Matt AJSanders: o pré-candidato que se diz "socialista democrático" assusta os independentes ricos

O socialista no caminho

Bernie Sanders seduz os jovens americanos, mas a sua candidatura pode prejudicar os democratas na corrida presidencial
14.02.20

O pré-candidato democrata Bernie Sanders, de 78 anos, é pelos números atuais o mais provável adversário do presidente Donald Trump nas eleições de novembro. Sanders foi o vencedor da eleição primária do Partido Democrata em New Hampshire na terça, 11, com 26% dos votos. Uma semana antes, com a mesma fatia de votos, ele empatou com Pete Buttigieg nas primárias de Iowa. Na média das pesquisas eleitorais, Sanders tem 24%, quatro pontos percentuais à frente do segundo colocado, Joe Biden, em queda nas pesquisas.

O temor entre muitos moderados é que, se os delegados do Partido Democrata referendarem, na convenção de julho, o nome de Bernie Sanders para a disputa com Trump, o partido estaria enterrando o seu futuro próximo e distante. Sanders teria poucas chances de vencer o atual presidente e ainda é acusado de jogar contra o Partido Democrata.

O mais velho pré-candidato democrata, que teve um ataque cardíaco no ano passado, é apoiado principalmente por jovens. Trata-se do “Paradoxo Sanders”. Segundo uma pesquisa da Pew Research, 40% de todos os eleitores com menos de trinta anos aplaudem o senador. Eles estão insatisfeitos com o establishment democrata e clamam por mudanças radicais. Sanders encanta esse público dizendo-se um “socialista democrático”. Promete acabar com as dívidas estudantis e dar educação e assistência de saúde gratuita para todos — como se houvesse almoço de graça. Também apoia o Green New Deal, um projeto apresentado pela ala mais radical do partido para transformar a economia americana a partir de bases ecológicas — outro tema caro aos mais novos.

Reprodução/redes sociaisReprodução/redes sociaisO “Paradoxo Sanders”: aos 78 anos, o preferido dos jovens
Mais da metade desses jovens cultiva uma visão positiva do socialismo. Eles se incomodam com a desigualdade social e nutrem um ressentimento contra aqueles que já conquistaram seu espaço. Sanders promete elevar os impostos para os mais ricos. Esse é, aliás, mais um de seus paradoxos. Com os direitos autorais de três livros, investimentos imobiliários e o salário como congressista, ele acumulou 2,5 milhões de dólares em patrimônio. É parte de uma exclusivíssima faixa da população americana, o 1% que mais concentra riquezas no país – a mesma elite que promete combater.

A esperança dos democratas moderados está no fato de que não são os jovens que definem as eleições nos Estados Unidos. “O apoio ao socialismo pode até ser alto entre a juventude, mas os eleitores mais velhos são em muito maior número, e eles costumam comparecer às urnas em maior porcentagem”, diz o cientista político Bruce Miroff, da Universidade de Albany, que estuda o processo eleitoral americano. “É por isso que o time de Trump parece querer Sanders como opositor em novembro.”

Os eleitores mais velhos torcem o nariz para o radicalismo de Sanders. Eles estão satisfeitos com seus planos de saúde privados e temem perder o direito com o “Medicare for All”, a expansão pública do atendimento médico. Também se preocupam com os altos custos que os programas de Sanders poderiam gerar, com o consequente impacto nas contas nacionais.

A vitória de Sanders nas primárias democratas tem potencial para assustar até mesmo independentes que se inclinaram para o Partido Democrata recentemente. “Durante o governo de Trump, muitos eleitores mais ricos que vivem nos subúrbios passaram a votar em democratas por rejeitarem o estilo combativo do presidente”, observa o cientista político americano John Miles Coleman, da Universidade da Virgínia. “Esses eleitores poderiam se afastar do partido com a proposta de aumentar os impostos dos mais ricos.”

Tia Dufour/The White HouseTia Dufour/The White HouseTrump: para sua equipe, o democrata “socialista” seria o melhor rival
A desconfiança com Sanders dentro do Partido Democrata tem como base não apenas as propostas do senador, mas também suas ações. O senador, festejado pela esquerda brasileira (não faz muito tempo, ele se alinhou à turma que considera Lula injustiçado), até hoje não se filiou oficialmente à agremiação. É um independente buscando liderar o partido. Sanders não é visto como alguém que trabalha para o resto do time. Em disputas regionais, ele escolhe seus próprios candidatos, ignorando a linha partidária. Seus apoiadores chiaram quando a presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, deu a largada ao processo de impeachment contra Trump em setembro. Para eles, Pelosi estava querendo prejudicar o senador na campanha das primárias, obrigando-o a ficar enfurnado no Congresso, em Washington.

Até a convenção partidária em julho, as prévias acontecerão em todos os estados. Caso Sanders se firme na dianteira, a maior parte dos eleitores democratas ganhará mais uma preocupação. Além de encontrar um nome para vencer Trump, eles precisarão de alguém para frear Sanders – o multimilionário Michael Bloomberg, que ainda entrará na corrida democrata, apresenta-se como uma alternativa. “É bem provável que muitos eleitores democratas acabem se unindo em torno de um pré-candidato anti-Bernie”, diz o cientista político americano Seth McKee, da Universidade Tecnológica do Texas. “Sanders realmente é um radical, mas a maioria dos eleitores não é.”

Na quinta-feira, 13, o site de estatísticas do New York Times, FiveThirtyEight (538 é o número de delegados no Colégio Eleitoral americano), dava que a probabilidade de nenhum pré-candidato conseguir a maioria dos delegados na convenção do partido era de 2 em 5. Bernie Sanders teria chance igual, de 2 em 5. Todos os demais candidatos, somados, disputariam com chance de 1 em 5 de obter a maioria dos delegados.

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