Chega de novela lacradora
Para desespero da autora da novela Vale Tudo, o público tem concordado mais com a vilã Odete Roitman que com seus filhos wokes e mimados

Eu profetizei o fracasso do remake de Vale Tudo no mês passado, aqui em Crusoé.
Mas o resultado tem sido muito maior do que imaginei.
Mesmo com a milionária campanha de lançamento, a novela tem dado menos de 20 pontos no Ibope.
Em vários dias, perdeu para a novela das 19 horas e, até mesmo para a novela das 18 horas. Um feito inédito.
Isso não é mais um fracasso da Globo. É o fracasso da lacração.
A versão original é considerada a maior novela da história, e a Globo escolheu esse remake para recuperar a audiência e comemorar seu aniversário. A empresa apostou tudo ou nada, e ficou com nada.
A repercussão também tem sido péssima. “Está parecendo Zorra Total”, é um comentário recorrente nas redes.
Se alguém fizer uma pesquisa qualitativa vai perceber que quem ainda assiste Vale Tudo faz apenas por hábito, sem engajamento real.
Uma boa novela deixa o público maluco, esperando o próximo capítulo. Ninguém espera o próximo minuto dessa Vale tudo careta, lacradora e mal escrita. Se algum concorrente lançar uma opção no horário, Vale tudo pode perder ainda mais audiência.
Desnovelados
O que considero ainda pior para a Globo são os depoimentos de fãs do gênero, que mesmo diante de tantas novelas ruins dos últimos anos, ainda se mantinham fieis a emissora.
Era o público cativo. O fiasco do remake de Vale Tudo está sendo a gota d'água, a motivação final para abandonar de vez a Globo e as novelas brasileiras. São os desnovelados. Esse público quando se perde, é difícil recuperar.
O remake está tendo efeito didático, pois evidenciou o contraste entre as duas versões e explicitou a piora da qualidade do texto, da interpretação e da direção.
Esse contraste revelou para o seu próprio público que a Globo está dominada por artistas desconectados das aspirações reais do povo, autores-palestrinha que usam a novela para tentar doutrinar a audiência para seus valores progressistas woke.
Odete Roitman
A nova versão de Odete Roitman é mais um exemplo de comédia trágica que acontece nos bastidores da novela.
Manuela Dias, a autora esquerdista e lacradora, quis fazer uma vilã de “extrema-direita”.
Mas as cenas são tão mal escritas que a vilã tem se tornado heroína.
Para desespero da autora, o público tem concordado mais com Odete que com seus filhos wokes e mimados.
Em uma cena, Afonso, o filho eco-woke que a autora trata como a personificação do bem, faz um grande texto didático tentando convencer a mãe que “diante da crise climática, ela não pode abrir uma linha de jatinhos particulares”.
Odete responde o óbvio: “mas somos uma empresa de aviação”.
A cena é uma comédia involuntária: a autora queria criticar a falta de consciência ecológica de Odete e engajar o espectador na importante batalha contra os jatos particulares, uma preocupação muito comum na bolha do Leblon.
A intenção já era ridícula, mas para piorar, o texto é tão fraco que o público acaba concordando com Odete Roitman. Em Vale Tudo, os wokes afundam na própria falta de talento.
Na versão de 1988 a grande dúvida da novela foi: quem matou Odete Roitman.
Neste remake nós já sabemos: foi a autora Manuela Dias.
Autora palestrinha
Na novela original, nós realmente odiávamos Odete e ela realmente era poderosa.
Uma boa vilã tem essa relação paradoxal com o público: nós amamos odiar uma boa vilã. Mas odiamos.
Agora, Odete é só uma figura fraca e quase cômica. Seu filho a desafia na cara dura e ela não faz nada.
Ela virou uma tia velha que fala coisas politicamente incorretas (muitas de bom senso) e transa com rapazes mais jovens, mais uma novidade da autora. Como todo autor woke-politicamente-correto, Manuela tem grande dificuldade em construir vilões, base de uma boa telenovela.
É curioso a empresa ter escolhido justo ela para fazer o remake Vale Tudo, uma novela que é oposto de “estilo” sem sal de Manuela.
A Globo, em seu delírio wokista, escolheu a autora mais palestrinha que a televisão já viu para adaptar a novela mais transgressora e polêmica da história. Uma pena. O talento de Manuela poderia ser melhor aproveitado no Telecurso 2º grau!
Mas o fato é que ela foi colocada lá justamente para fazer que sabe: a versão woke de um clássico da TV brasileira.
Como toda ideologia totalitária, o woke não cria sua própria arte. Ele prefere destruir a tradição.
A mania de fazer remakes wokes de grandes clássicos (seja da novela, seja da ópera O Guarani, no Municipal, seja da Branca de Neve da Disney) faz parte do mesmo movimento para apagar a memória e destruir a tradição da arte, criando versões de clássicos “adaptadas” aos “valores wokes”.
O fracasso da novela, no entanto, é uma tristeza para nossa nação. Afinal, uma boa telenovela tem o poder de catalisar debates que unem o país numa mesma conversa e na afirmação de nossos valores. A Vale Tudo original fez isso.
É curioso pensar que o teatro surgiu na Grécia, como complemento da democracia. Pois é no bom teatro que vemos todos os lados e compreendemos a sociedade.
Por décadas, as telenovelas brasileiras contribuíram no avanço da democracia brasileira.
Ao transformar suas novelas em propaganda ruim de ideologias importadas, a Globo está destruindo um patrimônio nacional e um hábito de milhões de brasileiros.
Não dá mais para vermos essa destruição de nosso patrimônio cultural sem fazer nada. Até porque o fiasco cada vez maior da Globo abre uma imensa oportunidade de mercado. Um público que era fã da Globo e hoje, enquanto vaga pelos streamings e assiste a enlatados estrangeiros, ainda anseia por uma boa história brasileira.
Doe uma novela para um brasileiro livre
Vamos unir o público desnovelado e exigir uma boa novela.
Chegou a hora de lutar por nosso direito a ter ficção de qualidade em nossos lares.
Estamos lançando a campanha: Doe uma novela para um brasileiro livre.
Chega de lacração e mimimi.
Newton Cannito é roteirista, diretor e sócio da Utopia Brasil e FICs. A escola de roteiro está lançando o Concurso de Cenas para a Telenovela Vale Nada, que retrata os bastidores de criação de uma novela woke
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