A loucura de Putin tem método
Quando o presidente Lula aterrissar em Moscou, estará protagonizando o momento mais infame da diplomacia brasileira em toda a sua história

O ditador russo Vladimir Putin (na foto com Lula, em 2004) assinou um decreto para rebatizar o aeroporto de Volgogrado como Stalingrado, em homenagem a ditador soviético Josef Stalin.
"Para perpetuar a vitória do povo soviético na Grande Guerra Patriótica de 1941-1945, o presidente resolveu atribuir o nome histórico 'Stalingrado' ao Aeroporto Internacional de Volgogrado", diz o documento publicado no site do Kremlin.
Parece doideira. Stalin foi o mais carniceiro de todos os ditadores soviéticos.
Mais de 10 milhões de mortes são atribuídas a ele.
Cotas industriais de mortos
Em 1937, governadores das províncias precisavam cumprir cotas de mortes impostas pelo Politburo, como numa linha industrial.
Como escreve Simon Sebag Montefiore, no livro Stálin: A corte do czar vermelho, "As cotas foram logo cumpridas pelas regiões, que pediram então números maiores: entre 28 de agosto e 15 de dezembro, o Politburo concordou com o fuzilamento de outras 22.500 pessoas e, depois, com mais 48 mil. Nisso, o Terror foi diferente dos crimes de Hitler, que destruíram sistematicamente um alvo limitado: judeus e ciganos. Na Rússia, ao contrário, a morte era, às vezes, aleatória: o comentário esquecido há muito tempo, o flerte com a oposição, a inveja do emprego, da mulher ou da casa de outro homem, vingança ou simplesmente por coincidência causaram a morte e a tortura de famílias inteiras".
No Holodomor, a "morte pela fome", morreram 4 milhões de ucranianos.
Stalin confiscou todos os grãos, coletivizou as terras, deportou pequenos proprietários e impediu que as pessoas famintas deixassem a Ucrânia. "Não se pode passar pela estrada. Ela está marcada por corpos humanos. Não há mais ninguém entre todos os nossos amigos que tenha alguma coisa para comer... Os quatro filhos de seu irmão morreram de fome e os outros não estão longe disso. Eles sobrevivem — não é bom escrever isso — comendo a carne dos mortos", lê-se em uma carta escrita por colonos alemães que viviam na União Soviética, em 1933. O texto consta nos escritos do jornalista galês Gareth Jones, que inspirou o filme A Sombra de Stalin.
Mas a loucura de Putin de enaltecer Stalin tem seu método.
Ao redimir Stalin, Putin tenta salvar si próprio.
Ao rebatizar o nome de um aeroporto com o nome de Stalin, Putin subverte a ideia reinante desde a Segunda Guerra Mundial, de que o mundo está caminhando para uma ordem baseada no respeito aos direitos humanos e em que os países, sob a tutela bem-intencionada da ONU, evitariam as guerras.
Putin subverteu tudo isso ao iniciar a invasão da Ucrânia, sequestrar crianças e retomar a prática de torturas.
Na quarta, 30, a Rússia devolveu o corpo da jornalista ucraniana Viktoriia Roshchyna, que sofreu tortura e morreu em cativeiro russo.
O corpo foi entregue sem alguns órgãos internos, como o cérebro, os olhos e parte da traqueia. Tudo para esconder sinais de tortura.
Stalin não acharia nada demais nisso.
No revisionismo histórico comandado por Putin, há espaço no panteão dos heróis para czares e tiranos comunistas, independentemente dos crimes que eles cometeram.
A única régua usada para avaliar o passado é a do nacionalismo.
Se czares e tiranos defenderam a Rússia em uma "Grande Guerra Patriótica" contra os inimigos, então devem ser admirados.
Quando o presidente Lula descer em Moscou para celebrar com Putin o Dia da Vitória, na próxima semana, o petista estará protagonizando o momento mais baixo da diplomacia brasileira em toda a sua história.
Leia mais: Memória inconveniente: por que o museu do Gulag em Moscou está fechado?
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Comentários (2)
Andre Luis Dos Santos
2025-05-02 02:09:06Esperar o que desse DESCONDENADO?
Marcelo Tolaine Paffetti
2025-05-01 18:37:38Bolsolulismo, dois lados da mesma moeda podre.