Trump versus Putin
O resultado no Alasca dependerá menos de gestos simbólicos e mais de até que ponto Trump está com pressa para se mostrar bem-sucedido

O presidente americano Donald Trump e o ditador russo Vladimir Putin levam para a mesa de negociações de paz no Alasca nesta sexta, 15, agendas pessoais, interesses estratégicos e realidades econômicas bem diferentes.
Trump comanda a maior economia do planeta, capaz de financiar alianças militares de longo prazo.
Já o líder russo conduz um país cujo PIB equivale a 7% do americano, sobrecarregado por uma guerra arrastada e pelas sanções internacionais mais duras desde a Guerra Fria - ainda que consiga contorná-las parcialmente com a ajuda de China, Índia e Brasil.
Essa diferença de fôlego econômico é tão relevante quanto a assimetria de tempo político.
Democracia versus ditadura
Só que aí o jogo muda: Trump, de 79 anos, e com pouco mais de três anos de mandato pela frente, precisa mostrar resultados para consolidar apoio interno.
Trump precisa ficar de olho para as eleições do Congresso no próximo ano, já que a paz era uma promessa de campanha.
Putin, aos 72 anos, deve ficar no poder por tempo indefinido, ditador que é.
Com paciência, Putin pode esperar, testar limites e explorar cada brecha na posição ocidental enquanto não tem que se preocupar com a opinião pública de seu povo nem com rivais políticos.
Graças ao uso de detenções e ameaças, o ditador conseguiu neutralizar qualquer oposição interna.
Campo de batalha
Moscou chega à reunião no Alasca fortalecido por avanços recentes, como a ruptura das defesas ucranianas ao norte de Pokrovsk.
No plano diplomático, a Rússia quer mais do que um cessar-fogo: busca a reabilitação internacional, o alívio de sanções e novas áreas de cooperação, especialmente no Ártico e no setor energético.
O Kremlin enfrenta um quadro de desgaste: a guerra drena recursos, pressiona o orçamento e força o governo a redirecionar investimentos para sustentar a máquina militar, enquanto o acesso à tecnologia e capitais ocidentais permanece limitado.
Só Trump comanda uma economia que dispõe de instrumentos financeiros e comerciais para pressionar adversários.
A posição americana sofre com a divisão política interna no Partido Republicano, com a resistência de parte dos seus eleitores e base do Congresso em sustentar indefinidamente o apoio militar à Ucrânia, mesmo que o apoio logístico já tenha diminuído em relação aos tempos de Biden.
Bom para quem?
Para o russo, sair com um cessar-fogo congelando o conflito consolidando os ganhos territoriais da Crimeia e Dombas, por exemplo, seria um sucesso com baixo custo imediato.
Para Trump, poderia representar um acordo histórico para seu eleitorado, mesmo que fragilizasse a Otan. Os interesses da Ucrânia e da Europa são secundários.
Putin ainda pode acenar com um novo tratado nuclear para substituir o New Start, previsto para expirar em 2026. Um gesto que, ao mesmo tempo, teria apelo político para Trump e desviaria o foco da Ucrânia para um tema mundial, onde os dois poderiam reivindicar protagonismo.
O resultado da reunião no Alasca dependerá menos de gestos simbólicos e mais de até que ponto Trump está com pressa para se mostrar bem-sucedido e, portanto, disposto a se dobrar às condições centrais exigidas por Moscou.
Putin deve embalar seus interesses num reluzente acabamento dourado de razoabilidade para convencer o americano de que ele é magnânimo, genial e ótimo negociador. O mesmo dourado que recobre a medalha de um Prêmio Nobel da Paz.
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