Embraer no olho do furacão de Trump
A falta de uma estratégia diplomática clara e a escalada retórica entre Brasília e Washington nos últimos dias deixam o setor tenso

As recentes ameaças de tarifas e sanções comerciais impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros acenderam um sinal de alerta no setor industrial, especialmente na Embraer, terceira maior fabricante de aeronaves do mundo.
A tensão entre os dois países, acirrada após medidas unilaterais do governo Trump, pode ter impactos diretos sobre a companhia, cujos laços com o mercado norte-americano vão muito além da exportação de aeronaves.
Em recente entrevista à Folha de S.Paulo, o CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, afirmou que cerca de 45% do custo de produção de cada aeronave da empresa é composto por conteúdo originário dos EUA.
Isso significa que quase metade dos componentes, sistemas e tecnologias embarcadas nos jatos da companhia tem origem em fornecedores americanos.
Trata-se de uma cadeia de suprimentos altamente integrada, o que, segundo o executivo, torna as tarifas uma ameaça não apenas ao Brasil, mas também à própria indústria dos Estados Unidos.
Além da dependência de peças, a relação comercial com os EUA é fundamental para a Embraer. Cerca de 45% das exportações de jatos comerciais da fabricante têm como destino os Estados Unidos — no segmento de jatos executivos, o percentual sobe para 70%.
Esses números evidenciam o peso do mercado americano para a sustentabilidade financeira da empresa, e tornam qualquer obstáculo alfandegário potencialmente nefasto.
O temor é que, caso as tarifas anunciadas por Donald Trump sejam de fato implementadas, o impacto vá além do aumento de custos logísticos e se reflita também em perda de competitividade em escala mundial.
O CEO da Embraer já classificou tarifas de 50% como “praticamente um embargo comercial” aos jatos brasileiros. Isso afetaria contratos em andamento, empregos e investimentos futuros.
Por outro lado, essa interdependência entre Brasil e EUA no setor aeronáutico também é vista como uma possível barreira contra retaliações mais duras.
Como muitas das peças usadas nos aviões brasileiros são produzidas em solo americano, sanções rigorosas poderiam prejudicar também fornecedores dos Estados Unidos — incluindo empresas de médio e grande porte da cadeia aeroespacial.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que deu entrevista hoje cedo à rádio CBN, mencionando a vulnerabilidade da Embraer, tem usado esse argumento para tentar conter os efeitos políticos da crise, apontando que as relações industriais entre os dois países são complexas e simétricas.
Ainda assim, a falta de uma estratégia diplomática clara e a escalada retórica entre Brasília e Washington nos últimos dias deixam o setor tenso e sem saber qual o destino da questão.
Em meio a esse cenário tumultuado e incerto, a Embraer mantém cautela. A empresa evita confrontos diretos e aposta na negociação bilateral para preservar seu acesso a um de seus mercados mais importantes — tanto como cliente quanto como fornecedor. O risco, porém, é grande e está no ar.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (1)
MARCOS
2025-07-21 18:07:08O EX-PRESIDIÁRIO SÓ ESTÁ FAZENDO O QUE PROMETEU: DESTRUIR O BRASIL. VINGANÇA.