António Guterres, secretário-geral da ONU, mostra a que veio
O cargo de secretário-geral da ONU, renovado a cada cinco anos, tem como uma de suas principais premissas a independência de seu ocupante, que deve zelar pela paz. Contudo, apesar da atenção que recebe por parte da imprensa e de governantes do mundo todo, seus poderes são limitados. O sueco Dag Hammarskjold, que assumiu esse...
O cargo de secretário-geral da ONU, renovado a cada cinco anos, tem como uma de suas principais premissas a independência de seu ocupante, que deve zelar pela paz. Contudo, apesar da atenção que recebe por parte da imprensa e de governantes do mundo todo, seus poderes são limitados. O sueco Dag Hammarskjold, que assumiu esse posto em 1953, disse que a função "é uma espécie de papa secular e, por muito tempo, um papa sem igreja".
Porém, olhando para os que desempenharam essa posição no passado, é fácil constatar que há diferenças entre eles. O sul-coreano Ban Ki-Moon, que deixou o posto em 2016, não assumiu muito protagonismo, a não ser com sua agenda muito focada no aquecimento global. Esta semana, o português António Guterres demonstrou que pode ser de outra cepa. Nesta quinta, 28, ele esteve em Kiev, a capital da Ucrânia, país que está sendo atacado pelas Forças Armadas enviadas pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin.
"A ONU é constantemente criticada por ser pouco eficiente nas crises, mas o que sabemos pelo seu histórico é que essa organização pode ter um papel maior ou menor no mundo, a depender de quem é o secretário-geral. Eles podem ter uma atuação mais protocolar ou, pelo contrário, ser mais atuantes. Guterres felizmente parece se enquadrar nessa segunda categoria", diz o professor de relações internacional Dorival Guimarães Pereira Jr., do Ibmec de Belo Horizonte.
Nesta quinta, Guterres encontrou-se com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, na capital Kiev. Também perambulou pelas cidades ao redor, que foram atingidas pela guerra (foto). Ele visitou valas comuns em Bucha, município que foi palco de massacre de civis por parte dos russos. Também esteve em Irpin, que voltou para as mãos dos ucranianos há poucos dias.
"Onde quer que haja uma guerra, o preço mais alto é pago pelos civis", disse Guterres em Irpin. O secretário-geral afirmou que imaginava a si próprio com sua família tentando fugir de bombardeios contra sua casa, e reiterou a importância de que sejam feitas investigações pelo Tribunal Penal Internacional, o TPI, para apurar as atrocidades. "Quando falamos de crimes de guerra, não podemos nos esquecer que o pior crime é a guerra em si", disse.
O simbolismo da visita é potente. Primeiro, porque evidencia a participação da Rússia nas mortes de ucranianos. Segundo, porque deixa claro o desprezo de Putin pela ordem internacional, representada pela ONU. Assim que a conversa entre Guterres e Zelensky terminou, duas grandes explosões foram ouvidas em Kiev, sinal de que os russos não pararam de atacar a cidade mesmo com a presença do secretário-geral.
Dois dias antes de passar por Kiev, Guterres esteve em Moscou, onde falou diretamente com Putin, ainda que da ponta oposta de uma longa mesa e a metros de distância do anfitrião.
Guterres pediu para que as Forças Armadas russas não atacassem os corredores humanitários e permitissem a saída de civis das áreas de conflito. Trata-se de um tema caro para o secretário-geral, que entre 2005 e 2015 foi o alto-comissário da ONU para os refugiados.
No encontro em Moscou, o secretário-geral também foi incisivo ao não permitir que Putin amenizasse os fatos sangrentos na Ucrânia. Enquanto o Kremlin não admite que há uma guerra em andamento, e sim uma "operação especial", Guterres foi enfático ao dizer que "nós acreditamos que há uma invasão no território da Ucrânia".
