Adriano Machado/CrusoéPara Santos Cruz, Bolsonaro

A queda do general

Alvo de guerra interna, Santos Cruz é demitido por Jair Bolsonaro. Saída do militar fortalece ala ligada ao filho do presidente
14.06.19

O general Carlos Alberto dos Santos Cruz defendia o ministro da Justiça, Sergio Moro, em uma entrevista no Senado no final da manhã desta quinta-feira, 13, quando precisou parar de responder e sair a passos rápidos rumo ao Palácio do Planalto. Ele não sabia, mas aquelas haviam sido suas últimas declarações públicas como ministro da Secretaria de Governo. O presidente Jair Bolsonaro, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, o haviam chamado para demiti-lo. A confirmação da demissão saiu por volta das 18 horas, em uma declaração do porta-voz da Presidência, o general Otávio do Rêgo Barros. Minutos depois, foi distribuída uma carta de agradecimento escrita por Santos Cruz, na qual ele fazia questão de deixar claro que deixar o governo não foi opção sua, mas do presidente.

“Ele perdeu a briga”, disse a Crusoé uma fonte do Planalto, em uma clara referência às disputas que o general travou nos pouco mais de cinco meses que ficou no cargo. O período foi suficiente para deixá-lo em um processo permanente de fritura. Bolsonaro já queria mandá-lo embora há pelo menos um mês, mas foi contido pela cúpula militar do governo. Desde a posse, avaliava a turma da farda, Santos Cruz era um símbolo do novo modelo de relacionamento que o Planalto pretendia ter com o Congresso e com a sociedade. Cuidava desde a articulação política e a liberação de emendas parlamentares até a gestão do bilionário Programa de Parcerias de Investimentos, o PPI.

Mas a relação de mais de três décadas dele com o presidente só se deteriorava. E passou a esfriar ainda mais a partir do momento em que o ministro considerou que Bolsonaro não o defendeu à altura dos ataques do escritor Olavo de Carvalho e de seus seguidores nas redes sociais, os chamados olavetes. Os xingamentos foram pesados. Olavo o chamou de “bosta engomada”. Coube aos outros militares no topo do governo, como o vice-presidente, Hamilton Mourão, e o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas, fazer a defesa do general, o que acabou por também torná-los alvos da fúria do escritor e de seus discípulos.

A capa de Crusoé de 17 de maio: jogo de intrigas no palácio
A razão da discórdia entre o guru e Santos Cruz era o rumo da área de comunicação do governo. A Secretaria de Comunicação, subordinada à Secretaria de Governo de Santos Cruz, era controlada no início por indicados de Carlos Bolsonaro, filho do presidente e seguidor de Olavo. Carlos, inicialmente, indicou Floriano Amorim para o posto. Militares pediram sua cabeça por considerá-lo amador e por entender que ele privilegiava as redes sociais em detrimento da grande mídia. Chegaram, inclusive, a apontar esses problemas entre os motivos da queda de popularidade do presidente. Bolsonaro topou trocar Amorim. Pôs no lugar dele o empresário Fabio Wajngarten, um antigo conhecido alinhado ao ideário de Olavo de Carvalho. Muito próximo às cúpulas de canais de televisão como Rede TV!, Record e SBT, Wajngarten assumiu a Secom com a intenção de profissionalizá-la. Mas seu santo não bateu com o de Santos Cruz, a quem a Secom estava subordinada.

Wajngarten considerava que o general limitava recursos para a publicidade estatal. Para a campanha da reforma da Previdência, por exemplo, Wajngarten queria 80 milhões de reais, Santos Cruz deu 40 milhões de reais. O conflito fez com que uma guerra surda se instalasse no Planalto. Para os olavetes, os militares querem boicotar o governo para que eles mesmos assumam a Presidência. Para os militares, os olavetes são radicais que dificultam consensos e criam crises permanentes no governo. O clima foi piorando. A ponto de Wajngarten levar a Bolsonaro, como revelou Crusoé em uma reportagem de capa, a cópia de uma troca de mensagens de WhatsApp atribuída a Santos Cruz na qual o militar supostamente criticava o presidente. Assessores palacianos se esforçaram para colocar panos quentes na confusão. Santos Cruz negou ter escrito as mensagens. Mas ali Bolsonaro já tinha decidido que era preciso demiti-lo. O general é o segundo ministro palaciano em rota de colisão com Olavo de Carvalho e seus seguidores a deixar o posto por decisão do presidente — o primeiro foi Gustavo Bebianno, em fevereiro.

Não demorou para que o substituto de Santos Cruz fosse anunciado. Na verdade, ele já estava escolhido. Desde que decidiu, semanas atrás, demitir Santos Cruz, o presidente já tinha começado a tratar, na surdina, da sucessão. Queria um outro militar no lugar, tanto para evitar atritos com as Forças Armadas como para mostrar que o ideário de probidade que levou o demitido ao cargo seria mantido. Chegou, então, ao nome de Luiz Eduardo Ramos, um general da ativa, chefe do Comando Militar do Sudeste. Bolsonaro e Ramos se conhecem há 46 anos. Foram da mesma turma na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em 1973. A tensão no Planalto, contudo, pode continuar. Assim como Santos Cruz, o novo ministro também é crítico de Olavo de Carvalho.

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