Barroso e ministro da Defesa: chega de furdúncio
Na videoconferência com alunos brasileiros de uma escola de governança em Berlim, feita ontem, o ministro do STF Luís Roberto Barroso (foto), ex-presidente do TSE, afirmou o seguinte, sobre as tentativas de Jair Bolsonaro de desacreditar o processo eleitoral e as suas urnas eletrônicas: "Um desfile de tanques é um episódio com intenção intimidatória. Ataques...
Na videoconferência com alunos brasileiros de uma escola de governança em Berlim, feita ontem, o ministro do STF Luís Roberto Barroso (foto), ex-presidente do TSE, afirmou o seguinte, sobre as tentativas de Jair Bolsonaro de desacreditar o processo eleitoral e as suas urnas eletrônicas:
"Um desfile de tanques é um episódio com intenção intimidatória. Ataques totalmente infundados e fraudulentos ao processo eleitoral. Desde 1996, não tem nenhum episódio de fraude. Eleições totalmente limpas, seguras. E agora se vai pretender usar as Forças Armadas para atacar. Gentilmente convidadas para participar do processo, estão sendo orientadas para atacar o processo e tentar desacreditá-lo. Um fenômeno que, em alguma medida, é preocupante, mas que até aqui não tem ocorrido, mas é preciso estar atento, é o esforço de politização das Forças Armadas. Esse é um risco real para a democracia e aqui gostaria de dizer que, eu que fui um crítico severo do regime militar, militante contra a ditadura nesses 33 anos de democracia, se teve uma instituição de onde não veio notícia ruim foi as Forças Armadas. No Brasil, penso que temos uma história de sucesso, apesar do esforço contínuo de gerar embaraços com a Suprema Corte. Nos Estados Unidos, foram 60 ações para tentar anular eleições, duas chegaram à Suprema Corte (americana) e nenhuma foi acolhida. Cortes constitucionais não têm condições de ganhar briga se lutarem sozinhas. Precisam da sociedade civil. Tenho a firma expectativa que as Forças Armadas não se deixem seduzir por esse esforço de jogá-las nesse universo indesejável para as instituições de Estado, que é o universo da fogueira das paixões políticas. E, até agora, o profissionalismo e o respeito à Constituição têm prevalecido."
Na sua fala, portanto, o ministro Luís Roberto Barroso não fez crítica às Forças Armadas. Fez até elogio. Ele criticou a tentativa reiterada e evidente de Jair Bolsonaro, sem citar o nome do presidente, de politizar o que não deve ser politizado e de atiçar a caserna contra o processo eleitoral. Mas, como era previsível, os bolsonaristas usaram a fala do ministro para bulir com os granadeiros, no que foram ajudados, como era natural, pela imprensa ainda mais sedenta de notícias num domingo pós-feriadão. O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, divulgou, então, uma nota no mesmo domingo, na qual diz:
"Afirmar que as Forças Armadas foram orientadas a atacar o sistema eleitoral, ainda mais sem a apresentação de qualquer prova ou evidência de quem orientou ou como isso aconteceu, é irresponsável e constitui-se em ofensa grave a essas instituições nacionais permanentes do Estado brasileiro. Além disso, afeta a ética, a harmonia e o respeito entre as instituições."
Resultado: há agora um novo furdúncio entre STF e Poder Executivo, como se já não bastasse o caso do deputado Daniel Silveira, condenado a espantosos 8 anos e 9 meses de prisão, além da cassação do mandato, e indultado precocemente, antes de o processo ser finalizado, por Jair Bolsonaro.