A atuação de Guterres dos últimos dias demonstra uma evolução em relação à sua reação inicial, quando 150 mil soldados russos cercaram o território da Ucrânia. Mesmo depois de americanos e europeus afirmarem que Putin preparava uma invasão, Guterres preferiu não acreditar nos avisos. Agora, pressionado por governantes e diplomatas, ele começou a dar as caras.
"Guterres agora está dizendo para a comunidade internacional que não se pode simplesmente fingir que não há nada acontecendo na Ucrânia. Ele claramente está assumindo um protagonismo maior, o que fará com que vejamos a cara da ONU com mais frequência nos conflitos mundiais", diz Guimarães Pereira Jr.
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Comentários (8)
Amaury G Feitosa
2022-04-29 11:31:14O essencial a estupidez fkinge não ver ... a ONU que permite países ricos vetem qualquer coisa em seu favor e sempre contra os mais frágeis se tornou LIXO eu presidente desfiliaria o Brasil desta inutilidade ... djura mas cuekl veradde.
LUIZA
2022-04-29 10:37:54A ONU É MUITO BOA PRA LIBERAR BANDIDOS!
Marcia
2022-04-29 10:33:31Espero que com esse novo secretário-geral da ONU, Guterrez, de fato promovam-se ações concretas em prol do povo que está sofrendo com a guerra. Aproveito para sugerir que parem de meter o dedo onde suas ações em nada acrescentam ao mundo, como o Comitê que julgou Lula um pobre inocente (argh) "judiado" pelo juiz Sérgio MORO. Só serviu para atiçar os políticos irra.cionais deste Brasil, à beira de tornar-se uma DITADURA.
TerezaRegina
2022-04-29 08:02:24Não mostra, não. Apenas pareceu ficar sensibilizado pelos massacres russos, mas nem uma vez nomeou o autor deles, se fazendo de preocupado apenas para a mídia. Não li nenhuma declaração sua sobre a morte, causada por sua presença como uma afronta de Putin, da jornalista ucraniana. O que realmente importa: mudará sua atitude em relação à guerra, ou continuará apaziguando o carniceiro?
Odete6
2022-04-29 02:23:36A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR: PORQUE SERÁ QUE AS MAIORES FORÇAS DE SEGURANÇA DO PLANETA NÃO SE UNEM E ESTRAEM CIRURGICAMENTE ESSE MONSTRO GENOCIDA - putin - EXATAMENTE COMO ESSE TRASTE FAZ COM SEUS DESAFETOS E, COMO O EX-PRESIDENTE BARACK OBAMA - SABIAMENTE NO CASO - FEZ COM O bin laden???? ESSA ABERRAÇÃO RUSSA, REPUDIADA TAMBÉM POR SEU PRÓPRIO POVO, DIZ RESPEITO À PROVIDÊNCIAS EFETIVAS DE TODA A COMUNIDADE PLANETÁRIA!!!
Maria Elisa Botelho Byington
2022-04-29 00:23:15Quando o próprio "filósofo" da Rússia exprime tão claramente os desígnios maléficos de seu "chefe", foi preciso um banqueiro russo fora da Rússia expressar-se claramente e com desprezo extremo pela desastrosa incapacidade das forças militares apesar da destruição atingi, o que está de acordo, como comentou, com o a maneira como próprio país está sendo administrado e conduzido... E o Ocidente conseguirá frear os avanços trágicos e sem limites desse loucoobcecado pelo pais é conduzido.
Hierania Avelino
2022-04-28 22:23:49Ainda bem que Antônio Guterres afirma, que defender a paz, não é defender a impunidade dos criminosos. A sua fala mostra, que carece de credibilidade o relatório do comitê de direitos humanos da própria ONU, que considerou parcial a atuação jurisdicional do juiz: Sérgio Moro. Às vezes, a ONU não quer separar o joio do trigo e produz uma péssima política mundial: condena inocentes e absolve criminosos. Isso por causa da sede pelo poder político e econômico.
JULIANA
2022-04-28 20:14:44Tomara que não seja somente um discurso.