Por que a Usaid incomoda Evo Morales, Musk e Trump
O populista boliviano expulsou a organização de seu país. Agora, o governo americano pode fechá-la
A Usaid, Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, responde por 40% da ajuda humanitária que os americanos enviam para outros países.
Nesta segunda, 3, o bilionário Elon Musk afirmou que conversou com o presidente Donald Trump sobre a Usaid, e que o republicano teria "concordado que a gente deve fechá-la".
No mesmo dia, Musk escreveu no X: "A Usaid é uma organização criminosa".
As críticas atuais à Usaid se dão principalmente por causa do desperdício de recursos, pagos com dinheiro do contribuinte americano.
Até então, a organização era atacada principalmente por populistas latino-americanos de esquerda, que viam na entidade um expediente para os Estados Unidos exercerem influência política em outros países.
Todos eles têm razão em seus argumentos.
"Dinheiro gringo"
O ditador venezuelano Hugo Chávez foi um dos primeiros a se revoltar contra a Usaid.
Em 2006, ele reclamou da atuação da organização e do envio de "dinheiro gringo" para o seu país.
“O império paga seus lacaios, e os paga bem”, disse o ditador venezuelano.
Em 2013, o então presidente da Bolívia, Evo Morales, expulsou a Usaid do seu país.
"Não precisamos de algumas instituições da embaixada dos Estados Unidos que continuam conspirando contra este processo, contra o povo e, em especial, contra o governo nacional", disse Evo naquele ano.
"Nunca mais a Usaid, que vai manipulando, que vai utilizando nossos irmãos dirigentes, que vai usando a alguns companheiros de base com esmolas", afirmou o presidente.
Forma de atuação
A Usaid não tem como objetivo declarado influenciar a política de outros países, mas financia ONGs e fundações no exterior, muitas vezes sob a rubrica de fortalecer a democracia.
A influência política, então, acaba ocorrendo de forma indireta, no treinamento das pessoas e na interação com os americanos.
Entre os projetos ajudados pela Usaid estão alguns pela defesa da educação, das mulheres, das crianças e do meio ambiente.
Outros servem para combater a fome e várias doenças, como a Aids.
Soft power
Mas, independentemente do tema, a influência política sempre acaba acontecendo.
A Usaid, assim, pode ser entendida como uma ferramenta de soft power, em que os americanos conquistam aliados pelo mundo, sem precisar usar a força militar.
A organização tem sido utilizada com esse fim tanto por governos do Partido Democrata quanto do Republicano.
Eficiência governamental
Agora, a Usaid tem sido criticada por outros motivos.
Musk acaba de assumir o Departamento de Eficiência Governamental (Doge).
Uma de suas principais metas é eliminar os gastos desnecessários do governo americano.
Com esse objetivo em mente, Musk não tem como fechar os olhos para a Usaid.
Muito do dinheiro enviado pela Usaid para ONGs e fundações em outros países desaparecem em atividades burocráticas.
No final das contas, os grupos vulneráveis a que se destinam os recursos acabam ficando com uma fração pequena do total.
Quem mais se beneficia dos recursos são as ONGs e as fundações.
Além disso, é muito difícil medir o resultado dos inúmeros programas.
E muitos deles aparentemente não têm resultado algum.
Bukele
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, escreveu no X no domingo, 2, uma mensagem defendendo o fechamento da Usaid.
"A maioria dos governos não quer que fundos da Usaid fluam para seus países porque eles sabem onde grande parte desse dinheiro realmente vai parar. Embora propagandeados como apoio ao desenvolvimento, à democracia e aos direitos humanos, a maioria desses fundos é canalizada para grupos de oposição, ONGs com agendas políticas e movimentos desestabilizadores. Na melhor das hipóteses, talvez 10% do dinheiro chegue a projetos reais que ajudam pessoas necessitadas (há casos assim), mas o resto é usado para alimentar a dissidência, financiar protestos e minar governos que se recusam a se alinhar à agenda globalista. Cortar essa suposta ajuda é benéfico não apenas para os Estados Unidos; como é uma grande vitória para o resto do mundo", escreveu Bukele.
Isolacionismo trumpista
A Usaid, portanto, está com os dias contados.
Primeiro, porque o governo Trump assumiu o compromisso de cortar gastos e quer cumprir com sua promessa.
Segundo, porque este governo tem um caráter isolacionista e não vê necessidade em gastar dinheiro com soft power em outros países.
O impacto será sentido principalmente pelas ONGs e fundações, que contavam com esse dinheiro para seguir com seus programas.
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