Lula está mais Maduro
Esperava-se que Lula, após vencer a eleição, caminhasse para o centro. De fato, foi com a ajuda do centro democrático que Lula derrotou Bolsonaro, por um triz (menos de 2% dos votos). A criação do factoide de frente ampla reforçava essa expectativa. Expectativa que se frustrou quando ficou patente que Lula apenas se aproveitou dos...
Esperava-se que Lula, após vencer a eleição, caminhasse para o centro. De fato, foi com a ajuda do centro democrático que Lula derrotou Bolsonaro, por um triz (menos de 2% dos votos).
A criação do factoide de frente ampla reforçava essa expectativa. Expectativa que se frustrou quando ficou patente que Lula apenas se aproveitou dos votos de centro para vencer a disputa eleitoral, mas praticamente excluiu esse centro da composição do seu governo. O governo Lula é o governo de uma frente de esquerda, hegemonizada pelo PT, que adotou dois enfeites de frente ampla (Geraldo Alckmin e Simone Tebet) e alugou setores fisiológicos para ter maioria no Congresso (Renan, Jader, Silveira, Fávaro, de Paula, Juscelino, Daniela, Waldez).
E aí foi ficando cada vez mais claro que Lula 3 não está caminhando para o centro, e sim para a esquerda. Em outras palavras, como se lê no Twitter:
“Lula está mais Maduro”.
Claro que a opção de segundo turno por Lula, para impedir a reeleição de Bolsonaro, foi correta. Sob Lula 3, nossa democracia continuará sendo uma democracia eleitoral, ainda que perca conteúdo liberal. Sob Bolsonaro 2, correria risco iminente de virar uma autocracia eleitoral. Seria pior para a democracia.
Mas... a julgar pela composição do governo, Lula 3 está mais para Dilma 2 do que para Lula 1. E, a julgar pelos discursos de palanque, Lula 3 não caminhou para o centro. Foi mais para a esquerda do que Lula 1. É quase óbvio que Lula 1, 2 ou 3, é a mesma entidade com dificuldade de aprender.
Como Lula ainda não desceu do palanque, é sobre isso que temos de nos debruçar agora: o palanque na Argentina.
Já se disse que é na política externa que o desastre lulopetista se revela. A sua viagem à Argentina forneceu muitas indicações da "maduridade" de Lula.
Lá ele disse:
"Com relação à Cuba, eu acho que a criação da Celac foi uma inspiração extraordinária... é o único fórum internacional em que Cuba participa. E eu tenho orgulho de ter participado da construção desse fórum. E tenho muito orgulho de os cubanos participarem”.
Ele ainda afirmou que deve-se respeitar o direito do povo cubano de escolher o seu caminho, como se isso fosse possível numa ditadura.
Em outra ocasião, disparou:
"Da mesma forma que eu sou contra a ocupação territorial que a Rússia fez na Ucrânia, eu sou contra muita ingerência no processo da Venezuela".
O que a invasão militar da Ucrânia (uma democracia eleitoral, segundo relatório do V-Dem Institute 2022) por uma ditadura (a Rússia) tem a ver com a defesa da democracia em outra ditadura (a Venezuela)?
Mas a escorregada fatal ocorreu anteontem à noite, num evento cultural em Buenos Aires, com a presença do presidente argentino. Transcrevendo a parte mais absurda:
“Vocês sabem que depois de um momento auspicioso no Brasil, quando governamos de 2003 a 2016, houve um golpe de Estado”.
Muito bem. Alguém poderia dizer: cabe agora, então, identificar e processar os golpistas. Do contrário, é mentira.
É gravíssimo. No exercício da Presidência da República, Lula declarou, em país estrangeiro, que o processo constitucional do impeachment foi "um golpe de Estado" contra o PT. Poderia ter dito que foi hard ball, uma "forçação de barra". Que foi um "golpe branco" parlamentar. Ou, ainda, que foi um "golpe baixo", desses que são frequentes na luta política. Mas golpe de Estado, não. É crime.
Se o presidente do STF presidiu a sessão de votação do impeachment no Senado e avalizou os procedimentos, não pode ter sido golpe de Estado. Do contrário, Lewandowski deve ser processado. E também a imensa maioria dos senadores que votaram pelo impedimento. Todos estavam articulados para dar um golpe no PT? Foi uma grande conspiração do tipo daquela — acusada por Bolsonaro — para fraudar as urnas eletrônicas?
Será que Lula está dizendo que "as urnas eletrônicas" do Senado, na votação de 31 de agosto de 2016, que deu 61 x 20 votos a favor do impedimento de Dilma Rousseff, "foram fraudadas"? Claro que não, mas a gravidade dessa afirmação — feita por quem foi — é semelhante.
Que um militante do PT diga isso, vá lá. Que o presidente da República, no exercício do seu mandato, em país estrangeiro, repita tal fake news, é um atentado ao Estado de direito. O impeachment é um dispositivo do nosso ordenamento jurídico.
