Visita atrapalhada de Pelosi a Taiwan só pode dar errado, mas chance de guerra é baixa
A presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, aterrissou no aeroporto de Taipei, em Taiwan, na noite desta terça, 2, horário local. A visita, que deve durar apenas uma noite, tem tudo para dar errado, ainda que a chance de um conflito militar seja baixa. A ditadura chinesa considera Taiwan uma província rebelde,...
A presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, aterrissou no aeroporto de Taipei, em Taiwan, na noite desta terça, 2, horário local. A visita, que deve durar apenas uma noite, tem tudo para dar errado, ainda que a chance de um conflito militar seja baixa.
A ditadura chinesa considera Taiwan uma província rebelde, que um dia será unificada, embora o governo com sede em Taipei seja na prática um país independente. Nessa disputa sem solução fácil, os Estados Unidos assumiram uma posição ambígua. Desde os anos 1970, os americanos adotaram a doutrina de "uma só China", que reconhece apenas o governo de Pequim. Em 1979, a embaixada americana em Taiwan foi fechada e os dois países cortaram laços diplomáticos. Mais tarde, os americanos passaram a dar apoio militar a Taiwan, mas sem reconhecer oficialmente o governo da ilha.
A ida de Nancy Pelosi embaralha tudo, ao sinalizar que os Estados Unidos estariam pensando em reconhecer o governo de Taiwan. Pelosi é a mais graduada autoridade americana a pisar na ilha em 25 anos.
Irritado, o governo comunista chinês enviou tanques anfíbios para as praias de Xiamen, na província de Fujian, que ficam a menos de 300 quilômetros de Taiwan (foto). Jornais sensacionalistas britânicos falaram até da possibilidade de uma invasão no estilo do Dia D, quando soldados aliados desembarcaram na costa da Normandia, na Segunda Guerra Mundial, em 1944. Filas de blindados também foram avistadas nas ruas de Fujian. No sábado, os chineses fizeram exercícios militares na costa.
O governo americano não tem nada a ganhar com essa viagem. Tanto é que Joe Biden tentou se distanciar de Pelosi. "Os militares não pensam que isso é uma boa ideia neste momento. Mas eu não sei qual é o status disso", afirmou Biden, no final de julho. O momento de fato é péssimo, porque o governo americano estava buscando afastar a China da Rússia, que iniciou a invasão da Ucrânia em fevereiro (o mesmo motivo estratégico, aliás, levou Henry Kissinger, sob o governo de Richard Nixon, a se aproximar do chinês Mao Tsé-tung, nos anos 1970).
Por ocupar o cargo mais importante no Congresso americano, Pelosi não precisa de autorização do presidente para passear pelo mundo. Ela não representa o Executivo, apenas o Legislativo. O problema é que ditadores e seus súditos não enxergam a separação que existe entre os braços do Estado em uma democracia, muitas vezes porque não a compreendem. Para eles, Pelosi é uma enviada de Biden.
Preocupados com a reação chinesa, diplomatas e militares americanos avisaramseus colegas em Pequim que não se trata de uma ação da Casa Branca e que o escopo da visita é limitado, apenas uma parada breve em uma viagem mais ampla, em que ela passará pela Malásia e Singapura. Ninguém que mexer na doutrina de "uma só China", afirmaram.
Mas nenhum desses argumentos fará com que a China se mostre mais compreensiva e mantenha seus soldados dentro dos quartéis. Pelo contrário. A visita tem tudo para ser aproveitada para uma demonstração de força. O ditador Xi Jinping tentará no final deste ano ganhar mais cinco anos de mandato como presidente e não pode se mostrar fraco diante de uma provocação. É por essa razão que a retórica chinesa dos últimos dias tem sido tão agressiva, com frases dizendo que os americanos "pagarão o preço" ou que os chineses "lutarão até o fim". Os tanques nas praias, portanto, não indicam a preparação de uma invasão e sim uma mensagem ao público interno.
O enigma é entender por que Pelosi decidiu fazer essa viagem mesmo com tantos sinais contrários. De certa forma, existe uma princípio de coerência moral. A deputada tem mantido uma posição crítica à ditadura chinesa há tempos. Em 1991, ela segurou um cartaz em plena Praça da Paz Celestial "para lembrar os que morreram pela democracia na China", nos protestos de 1989. Esse compromisso com a democracia continua. Assim que pousou em Taipei, Pelosi publicou uma nota para a imprensa: “A visita de nossa delegação do Congresso a Taiwan honra o compromisso inabalável dos Estados Unidos em apoiar a vibrante democracia de Taiwan".
Mas não se pode descartar um cálculo político oportunista. Com a provável derrota dos democratas nas eleições legislativas de novembro, os republicanos provavelmente tomarão a liderança das duas casas em breve e esta poderá ser sua última chance de conseguir visitar Taipei como presidente da Câmara.
Chama a atenção o fato de Pelosi não ter dado a mínima para as ponderações da Casa Branca. Talvez ela tenha simplesmente calculado que não há motivos para escutar Biden. Com aprovação de 31%, o presidente não tem como favorecer seus colegas democratas nas eleições e ainda terá dificuldades para se reeleger, se realmente lançar sua candidatura em 2024.
Para Biden, só resta o desânimo. Além de ter de lidar com a Rússia, com a China, com os republicanos e com a ameaça de um retorno de Trump, ele ainda precisa enfrentar os rebeldes de seu próprio partido.
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Comentários (4)
Franco
2022-08-02 21:41:46Uma idiota, essa Dilma Pelosi. Provocar uma crise desnecessária. Acha mesmo que os EU A podem tudo. Acaba se ferrando.
Ivan
2022-08-02 18:15:18Muito boa análise da situação.
Saulo
2022-08-02 16:42:40Pelo si, pelo no, burrice e estu pudez desnecessária.
Thiago
2022-08-02 12:48:30Biden é o presidente mais fraco a pisar na Casa Branca que se tem noticia.