RuyGoiaba

O meu partido é um coração partido

25.05.18

A última moda entre os partidos brasileiros é tentar fingir que não são partidos. Aqui mesmo em Crusoé, Eduardo Barretto informa que o PPS, ex-pecebão, pretende se repaginar excluindo o “partido” e o “socialista”. Entre as opções em discussão estão nomes como Pacto, Servir e Plural. Vai ver querem aproveitar e já transformar o PPS numa firma de serviços de limpeza.

Há antecedentes. Quando Marina Silva lançou a Rede, todo mundo pensou que era para dar uma ideia de conectividade, redes sociais, velocidade da informação e tal. Hoje sabemos que é aquela peça de tecido que, uma vez estendida e pendurada em duas paredes, acomoda com folga a presidenciável e toda a sua bancada na Câmara (dois deputados).

Também já faz algum tempo que o DEM virou Democratas e o PP, Progressistas, nomes perfeitos para dois grupos descendentes da antiga Arena. E o PMDB dispensou o “P”, supõe-se, para relembrar os velhos tempos em que o regime militar soltava os cachorros em cima do doutor Ulysses – e a sigla (ainda) não era essa cambada de gatos gordos.

É, essencialmente, um golpe publicitário bem parecido com aquela velha campanha que dizia que o Unibanco “nem parece banco” –“nem parece”, mas cobra juros escorchantes iguaizinhos. Os partidos que nem parecem partidos fazem as mesmas negociatas e enfiam o pé na jaca dos fundos eleitoral e partidário. Quem paga é você, otário que continua parecendo otário.

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A GOIABICE DA SEMANA

Nelson Marquezelli, o ruralista de cuecas, é o personagem desta semana: faltou aquela direçãozinha de vídeo básica na mensagem que o deputado gravou em apoio à paralisação dos caminhoneiros.

Não foi esteticamente agradável, mas pelo menos Marquezelli não corre o risco de ser cassado por falta de decoro, como Barreto Pinto ao posar de cuecas para “O Cruzeiro”. E até pode argumentar que não tem nada a esconder dos eleitores.

Nelson Marquezelli e sua gestão transparente (Reprodução)
 

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PHILIP ROTH (1933-2018)

Roth começou irritando os conservadores dos anos 60 (com “O Complexo de Portnoy”) e terminou irritando os neomoralistas de internet. Deixou, além da grande obra, a expressão “êxtase da santimônia”: impossível definição melhor da mediocridade deste nosso tempo ávido por “likes” nas redes sociais.

Foto: Eric Thayer/ReutersFoto: Eric Thayer/ReutersRoth: “Todos trabalham para mudá-los, persuadi-los, tentá-los e controlá-los. Os melhores leitores vêm à ficção para livrar-se desse barulho” (Eric Thayer/Reuters)

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  1. Ruy, entre corações partidos, cuecas e likes, fico com a fruta goiaba, vermelha ou branca. Das antigas: o que é pior que ver um bicho de goiaba na goiaba? Ver meio bicho! Hehehe... Como boa mineira, gosto de goiabada cremosa, de partir, cascão, geleia, suco, romeu e julieta, de lata, de caixeta, como recheio e outras. Ah, e eu não gosto da petralhada, não, viu? Tenho pavor de pimentão, seja verde, amarelo ou vermelho!

  2. Essa coisa de mudar o nome do partido ou tirar o P deve funcionar...coisa mais bizarra como eleger Dilma,ou reeleger Renan, Jucá, Sarney entre outros funcionaram ,né?!

  3. Ruy Goiaba, colunista responsável pela coluna mais sincrética do atual jornalismo brasileiro. Fundindo com sagaz perspicácia, os eventos mais importantes de nosso tempo. Permite um momento de relaxamento diante do quadro actual e factual deprimente de nosso estado enquanto nação. Por enquanto, acampamento. Ou melhor, amontoado de gente.

  4. Amei a “Rede” que bem acomoda os dois deputados e, ainda, de 4 em 4 anos a ilustre, a superior, a “cara fechada” candidata.

  5. Essa troca de siglas, parece que querem enganar a nos, ótarios de sempre, temos que estar atentos porque os jogadores são os mesmos com outra camiseta, doidos para participar da Libertadores da América.

  6. Goiaba, o Partido Novo é um partido que se orgulha de ser um partido. Será mais do que um partido - será uma grife, uma marca do qual cada militante se orgulhará e será identificado pela população como sinônimo de excelência. Amém.

    1. Ando tão desconfiada que não consigo acreditar 100% em mais ninguém. Nem que o Novo será sinônimo de excelência... depois do desencanto com o PT, só acredito vendo.

  7. Tristeza pela perda de Philip Roth. Um certo "prezidiáriu" de Curitiba vai tomar umas dose de 51 em homenagem à partida de seu "ex-desafeto "...

  8. Tristeza pela perda de Phillip Roth. Um certo prisioneiro ( " prizionêro") em Curitiba vai tomar umas doses de 51 para comemorar. ..

  9. Só o Ruy me faz rir "às bandeiras despregadas" neste lugar perdido chamado Brasil. Parabéns Crusoé por este colunista maravilhoso, essencial e arejado neste "ar do tempo" viciado e poluído que respiramos.

  10. O comentário sobre a "rede" foi muito bom. Um partido com 2 deputados e que faz um barulho danado...tem espaço na mídia, etc. Isso é Brasil!

  11. Gostei muito da coluna, baita análise sobre essa enganação de mudança de nomes dos partidos. Legal que estava na nossa cara e eu não tinha me tocado. Valeu, abraço

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