Não vem ao caso se houve ou não houve pedalada, se houve ou não houve prova robusta, se o julgamento, do ponto de vista jurídico, foi duvidoso ou precário. O impeachment é um processo político que requer alguma base jurídica, mas a decisão legítima é a dos seus juízes — os senadores da República — que compõem um tribunal político.
Ao dizer que foi golpe de Estado, Lula está questionando a Constituição, as leis e os procedimentos que levaram o tribunal político a uma decisão legítima. Pior, está lançando uma suspeição sobre a instituição (o Senado da República) e seus integrantes.
Golpe de Estado é crime segundo as leis brasileiras. Se o presidente da República afirma que o impeachment foi "um golpe de Estado", ele está denunciando um crime. Como a OAB também entrou com pedido de impeachment, ela deverá ser processada juntamente com as mesas da Câmara e do Senado, com o presidente do STF que presidiu a sessão e os 61 senadores que aprovaram o impedimento.
Miguel Reale Jr, um dos autores do pedido de impeachment de Dilma, reagiu ontem pelo Estadão:
“Houve um processo regular previsto na Constituição, tendo a OAB federal também entrado com igual pedido em face do desastre... O PT entrou com mais de cem pedidos de impeachment contra FHC. É uma narrativa que não ajuda o país agora".
O processo de impeachment de Dilma Rousseff teve início em 2 de dezembro de 2015 e durou 273 dias, com amplo direito de defesa (até exagerado, ao ver de alguns) e rigorosa observância dos ritos legais. Não há nenhum indício de golpe de Estado, como afirmou falsamente Lula.
Qual a necessidade de Lula, quase sete anos depois, já de novo como presidente da República, dizer em país estrangeiro que o impeachment de Dilma foi "um golpe de Estado"? Isso ajuda em quê? Além de fake news, revela revanchismo. E muita irresponsabilidade.
Lula tem que entender que não é mais um candidato no palanque. Não é mais um militante petista criando narrativas (como a de que o impeachment foi "um golpe de Estado") para travar lutas políticas sectárias. É o presidente da República. O cargo exige um mínimo de decoro.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (10)
Benjamin Gomes Neto
2023-01-26 10:41:55É interessante que a esquerda criticava as mentiras do Ex-Presidente Bolsonaro...
Marcello
2023-01-26 10:40:24Como dizem, eventualmente, vai cair de maduro!
Amaury G Feitosa
2023-01-26 09:27:50Acolitado com a pior politicalha da história a quadrilha está destruindo o país de forma tão rápida que se algo não for feito este ano não haverá Natal terá um triste Funeral e para isto basta reelegerem o CAPAcheco ao Senado aí podem encomendar a mortalha e a missa de réquiem de uma nação algoz de si mesma.
SERGIO SANTOS
2023-01-26 00:29:26Onde estão os Ministros do Supremo para pedirem o afastamento de um "analfabeto jurídico", para não dizer "imbecil" que dá uma declaração dessas !! Onde estão os Senadores para não pedirem o afastamento !! Em qualquer nação séria, uma declaração dessas, totalmente falsas e inverídicas é motivo de afastamento por imbecilidade!!
Euzeni Brunetti Costa
2023-01-25 22:14:46Há muito tempo não me sinto representada pelos presidentes do meu pais. Só vexame lá fora!!! que triste!!!
Marcelo Hort
2023-01-25 17:24:29Não é preciso esperar um ano para saber que o PT foi a pior escolha que poderíamos ter feito. Em algumas semanas já mostrou para que vieram. O autor do texto fala que pela defesa da democracia foi a melhor escolha. Que tapado! Quem é um pouco inteligente percebe logo que o que está por vir é horrível. Também quem é um pouco inteligente antes da eleição sabia que o PT não era opção a ser considerada.
Rodrigo
2023-01-25 14:51:01Decoro? De um petista? Do Lule (gênero neutro...)?
Moso
2023-01-25 14:19:13Exigir decoro do rancoroso é pedir demais. Enganou a muitos, novamente, e agora vai mostrar sua verdadeira face.
Pasmo Parvo
2023-01-25 13:43:08Pois é, quem oPTou por Lula no segundo turno e ainda acha que isso foi a decisão correta, como parece ser o caso do articulista, por favor faça o L e não reclame, nem critique. Esperavam algo diferente??? Esperavam um Lula mais centrista e centrado? Santa inocência! Está sendo o que a esquerda sempre disse que seria, nisso foram honestos.
Geovani Aliatti
2023-01-25 13:21:22Esperava-se que o capo fosse para o centro? Quem? Só os "neumanes da vida" acreditaram na tal "frente amplíssima". pt hegemônico, capo amante de ditaduras de esquerda, nada democrático, revanchista, mentiroso, falastrão, "nós contra eles", censura ... é surpresa para ZERO pessoas com pelo menos dois neurônios.