O revisionismo britânico, nas páginas do Guardian
A edição deste sábado do jornal britânico The Guardian, um dos mais respeitados do mundo, apresenta uma revista dedicada ao chamado "Cotton Project", fruto de quase três anos de trabalho da redação junto a historiadores. O "Projeto Algodão" do título se refere é um intrincado revisionismo histórico apontando a ligação de John Edward Taylor, que...
A edição deste sábado do jornal britânico The Guardian, um dos mais respeitados do mundo, apresenta uma revista dedicada ao chamado "Cotton Project", fruto de quase três anos de trabalho da redação junto a historiadores. O "Projeto Algodão" do título se refere é um intrincado revisionismo histórico apontando a ligação de John Edward Taylor, que fundou jornal em 1821, e o tráfico escravo pela mercadoria na África e nas Américas.
O projeto foi tornado público na terça-feira, com um pedido de desculpas na capa do jornal e a promessa que a publicação vai investir 10 milhões de libras esterlinas (algo como R$ 62,5 milhões) em projetos de reparação e políticas editoriais afirmativas. Isso porque Taylor, então um jornalista em Manchester, se valeu do algodão colhido pela escravidão em países como Guiana, Brasil, Suriname e EUA para construir a riqueza da Inglaterra e, em um aspecto pessoal, criar as bases do jornal.
Em uma série de artigos já publicados, o periódico toma a frente sobre o debate do papel do antigo Império Britânico na exploração de outras nações. O Guardian — um dos raros no mundo a operar sem paywall — chega a sugerir que Londres perdoe a dívida da Jamaica, sua ex-colônia e palco de séculos em exploração.
A ligação entre antigos jornais, criados no século XIX como uma comunicação às elites liberais, e a escravidão, não é incomum: o Estadão — que se chamava "Provincia de S. Paulo" até 1889— ganhava dinheiro ao publicar anúncios de "escravos fugidos" em seus classificados. A proposta do Cotton de recontar a própria história fatalmente esbarra no pioneiro The 1619 Project, publicado pelo The New York Times em 2019 e que pretendia ser mais amplo.
Com a premissa de apresentar a história americana a partir da primeira chegada de negros no país, há 404 anos, o projeto do jornal comandado por Nikole Hannah-Jones foi premiado e louvado por setores mais ligados à esquerda pela sua capacidade em recontar a história pelo lado dos escravizados. Apesar disso a plataforma foi criticada por historiadores por uma versão "enviesada" da história — que forçou o próprio Times a se explicar melhor.
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Comentários (2)
Benjamin Gomes Neto
2023-04-03 11:41:34Chegamos a um tempo de revisionismo do passado! É uma situação bonita, mas não vai aliviar as dores que eles causaram nas populações escravas!...
Odete6
2023-04-02 22:33:05Sasinhóra.... a cada vez que se toca na história dessa inominável barbárie que foi a escravidão, vem à tona mais um episódio hediondo a nos deixar a todos, os normais, num estado de choque crônico que não terminará jamais!!!...