Como a Copa do Mundo ajudou a combater a escravidão no Catar
Assim que o Catar foi escolhido, em 2010, para ser a sede da próxima Copa do Mundo de futebol, que começa em novembro, organizações de direitos humanos iniciaram uma campanha contra a escravidão institucionalizada nesse país e em muitas nações do Oriente Médio e da África. Em Omã, Arábia Saudita, Kuwait, Bahrein, Líbano e Jordânia...
Assim que o Catar foi escolhido, em 2010, para ser a sede da próxima Copa do Mundo de futebol, que começa em novembro, organizações de direitos humanos iniciaram uma campanha contra a escravidão institucionalizada nesse país e em muitas nações do Oriente Médio e da África.
Em Omã, Arábia Saudita, Kuwait, Bahrein, Líbano e Jordânia vigora o sistema conhecido como kafala (patrocínio), em que os trabalhadores são recrutados por um período longo e não podem mudar de emprego antes do final do contrato, sem autorização do patrão. Como eles ficam totalmente dependentes do empregador e nem sequer podem deixar o país sem sua permissão, isso favorece o trabalho forçado.
Entre os que se submetem a esse sistema há muitos indianos, nepaleses, filipinos quenianos e egípcios. "Esses trabalhadores migrantes, ao chegar ao país para trabalhar, acabam presos a uma armadilha, o que facilita a exploração deles", diz a libanesa May Romanos, pesquisadora de Oriente Médio na Anistia Internacional. "Quando soubemos que o Catar seria a sede da Copa do Mundo, nós aproveitamos para colocar pressão no governo para melhorar as condições de trabalho."
De 2010 a 2018, as organizações internacionais não conseguiram avanços. Na construção dos estádios da Copa do Mundo (foto), trabalhadores foram submetidos a longas diárias sob calor intenso. Organizações de direitos humanos calculam que 35 pessoas morreram nessas condições.
Em 2018, o Catar assinou um acordo com a Organização Internacional do Trabalho, OIT. Em setembro de 2020, o país realizou uma reforma trabalhista, permitindo que os migrantes mudassem de emprego e cruzassem a fronteira sem autorização do empregador. O Catar, assim, foi o primeiro país do Golfo a permitir essa possibilidade.
Alguns problemas persistem. A fiscalização da nova legislação é fraca, e abusos ainda acontecem. Também há relatos de funcionários que ameaçam deixar seus postos e sofrem retaliação dos seus chefes. Mesmo assim, a reforma foi um enorme progresso em uma região em que mudanças são esporádicas.
A preocupação agora é o que poderá ocorrer depois da Copa do Mundo, quando o resto do mundo deixar de prestar atenção no país. "O governo do Catar comprometeu-se a não retomar o antigo sistema de kafala no futuro. Além disso, muitas ONGs estão preparadas para continuar monitorando a situação nos próximos anos. Então, não acho que teremos uma regressão nos direitos sociais", diz May.
Até agora, o Catar é o único entre os que permitiam a kafala a dar direitos aos trabalhadores. "Não vimos um efeito dominó até agora, com outros países reformando esse sistema. Para eliminar totalmente a kafala será preciso empreender uma batalha por muitos anos ainda", diz May Romanos.
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Comentários (4)
Carlos Renato Cardoso da Costa
2022-08-16 18:16:07Já é um legado melhor do que o habitual de elefantes brancos, contratos chorudos na mala de corruptos e dívida galopante para o país organizador.
João Lopes
2022-08-16 16:42:342010 – África do Sul 2014 – Brasil 2018 – Rússia 2022 – Catar O que todas estas nações que sediaram as ultimas 4 copas do mundo tem em comum? Elevados níveis de corrupção. Um terreno fértil para a FIFA e os governos locais maximizarem seus lucos com o evento.
Marcia E B
2022-08-16 13:18:38Espero que sejam exitosos nessa luta. É terrível ver o sofrimento daqueles trabalhadores. Não são os únicos casos, mas como está escrito no texto , esperemos o efeito dominó.
KEDMA
2022-08-15 14:45:19Que seja um bom começo para os países daquela região.