Latitude#57: por que o Brasil não é visto como país neutro pela Guiana
O cientista político Gunther Rudzit, professor de relações internacionais na ESPM, não acredita que o governo brasileiro seja visto como neutro pela Guiana, ameaçada pela ditadura venezuelana de Nicolás Maduro. Segundo ele, o fato de que o primeiro encontro entre os dois lados não ter acontecido no Brasil, mas em São Vicente e Granadinas, mostra...
O cientista político Gunther Rudzit, professor de relações internacionais na ESPM, não acredita que o governo brasileiro seja visto como neutro pela Guiana, ameaçada pela ditadura venezuelana de Nicolás Maduro.
Segundo ele, o fato de que o primeiro encontro entre os dois lados não ter acontecido no Brasil, mas em São Vicente e Granadinas, mostra isso. "O presidente Lula demorou para se colocar fortemente e eu acredito que foi por uma pressão muito grande dos militares para ele finalmente começar a se pronunciar contra essas intenções do Maduro", disse Rudzit, que participou do podcast Latitude. "O governo guianense não vê o brasileiro como neutro."
"O presidente Lula é um companheiro de Maduro. Ele já relativizou a ditadura venezuelana e por isso recebeu até né reprimendas, entre aspas, do presidente Gabriel Boric do Chile, que é de esquerda, e do Lacalle Pou, do Uruguai, que é de direita. Os dois reprimiram o Lula por dizer que que a Venezuela não é uma ditadura", disse Rudzit.
"Há uma tentativa principalmente do assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, o embaixador Celso Amorim, que foi chanceler nos dois governos Lula, de tentar por panos quentes, de vir com um discurso de que o Brasil tem que ser neutro para conseguir mediar a relação", afirmou o cientista político.
Em conflitos fronteiriços anteriores, o Brasil conseguiu se colocar como mediador, o que não é o acaso agora. "Veja a diferença do que ocorreu em 1993 e 1994, quando houve uma guerra entre Peru e Equador. O acordo final colocando um fim a essas disputas foi em Brasília. Por quê? Porque os dois governos viram o Brasil como um governo neutro que não iria dar a precedência para nenhum dos dois", afirmou o entrevistado.
A posição pró-Maduro repete a atitude pró-Putin do governo brasileiro na guerra da Ucrânia. "Não dá para acreditar que este governo brasileiro seja visto como neutro, quando um lado invade o outro e Lula afirma que os dois são responsáveis pela guerra. Desculpa, não dá para aceitar isso. O Brasil nunca vai conseguir participar desses processos de discussão de paz lá na Ucrânia, porque a gente nem consegue resolver os problemas aqui (da América do Sul). Teoricamente, o Brasil teria poder para conseguir resolver os problemas vai querer se colocar como mediador no nível global em um tema que é distante, como Ucrânia, Faixa de Gaza, Hamas, Israel? Acaba caindo em descredibilidade", disse Rudzit.
Latitude é um podcast semanal sobre os principais fatos da política internacional e da diplomacia brasileira que vai ao ar todos os sábados, às 18h.
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