DiogoMainardina ilha do desespero

Ninguém aqui é prudente

14.06.19

Eu sei que é mais prudente, antes de sair em defesa da Lava Jato, esperar o vazamento do novo lote de mensagens roubadas a Sergio Moro e Deltan Dallagnol. Mas eu não sou prudente. Nunca fui. E não aceito submeter-me à chantagem do Intercept, que promete traficar sua mercadoria ilícita em doses semanais, de papelote em papelote.

A Lava Jato foi a melhor coisa que aconteceu no Brasil. Voltei a fazer jornalismo, com O Antagonista, só por causa dela. Acompanhei os inquéritos curitibanos em todos os seus detalhes. Eu sei como a PF e os procuradores trabalham. Eu sei como Sergio Moro trabalha. Eles jamais usariam mensagens roubadas por um hacker para condenar um corrupto, por exemplo.

Animado com a possibilidade de inocentar Lula, Gilmar Mendes defendeu o uso de provas ilegais para tirá-lo da cadeia. O argumento é nauseabundo. Em primeiro lugar, Lula não é inocente. Em segundo lugar, as provas ilegais não são provas, porque ninguém periciou os arquivos roubados para atestar sua autenticidade. Em terceiro lugar, não há nada de ilegal – nada – nas conversas editadas pelo site. É claro que, para desbaratar o maior esquema criminoso de todos os tempos, os integrantes da Lava Jato precisavam coordenar seus movimentos. Foi o que eles fizeram, mandando para a cadeia os homens mais poderosos do Brasil.

O STF e o Congresso Nacional, brandindo as mensagens roubadas, agora se preparam para enterrar a Lava Jato. Mais do que isso: eles querem impedir que outra Lava Jato possa surgir no futuro, acabando, entre outras coisas, com a prisão dos condenados em segunda instância. O cálculo vigarista só desconsidera um detalhe: depois do atordoamento inicial, as pessoas vão sair às ruas, porque elas não vão aceitar caladas o golpe contra a Lava Jato. E como ninguém aqui é prudente, o Brasil tem tudo para explodir.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
Mais notícias
Assine agora
TOPO