar esse processo eleitoral com um pronunciamento legítimo: voto nulo. Hoje, no município de Entre Ríos, acompanhados pela força indomável das Seis Federações do Trópico de Cochabamba, chega ao fim uma campanha que é mais que política: é um grito de unidade e defesa de nossa soberania, no estádio municipal que hoje vibra de convicção e esperança. Pela dignidade da nossa pátria, pela unidade indestrutível do nosso povo, defendamos a democracia com um voto nulo!", escreveu Morales nas redes sociais na quinta, 4.
No primeiro turno que ocorreu neste domingo, 19% dos bolivianos seguiram sua orientação e cancelaram o voto.
Normalmente, o voto nulo oscila entre 3% e 6%.
A fatia de 19% de voto nulo, portanto, só pode ser atribuída a Morales.
Narcotraficantes armados
Além de influenciar uma boa fatia do eleitorado, Morales tem domínio territorial da região do Chapare, a principal produtora da pasta base de coca, matéria-prima do crack e da cocaína.
Mesmo com mandado de prisão, Morales não foi detido porque está protegido no Chapare por homens armados, que lucram com o narcotráfico.
Ao votar neste domingo, ele estava acompanhado de 150 soldados, que impediram qualquer ação da polícia.
Morales, aliás, continua como o presidente das Seis Federações do Trópico de Cochabamba, que reúne os cocaleros.
Com esse poder armado, Morales ainda será capaz de bloquear estradas, pressionar o governo e ameaçar adversários, algo que ele tem feito desde os anos 1980 e 1990.
Para Morales, bloquear estradas nunca foi um problema.
"Na Bolívia, as exportações são interrompidas quando há bloqueios de estradas organizados pela economia ilegal, mas as exportações de drogas não são interrompidas porque elas usam aviões pequenos, não estradas", afirma o analista político boliviano Humberto Vacaflor.
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