Recapitulo o episódio de ontem apenas para dizer que acho que, em Brasília, todo mundo anda falando demais, sem medir as consequências das palavras, sejam elas certas ou erradas. A situação já está suficientemente conflagrada — e tem muita gente apostando no caos —, para que se aumente a temperatura. Está na hora de todos darem um ou mais passos para trás e voltarem para as suas posições estritamente institucionais. Temos uma eleição pela frente e o resultado terá de ser respeitado pelo perdedor, não importa quem seja ele. Jair Bolsonaro não pode deslegitimar a democracia brasileira, mas também não pode ser deslegitimado; Lula igualmente não, já que o STF tratou de anular as suas condenações. Decisão judicial se respeita, por mais que se discorde dela, assim como resultado das urnas. Os poderes precisam dialogar mais, dentro dos limites da Constituição. Do jeito que os embates se sucedem, está-se criando um caldo para que um dos lados possa dedicar-se nos próximos quatro anos a contestar a decisão dos cidadãos em outubro.
Não podemos correr esse risco.
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Comentários (10)
Ana Galdino dos Santos
2022-04-27 00:23:25Enquanto os 3 Poderes perdem tempo discutindo a relação, os problemas reais dos brasileiros vão aumentando.
Daniel Aguiar Silva
2022-04-26 14:47:16Lúcido e preciso!!!
ARNALDO DE MESQUITA BITTENCOURT FILHO
2022-04-26 13:02:05Enquanto essa figura estiver no STF, vamos patinar na lama da mediocridade.
Francisco
2022-04-26 12:43:25Acho que noomento, o maior atentado á democracia parte justamente do STF.
Leonardo De Gouvêa Cerqueira
2022-04-26 12:02:40Só me cabe parabenizá-lo, Sabino, pelo texto sensato e preciso. A escalada desse conflito só tem um fim: a ruptura institucional e nada seria pior para o país do que isso. É preciso lucidez e prudência por parte de nossas lideranças para conter esse processo agora, antes que seja tarde e acabemos por cair sob o peso de um regime autoritário e anti-democrático. A história recente da América Latina está aí para deixar bem claro o risco que estamos correndo.
Alvaro
2022-04-26 11:33:21Dois pesos e duas medidas por parte do articulista. Bolsonaro foi tão irresponsável em suas acusações sem provas contra o sistema eleitoral quanto Barroso ao acusar sem dizer quem e apresentar provas de que as Forças Armadas estão sendo orientadas para desmoralizar as urnas eletrônicas. Ambas as declarações irresponsáveis e belicosas. O mais é passar pano para um dos dois lados, o que lamento.
CARLO
2022-04-26 11:29:01Será que não está na hora de termos uma conflagração real? Será que não chega de sermos esse “povinho” sem sangue nas veias que, como gado, elege pilantras conhecidos como Lul@ ou sequelados como Bolsonaro? Tenho pensado nisso. Ambas as torcidas Lulistas e Bolsonaristas, são toscas e bem representam os candidatos. Penso, quem sabe, que se construa uma história nesse país que não continue nos envergonhando diariamente.
Amaury G Feitosa
2022-04-26 11:20:29Notícias fresquinhas afirmam que o STM tomará atitude diante das graves acusações feitas pelo ministro às forças armadas a meu ver grave crime se não prová-las ... não canso de avisar e pedir juízo e REAFIRMO que isto não acabará bem ... os bombeiros já circulam ... aguardemos.
Amaury G Feitosa
2022-04-26 11:13:11Notícias de última hora dão conta que o STM vai citar Barroso por entender crimes nas acusações feitas às forças armadas .. e não canso de avisar A GUERRA FOI ACEITA e vem muito mais e as atitudes do STF indicam com clareza que isto não terminará bem ... aguardemos.
Osmar
2022-04-26 06:42:22Barroso mais um semideus do STF que acha que manda no país! Quer mandar se candidate a presidente e veja se consegue ser eleito pelo menos a síndico de condomínio! Aliás vc não consegue nem sair na rua pq o bicho pega o mesmo vale pro ladrao que vcs soltaram! Será que vcs não veem que o brasileiro odeiam vcs! O que não acontece com quem trabalhou na lava jato que sao adorados pelo povo. DITADORES do STF!