Sobre a moda de acossar políticos
Nunca entendi as pessoas que se aglomeram em porta de delegacia ou prisão para vaiar criminosos. Acontece sempre que um crime bárbaro ganha atenção pública, como nos casos de Isabella Nardoni e Henry Borel: um grupo considerável reúne-se para apupar o acusado quando ele chega à cadeia ou ao tribunal. Não se trata de um...

Nunca entendi as pessoas que se aglomeram em porta de delegacia ou prisão para vaiar criminosos. Acontece sempre que um crime bárbaro ganha atenção pública, como nos casos de Isabella Nardoni e Henry Borel: um grupo considerável reúne-se para apupar o acusado quando ele chega à cadeia ou ao tribunal. Não se trata de um protesto contra a impunidade, pois a justiça está seguindo seu curso. As pessoas querem apenas manifestar a raiva que um assassino de crianças lhes desperta. Compreendo o sentimento, até compartilho dele. Só não concebo que ele possa levar gente razoável a se botar no caminho do camburão que transporta o criminoso.
Ainda mais incompreensível para mim é a malta que se reúne para acossar a personalidade pública cuja atuação desaprova. Ou, quando não é a malta, é o sujeito desgarrado que por acaso encontra a figura famosa que odeia – e não faz diferença se por boas ou más razões – em um restaurante, um avião, uma sala de espera de hospital, e logo se põe a insultá-la.
Aqueles que se comportam desse modo sabem, ou deveriam saber, que não realizarão nada com isso. Não vão mudar a linha de ação que consideram errada, não vão conseguir a deposição ou impeachment da figura odiada, não vão lhe tirar popularidade (se a tal figura for popular) ou voto (se ela estiver disputando eleições). No máximo, conseguirão a fama viral do vídeo em que aparecem fazendo provocações grosseiras a um político, artista ou celebridade odiado por algum grupinho de fanáticos.
Estou pensando nos episódios de assédio e bate-boca envolvendo convidados da conferência promovida em Nova York pelo Lide, grupo empresarial criado pelo ex-governador João Doria, no início da semana que passou. Pelo menos três ministros do STF que participaram do encontro foram vaiados e assediados nas ruas. O ex-presidente Michel Temer foi chamado de “ladrão" – para ficar apenas com o insulto publicável – quando entrava em seu hotel.
Será provincianismo meu considerar que esses atos se tornam ainda mais lamentáveis por ocorrerem em Nova York? É que minha limitada inteligência não concebe como um brasileiro que conseguiu se estabelecer nos Estados Unidos ainda se sente motivado a passar sua noite de domingo na calçada em frente a um restaurante só para xingar Alexandre de Moraes. É ainda pior se o assediador de togas for não um imigrante, mas um turista: quem perde seu tempo de férias em uma cidade com um oferta inabarcável de museus, shows, concertos, restaurantes, baladas – só pela chance de irritar Gilmar Mendes?
Os vídeos oferecem um recorte limitado das manifestações contra os participantes da conferência. Ao que tudo indica, é uma espécie de sucursal, em solo americano, da Horda Canarinha que vêm se plantando em frente aos quartéis brasileiros para entoar cânticos esquisitos sobre mão amiga e braço forte. Parece que não tentaram impedir a conferência. Estavam lá para xingar, e xingaram. Missão cumprida.
O barraco tornou-se um meio de ação política. Isso não se restringe às celebridades do mundo político-jurídico. Tem gente comum se espinafrando e estapeando pelas ruas. Outro dia, em um restaurante do shopping Iguatemi, em São Paulo, duas mulheres se atacaram, aos gritos, e uma delas acabou desmaiada no chão – tudo porque uma estava de verde e amarelo e a outra de vermelho. Famílias brigam, se dividem por causa de mesquinharias políticas.
Certo, não é de hoje que a violência é crônica no país, e a civilidade nunca foi a norma na nossa política. Aliás, nossa corte suprema, cujos ministros hoje são atacados no exterior, tem seu histórico barraqueiro. Quem pode esquecer Luís Roberto Barroso descascando Gilmar Mendes, em 2018: “Você é uma pessoa horrível. Uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia”.
