O socialista no caminho
O pré-candidato democrata Bernie Sanders, de 78 anos, é pelos números atuais o mais provável adversário do presidente Donald Trump nas eleições de novembro. Sanders foi o vencedor da eleição primária do Partido Democrata em New Hampshire na terça, 11, com 26% dos votos. Uma semana antes, com a mesma fatia de votos, ele empatou com Pete Buttigieg nas primárias de Iowa. Na média das pesquisas eleitorais, Sanders tem 24%, quatro pontos percentuais à frente do segundo colocado, Joe Biden, em queda nas pesquisas.
O temor entre muitos moderados é que, se os delegados do Partido Democrata referendarem, na convenção de julho, o nome de Bernie Sanders para a disputa com Trump, o partido estaria enterrando o seu futuro próximo e distante. Sanders teria poucas chances de vencer o atual presidente e ainda é acusado de jogar contra o Partido Democrata.
O mais velho pré-candidato democrata, que teve um ataque cardíaco no ano passado, é apoiado principalmente por jovens. Trata-se do “Paradoxo Sanders”. Segundo uma pesquisa da Pew Research, 40% de todos os eleitores com menos de trinta anos aplaudem o senador. Eles estão insatisfeitos com o establishment democrata e clamam por mudanças radicais. Sanders encanta esse público dizendo-se um “socialista democrático”. Promete acabar com as dívidas estudantis e dar educação e assistência de saúde gratuita para todos — como se houvesse almoço de graça. Também apoia o Green New Deal, um projeto apresentado pela ala mais radical do partido para transformar a economia americana a partir de bases ecológicas — outro tema caro aos mais novos.
A esperança dos democratas moderados está no fato de que não são os jovens que definem as eleições nos Estados Unidos. “O apoio ao socialismo pode até ser alto entre a juventude, mas os eleitores mais velhos são em muito maior número, e eles costumam comparecer às urnas em maior porcentagem”, diz o cientista político Bruce Miroff, da Universidade de Albany, que estuda o processo eleitoral americano. “É por isso que o time de Trump parece querer Sanders como opositor em novembro.”
Os eleitores mais velhos torcem o nariz para o radicalismo de Sanders. Eles estão satisfeitos com seus planos de saúde privados e temem perder o direito com o “Medicare for All”, a expansão pública do atendimento médico. Também se preocupam com os altos custos que os programas de Sanders poderiam gerar, com o consequente impacto nas contas nacionais.
A vitória de Sanders nas primárias democratas tem potencial para assustar até mesmo independentes que se inclinaram para o Partido Democrata recentemente. “Durante o governo de Trump, muitos eleitores mais ricos que vivem nos subúrbios passaram a votar em democratas por rejeitarem o estilo combativo do presidente”, observa o cientista político americano John Miles Coleman, da Universidade da Virgínia. “Esses eleitores poderiam se afastar do partido com a proposta de aumentar os impostos dos mais ricos.”
Até a convenção partidária em julho, as prévias acontecerão em todos os estados. Caso Sanders se firme na dianteira, a maior parte dos eleitores democratas ganhará mais uma preocupação. Além de encontrar um nome para vencer Trump, eles precisarão de alguém para frear Sanders – o multimilionário Michael Bloomberg, que ainda entrará na corrida democrata, apresenta-se como uma alternativa. “É bem provável que muitos eleitores democratas acabem se unindo em torno de um pré-candidato anti-Bernie”, diz o cientista político americano Seth McKee, da Universidade Tecnológica do Texas. “Sanders realmente é um radical, mas a maioria dos eleitores não é.”
Na quinta-feira, 13, o site de estatísticas do New York Times, FiveThirtyEight (538 é o número de delegados no Colégio Eleitoral americano), dava que a probabilidade de nenhum pré-candidato conseguir a maioria dos delegados na convenção do partido era de 2 em 5. Bernie Sanders teria chance igual, de 2 em 5. Todos os demais candidatos, somados, disputariam com chance de 1 em 5 de obter a maioria dos delegados.
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