LeandroNarloch

Greta Thunberg precisa ler este livro

13.12.19

O fato de Greta Thunberg ser a personalidade do ano da revista Time diz menos sobre ela e mais sobre o ano. Não é lisonjeiro para 2019 ter sido marcado por uma adolescente de discurso apocalíptico, radicalismo religioso e propostas equivocadas para a preservação do meio ambiente.

Mas deixem a revista Time no seu canto — melhor falar sobre o grande equívoco ambiental de Greta e dos movimentos que a apoiam, como o Extinction Rebellion. Eles defendem menos produção e consumo como forma de evitar mais devastação do meio ambiente. “Use menos. Viaje menos. Produza menos. Importe menos. Consuma menos”, diz uma mensagem do grupo.

Essa recomendação é herdeira do degrowth, “decrescimento”, corrente dos anos 1970 que recomendava menos atividade econômica para poupar a natureza. Como disse em 2007 o ambientalista George Monbiot: “Tragam a recessão.”

Não é uma proposta razoável nem necessária. É difícil convencer os 700 milhões de miseráveis do planeta — além de outros bilhões que já saíram da extrema pobreza, mas gostariam de enriquecer um pouco mais — de que precisamos de menos carros, móveis, eletrodomésticos, viagens ou alimentos.

Queiram os ambientalistas ou não, essas pessoas não torcem por recessão — querem ficar na fila das Lojas Americanas para aproveitar a promoção da Black Friday.

A chave não é deixar de produzir ou consumir, mas fazer o crescimento da economia se dissociar da devastação ambiental. Parece mágica, mas isso já está acontecendo.

É o que diz o pesquisador do MIT Andrew McAfee, no excelente livro More from Less, lançado em outubro. Em quase toda a história, mais prosperidade significa mais exploração de recursos naturais. Hoje, porém, a inovação e a tecnologia nos tornam capazes de produzir mais utilizando menos recursos e causando menos impacto ambiental.

Uma lata de refrigerante usa hoje 14 gramas de alumínio — seis vezes menos do que em 1994. Os carros, mais leves, consomem metade do combustível do que em 1975. Por causa de todo esse aumento de eficiência, os países desenvolvidos estão usando menos commodities (com a exceção importante do plástico). Em 2015, os americanos consumiram 32% menos alumínio, 40% menos cobre e 15% menos aço do que em 2000 (e isso contando importações). Entre 2008 e 2017, enquanto a economia americana cresceu 15%, o consumo de energia caiu 2%.

O Brasil tem exemplos excelentes dessa mágica. Desde 1980, a produção de arroz aumentou 43%, mas a área destinada a esse cultivo caiu 70%. Os agricultores brasileiros produzem hoje 582% mais algodão, 274% mais feijão, 257% mais trigo por hectare do que em 1980. Por causa da mecanização do campo, dos fertilizantes, defensivos agrícolas e espécies selecionadas, produzimos mais em menos espaço.

“Não precisamos puxar o volante da economia e da sociedade para outra direção; precisamos somente pisar no acelerador”, diz McAfee. Só a tecnologia e a inovação conseguem aliar fim da pobreza, prosperidade e preservação ambiental.

É esse tipo de visão realista e otimista que a personalidade do ano da revista Time deveria conhecer.

Leandro Narloch é jornalista e autor do 'Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil'.

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