Sempre se encontra um modo de afirmar que não há nada de novo sob o sol dos trópicos. Que as coisas não estão tão ruins, que afinal estamos voltando à normalidade, que – eis o clichê definitivo do conformista – as instituições estão funcionando.
No entanto, me fica a sensação de que algo mudou em definitivo, que o tal tecido social pode ter se esgarçado até não poder mais ser remendado.
Há coisas que se desfazem, que se perdem, que falham, morrem.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (10)
EDOUARD HUGUES BRAUN
2022-11-22 18:22:46Você não entendeu nada ! O objetivo não é fazer esses pulhas mudar de ideia, mas sim infernizar sua vida pública e particular (já que é a isso que eles dedicam seus esforços e o nosso dinheiro), até eles não poder sair nas ruas, restaurantes ou locais públicos frequentados por pessoas de bem!
claide reis rocha
2022-11-21 17:19:53Tenho também está desesperança...este medo..esta tristeza
Luiz Carlos Guimarães Moreira
2022-11-21 14:09:04você sem inteligência, como você mesmo falou deveria ficar calado, mas como é capacho da folha escreve qualquer bobagem.O POVO BRASILEIRO ESTÁ VENDO QUEM SÃO OS COMPONENTES DO STF, E POR ISSO ESTÃO CONTESTANDO A ATUAÇÃO DELES e ELES PODEM SOFRER, IMPEACHEMENT, SIM.OU DEMITIDOS, POIS NÃO FORAM ELEITOS.
Luiz
2022-11-21 13:59:15eu acho que você talvez esteja vendo tudo invertido , mas eu acho também que é muito difícil ver as coisas diferente do que somos doutrinados a ver . talvez uma parcela do povo se cansou definitivamente de ver o escárnio que virou nossas instituições.
Paulo Barretto De Araujo Manso Cabral
2022-11-21 13:18:47Tenho vergonha de ainda ser assinante dessa deplorável revista. Já preconizava que isso iria ocorrer. Sinto pena de Diogo Maynard e Mario Sabino, Jornalistas Sérios, que investiram tempo, dinheiro e paixão para criar um Veículo de Comunicação livre e independente, sempre fazendo o Antogonismo aos mal feitos de Políticos, Empresários, Juízes enfim de todos aqueles que afrontassem os mal hábitos e costumes. Vocês vão minguar em número de assinantes mas já devem ter o Plano B: viverem de Verba Publ
Luiz
2022-11-21 12:48:48O certo de qualquer juiz é somente falar nos autos dos processos. Resolveram virar celebridades, agora aguenta.
JORGE LIMA DAOU
2022-11-21 12:43:50Creio q rai da questão é a impunidade que grassa no Brasil. O cidadão comum, não suporta mais ver tanta gente cometendo crimes e ilegalidades continuamente, sem nenhuma punição. No caso dos membros do STF, que são inimputáveis, a situação é mais complexa, e me parece natural que recebam xingamentos e sofram constrangimentos cada vez que aparecem em público - afinal, uma boa parte deles se tornou sub-celebridade nas redes sociais, e acha que deve falar fora dos autos.
Luiz Barroso Magno Junior
2022-11-21 12:42:02Realmente, você está correto, tanto que a certo momento, você confessa que não tem inteligência suficiente para entender uma manifestação pública como a que foi publicada aqui. Pena !
Sandro Moretti
2022-11-21 12:30:40Criticar comportamento humano sem embasamento psicológico é mera conjuntura e a sua falta de empatia para com o brasileiro que está cansado de maus feitos da classe política-judiciaria e ainda deixa claro o quão empático és com aqueles "pobres coitados" que foram acossados, ao ler seu texto compreendi porque alguém acossa os políticos e juízes da "suprema corte do Brasil", pois senti na pele o desejo de acossar um colunista.
Patricia
2022-11-21 12:20:51Sinceramente não vejo porque falar de fraude, mas TAMBÉM não vejo motivo algum para poupar alguns ministros do STF, pelo seu péssimo desempenho , por terem manobrado a justiça para tornar elegível um corrupto e por terem escolhido o corrupto ao invéz de defender suas vitimas, o povo brasileiro. O papel das supremas cortes está sendo usurpado por politicos.