Milei encaçapa o dólar
Presidente argentino segue dando suas aulas enquanto tenta recolocar a economia do país nos trilhos após décadas de anormalidade

O presidente Javier Milei segue dando suas aulas enquanto tenta recolocar a economia argentina nos trilhos após décadas de anormalidade.
No domingo, 13, um dia antes de a Argentina abandonar o controle do câmbio adotado pelos últimos presidentes peronistas, Milei postou em seu movimentado perfil no X uma lição sobre a "miragem empírica".
"Uma pessoa entra em uma sala de bilhar. Lá ela vê um jovem que sistematicamente faz o tiro de carambola [uma jogada bem sucedida em modalidade sem caçapa, na qual o jogador acerta as duas bolas disponíveis sobre a mesa]. Diante disso, a pessoa quer construir um modelo que preveja o sucesso do jovem jogador. Assim, como o problema pode ser resolvido por cálculos físicos, o visitante assume que o jovem jogador é um físico especialista", disse o presidente, seguindo:
"Então, dada essa suposição, o jogador faz todos os cálculos e o modelo prevê que ele fará a carambola. O jovem executa e, como sempre, faz a carambola. Dito isso, pergunto: você consideraria o jovem jogador como professor no doutorado em física do MIT? Você acha que o modelo empiricamente bem-sucedido da sala de bilhar pode ser extrapolado para o MIT [Massachusetts Institute of Technology] ou qualquer universidade séria?."
A postagem termina com uma "reflexão": "Pedir ao modelo algo fora do seu contexto seria um grande erro. Isso se aplica a todos os modelos quando as condições ambientais (por exemplo, universidade vs. sala de bilhar) mudam."
Como assim?
A postagem de Milei levou a pedidos de explicação ao Grok, inteligência artificial do X, que, questionado como explicar a metáfora para "um kirchnerista médio que não entende conceitos abstratos", respondeu:
"A metáfora de Milei é simples: um jogador de sinuca faz tacadas perfeitas, e alguém acha que é um especialista em física porque as tacadas parecem precisas. Mas você o contrataria para ensinar física em uma universidade? Não, porque ser bom no bilhar não significa entender física teórica. É como acreditar que um grande padeiro é químico só porque faz bons bolos. A ideia não é presumir que o sucesso em uma coisa faz de você um especialista em outra. Para um kirchnerista: nem tudo que parece funcionar em um lugar se aplica igualmente em outro. É preciso olhar além do óbvio e não generalizar rapidamente."
E o dólar?
O ministro de Desregulação e Transformação do Estado, Fede Sturzenegger, aproveitou o conceito exposto por Milei para comentar o fim do controle cambial na Argentina.
"O que o presidente Javier Milei diz é fundamental. Anos atrás, os argentinos viram o dólar e os preços se movimentarem juntos. Mas isso não significa que a taxa de câmbio seja responsável pela inflação. Bastaria notar que o preço da batata e os preços também se moveram juntos, e ninguém diz que o preço da batata é o que gera inflação", comentou o ministro.
"O que acontece é que essa relação é explicada por uma terceira variável: a quantidade de dinheiro, que movimenta as três (os preços em geral, o dólar e o preço da batata). A relação que vemos entre o dólar e os preços é uma correlação, mas sem que um afete o outro, e sim porque ambos respondem à emissão monetária. Por que isso é importante? Porque amanhã a Argentina inaugura algo inédito: um sistema monetário com uma situação monetária completamente controlada e um superávit fiscal que dá credibilidade a esse controle", seguiu Sturzenegger na postagem, também feita no domingo.
"Nesse contexto, ficará rapidamente claro que os movimentos do dólar e do preço das batatas, uma vez que não estão correlacionados com mudanças na oferta de moeda, não têm efeito sobre o nível geral de preços. Obviamente, os argentinos têm razões para duvidar, desconfiar e desacreditar; políticos os saquearam por décadas. Mas eventualmente isso ficará mais claro, como aconteceu há 35 anos na Nova Zelândia, no Chile e em Israel (e lá também demorou um pouco para ser entendido). Chegamos tarde ao clube da normalidade. Mas Milei e Luis Caputto [ministro da Economia] estão nos deixando lá. Nenhuma especulação de qualquer tipo. Só porque era a coisa certa a fazer. VLLC!", finalizou, sempre usando a sigla para o lema de Milei, “Viva la libertad, carajo”.
Normalidade
"Essa estratégia é corajosa, porque é arriscada", resumiu The Economist em reportagem sobre o fim do controle cambial. O risco, como destacou a revista britânica, "é que essas reformas abrangentes levem à inflação", já que desvalorização do peso provavelmente aumentará os preços na Argentina.
A inflação argentina subiu para 3,7% ao mês em março, ante 2,4% em fevereiro. "A esperança do Sr. Milei é que qualquer alta dure apenas alguns meses e termine antes das eleições de meio de mandato em outubro", disse a revista, lembrando que o controle da inflação é a base da popularidade do presidente argentino.
The Economist pondera que Milei sofreu uma derrota recente, ao ver negados pelo Senado os juízes que Milei nomeou por decreto para a Suprema Corte, e que o presidente virou alvo de investigação pela trapalhada da promoção de uma criptomoeda, mas atesta que o libertário "nunca esteve tão perto de transformar a Argentina em uma economia normal".
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