O que está em disputa nas eleições na África do Sul nesta quarta
29.05.24 16:03A África do Sul realiza eleições parlamentares nesta quarta-feira, 29 de maio. Serão eleitos todos os 400 congressistas da Assembleia Nacional, a Câmara dos Deputados sul-africana.
Este pleito é importante por dois fatores.
Primeiro, é a Assembleia Nacional que, em até 14 dias da eleição, deverá começar seus trabalhos para eleger o próximo presidente da África do Sul. No país, o presidente é eleito pelo parlamento como se fosse um primeiro-ministro.
O segundo motivo para a relevância destas eleições é que, de acordo com as pesquisas, o partido de Nelson Mandela, o Congresso Nacional Africano (CNA), deve perder o controle da maioria da Assembleia Nacional.
O partido domina a política sul-africana desde o fim do apartheid, regime que, por décadas, excluiu a população negra da vida política e social.
As pesquisas apontam que o CNA deva continuar como o maior partido na Assembleia, mas, abaixo dos 200 assentos, deverá formar coalizão com outros partidos para manter-se no poder.
O atual presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa (foto), tenta se eleger a um segundo mandato de cinco anos, o último permitido pela legislação.
Além do CNA, partidos como a Aliança Democrática e os Combatentes pela Liberdade Econômica estão tentando consolidar suas posições e, possivelmente, formar um novo governo.
Presidente da África do Sul entoa canto antissemita
Durante um comício em Soweto, no último fim de semana, Cyril Ramaphosa liderou a multidão em um canto que tem origem na Carta do Hamas e é amplamente reconhecido como um apelo à destruição de Israel. O slogan “do rio ao mar, a Palestina será livre” é explícita e inequivocamente antissemita, pois preconiza a eliminação do Estado de Israel, situado entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo.
Ramaphosa não mencionou em seu discurso um apelo para a libertação dos reféns israelenses mantidos pelo Hamas há quase nove meses, intensificando a controvérsia. A comunidade judaica sul-africana, representada pelo South African Jewish Board of Deputies (SAJBD), condenou o presidente: “o chamado para remover todos os judeus do rio Jordão ao mar Mediterrâneo equivale a remover todos os judeus de Israel. Este slogan quer ver Israel como ‘Judenfrei’, ou livre de judeus”.
A atitude de Ramaphosa deve ser vista dentro do alarmante crescimento do antissemitismo na África do Sul. Em 2019, um relatório destacou essa ascensão preocupante. Historicamente, o racismo no país era percebido como uma questão de cor, mas recentemente tem se misturado com o antissemitismo, criando um ambiente ainda mais hostil para a comunidade judaica.
Alan Dershowitz destacou a “desproporcionalidade do ódio contra a única nação-estado do povo judeu” e o “silêncio desproporcional” em relação a críticas justas a outras nações, incluindo os palestinos.
O governo sul-africano, em 2017, rebaixou a embaixada em Israel para um consulado, uma medida vista como racista e antissemita pela comunidade judaica local. Zev Krengel, vice-presidente do SAJBD, afirmou que essa foi “a questão mais importante a afetar a comunidade judaica sul-africana nos tempos modernos”.
Incidentes antissemitas têm sido recorrentes no país, como a tentativa de boicote acadêmico de Israel pela Universidade da Cidade do Cabo e a exibição de uma suástica por estudantes em um tour pelo Centro do Holocausto e Genocídio de Joanesburgo. Além disso, um membro do BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) comparou israelenses a nazistas, demonizando soldados israelenses como assassinos calculistas de crianças.
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