RuyGoiaba

La garantia é nóis

13.03.20

Acordo com a frase “dólar a cinco” martelando obsessivamente na minha cabeça, quase em ritmo de marchinha de Carnaval (“com pandeiro ou sem pandeiro, ê-ê-ê-ê, eu brinco/ dólar a cinco, dólar a cinco”). Em seguida, entro num dos meus grupos de internet — solução ideal para quem não gosta de conviver presencialmente com pessoas; graças ao novo coronavírus, a gente pode conviver ainda menos — e um amigo me repassa uma notícia da GloboNews: com o real despencando, os paraguaios estão aproveitando para fazer compras em Mato Grosso do Sul. Ou seja, a rota habitual dos sacoleiros se inverteu: mais um pouco e o câmbio fica na medida para eles levarem o estado inteiro.

E então me dei conta: após décadas de esforço, enfim viramos o Paraguai do Paraguai, um über-Paraguai. A prisão de Ronaldinho Gaúcho no país vizinho foi um sinal: o gênio do futebol conseguiu ser pego com um passaporte paraguaio falso num país em que brasileiro nenhum precisa de passaporte para entrar. Só comprova que o vasto know-how brasileiro em malandragem e gambiarra não se atualizou, ficou obsoleto, já não é convincente nem no Paraguai. No momento em que escrevo, o “Bruxo” ainda está em cana — e até agora não apareceu nenhum Gilmar Mendes para mandar soltar. Um país sério, vejam só.

Aliás, estamos sendo justos com o país de Roque Santa Cruz, Larissa Riquelme e Perla? No fundo, o Bananão sempre foi muito mais paraguaio que o país do uísque escocês produzido nas highlands ali pertinho de Pedro Juan Caballero. Nossas “instituições que funcionam normalmente” são paraguaias. Nossos eleitores AMAM se deixar enganar por falsificações. Nossos políticos, do presidente ao último dos vereadores de Ponta Porã, são tão confiáveis como uma nota de R$ 3 (neste momento, equivalente a uns 60 centavos de dólar). E nada nos resume tão bem quanto Tiririca, o deputado, cantando “índia, seus cabelos” em looping: o Brasil é um Paraguaizão atolado, com as rodas girando em falso no mesmo lugar. Não é la garantia soy yo: agora, a garantia é nóis.

A solução óbvia seria a vingança de Solano López: o Paraguai anexando o Bananão, o que deixaria o Mercosul mais enxuto, reduzido a um trio (se bem que o ideal mesmo seria os uruguaios também anexarem a Argentina), e de lambuja nos daria algumas Libertadores a mais. Mas os paraguaios já devem ter problemas suficientes. Uma vez que não deve existir mais Europa depois da turnê do coronavírus, vou me informar sobre o que é preciso fazer para obter cidadania paraguaia. Espero que baste saber de cor a letra de “Índia”.

(Colar foto de goiaba no passaporte do Ronaldinho está fora de questão.)

***

A GOIABICE DA SEMANA

A produção de goiabices na semana que passou foi ainda maior que a vertiginosa queda da Bolsa, com destaque para a fantástica história dos “fraudadores de eleição” que perderam no primeiro e no segundo turno e, aparentemente, só fraudaram para dar ao processo eleitoral mais adrenalina, emoção, sei lá.

Mas os campeões desta vez têm de ser Jair Bolsonaro — o mesmo que falou das tais fraudes — e seu secretário de comunicação, Fabio Wajngarten. O primeiro, por dizer que a “pequena crise” do novo coronavírus é “mais fantasia” e não isso tudo que a mídia propaga, talquei?; o segundo, por atribuir à “banda podre” da imprensa sua suspeita de coronavírus, que acabou confirmada no dia seguinte.

Como Wajngarten esteve com Bolsonaro e com Donald Trump recentemente, existe o risco de que tenha feito um strike nos dois presidentes. Posso apostar que, no esgoto da internet, já tem algum teórico da conspiração dizendo que o vírus é de esquerda — aquelas mortes todas na China foram só para despistar.

Álvaro Garnero, Mike Pence, Trump e Wajngarten, os 4 cavaleiros do coronavírus

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