Classificação da AfD como “extremista de direita” é suspensa
A avaliação anterior, datada de 2 de maio, foi removida do site oficial do serviço de proteção à constituição

O serviço de inteligência interna da Alemanha, o Bundesamt für Verfassungsschutz, anunciou a suspensão temporária da classificação do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) como "extremista de direita consolidado".
A decisão foi comunicada ao Tribunal Administrativo de Colônia nesta quinta-feira, 8 de maio, resultando em um compromisso de silêncio por parte do órgão até que um veredicto judicial seja proferido sobre a questão.
Consequentemente, a avaliação anterior, datada de 2 de maio, foi removida do site oficial do serviço de proteção à constituição.
Embora essa suspensão possa parecer uma diminuição da pressão sobre a AfD, na realidade, trata-se de um procedimento comum em casos de urgência legal.
O partido, que se tornou a segunda maior força política no parlamento alemão após as eleições antecipadas de fevereiro, havia impetrado uma ação judicial contra a sua classificação como uma organização "extremista de direita consolidada".
O serviço de inteligência optou por não comentar publicamente o caso para respeitar o processo legal em andamento.
Caso suspeito
A suspensão implica que o Verfassungsschutz deve reclassificar a AfD como um "caso suspeito" e, assim, sua capacidade de vigilância é reduzida.
Isso significa que qualquer tipo de monitoramento mais intenso, como a utilização de informantes ou escuta das comunicações do partido, fica temporariamente restrito.
Os líderes da AfD, Tino Chrupalla e Alice Weidel, comemoraram a decisão nas redes sociais, considerando-a um passo significativo rumo à sua desoneração e resposta às acusações de extremismo.
Essa não é a primeira vez que o serviço de inteligência faz um compromisso semelhante; em janeiro de 2021, após outra ação judicial da AfD contestando sua classificação como "caso suspeito", o órgão havia adotado uma postura similar.
Naquele momento, a ação também não teve sucesso em duas instâncias judiciais; entretanto, o veredicto do Tribunal Superior de Münster ainda não foi considerado definitivo.
O relatório
Atualmente, o extenso relatório com mais de 1.100 páginas que fundamenta a alegação do Verfassungsschutz sobre o caráter extremista da AfD permanece inacessível ao público.
O semanário "Der Spiegel" afirmou ter obtido acesso ao documento, levantando questões sobre possíveis violações legais por parte dos funcionários do serviço secreto interno.
Se for provado que tal vazamento ocorreu com conhecimento ou autorização das autoridades superiores, isso poderia ser interpretado como uma tentativa deliberada de manipular a opinião pública contra a AfD.
Até agora, apenas um extrato de 17 páginas do relatório circula publicamente. Esse trecho contém uma compilação das "declarações particularmente relevantes" feitas pelo partido entre 2021 e 2025 durante sua observação como "caso suspeito".
As citações selecionadas parecem buscar confirmar as suspeitas sobre as intenções da AfD. Entre elas estão declarações atribuídas a representantes proeminentes do partido e órgãos nacionais.
Teoria da substituição populacional
No primeiro segmento do relatório vazado, são mencionadas "declarações e posições étnico-genéticas" que visam demonstrar a ideologia nacionalista da AfD.
Um exemplo inclui uma declaração do deputado Maximilian Krah em resposta a comentários da política verde Katrin Göring-Eckardt: “12 milhões ela quer trazer para cá. E sim: esse plano verde significa substituição populacional! Além disso, ela admite que não se trata apenas de asilo, mas sim de política populacional.”
Essa teoria é amplamente considerada pelo Verfassungsschutz como evidência da inclinação extremista do partido.
“Quem realmente pertence a esta nação”
A líder da AfD, Alice Weidel, enfrenta críticas por afirmar que ataques com facas perpetrados por imigrantes são fenômenos que “não existem aqui”, sugerindo que são características culturais específicas da África e do Oriente Médio.
Tal afirmação foi interpretada como uma generalização depreciativa e discriminatória.
O membro do diretório nacional Hannes Gnauck fez comentários semelhantes durante um evento eleitoral em 2024: “Devemos decidir quem realmente pertence a esta nação e quem não pertence. Para ser alemão não basta ter apenas um certificado de cidadania.”
Isso parece ser visto pelo Verfassungsschutz como uma tentativa de classificar cidadãos alemães em diferentes categorias, um ponto considerado central nas acusações contra a AfD e uma violação dos direitos humanos garantidos pela Constituição alemã.
"Verão infernal"
O relatório também aponta declarações supostamente xenofóbicas feitas pela AfD. Em uma publicação recente no X, o partido se referiu ao clima atual na Alemanha como um "verão infernal", afirmando que isso não tem relação com mudanças climáticas e mencionando aumentos nos ataques violentos enquanto critica partidos estabelecidos por ignorarem tais questões.
Em um post ilustrativo apresentava uma imagem sugestiva relacionada à violência.
O serviço não fornece explicações detalhadas sobre cada citação utilizada para justificar suas alegações contra a AfD; no entanto, algumas são esclarecidas.
Vídeos publicados no canal oficial da AfD no YouTube foram criticados por incitarem medo e aversão contra pessoas não brancas com imagens sugestivas.
“Califado na Alemanha”
Um post no Facebook no ano passado alertava para uma suposta ameaça islâmica à Alemanha sob o título “Califado Alemanha: Se não agirmos agora, não haverá volta!”.
Weidel também é acusada de fazer comentários islamofóbicos ao caracterizar agressões sexuais como “um fenômeno” relacionado apenas a culturas muçulmanas. Tais generalizações têm sido contestadas pela falta de contexto histórico e fático adequado.
No fechamento do relatório, afirma-se que certas declarações podem violar princípios democráticos fundamentais estabelecidos na Constituição alemã.
A questão agora aguarda decisão judicial: caberá ao tribunal determinar se as declarações atribuídas à AfD justificam uma reclassificação para extremismo ou se estas representam meras expressões polemicamente admissíveis dentro do debate político.
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